Pressão dos EUA contra Huawei no 5G independe de democratas ou republicanos, diz autoridade
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) – A pressão dos Estados Unidos para evitar a expansão dos negócios da chinesa Huawei [HWT.UL] na área de 5G pelo mundo independente do partido que estiver no governo norte-americano, afirmou nesta quarta-feira o subsecretário de Estado dos EUA para Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente, Keith Krach.
O subsecretário representa o governo do presidente Donald Trump, um republicano, que se recusa a reconhecer a derrota para o democrata Joe Biden na eleição da semana passada, apesar de Biden ter sido declarado vencedor após projeções mostraram que ele somou os votos necessários no Colégio Eleitoral para conquistar a Presidência.
“Esse assunto relacionado ao Partido Comunista Chinês é o mais unificador, bipartidário para os dois lados, tanto para republicanos quanto para democratas. Isso não vai mudar de jeito nenhum”, afirmou Krach em conversa com jornalistas em Brasília.
“Os dois lados entendem o significado estratégico do 5G e as implicações que isso tem. É uma enorme mudança de tecnologia e republicanos e democratas entendem que a Huawei é a mais importante empresa para a China, é uma extensão do braço de vigilância do Estado chinês.”
Krach garantiu que o tema tem consenso entre os dois lados e que uma transição pacífica de poder é crucial para a democracia — mesmo sem citar as eleições norte-americana ou o presidente eleito Joe Biden, já que Trump ainda não admitiu a derrota.
Sob o comando de Trump, o governo norte-americano aumentou a pressão sobre o Brasil para evitar a entrada da empresa de tecnologia chinesa no fornecimento de equipamentos de 5G para o país.
Em outubro, durante a visita do diretor sênior para o Hemisfério Ocidental do Conselho Nacional de Segurança (NSC, na sigla em inglês), Joshua Hodges, o governo norte-americano passou a falar inclusive em financiar as empresas brasileiras do setor desde que não adquirissem equipamentos da Huawei.
Dessa vez, Krach, que teve diversas reuniões com representantes do governo brasileiro –incluindo o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno– concentrou a pressão no programa Clean Network (Rede Limpa), que o governo norte-americano tenta espalhar pelo mundo, com princípios para impedir o uso indiscriminado de dados de clientes e que, em sua base, visa impedir o crescimento dos chineses nessa área.
Krach comemorou a adesão do Brasil ao Clean Network como o 51º país a participar e o primeiro da América Latina.
A declaração brasileira, no entanto, é mais vaga do que o que foi vendido pelo subsecretário norte-americano.
“O Brasil apoia os princípios contidos na proposta do Clean Network feita pelo EUA, inclusive na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), destinados a promover, no contexto do 5G e outras novas tecnologias, um ambiente seguro, transparente e compatível com os valores democráticos e liberdades fundamentais”, disse o secretário de Negociações Bilaterais e Regionais nas Américas, embaixador Pedro Miguel Costa e Silva, depois do encontro com Krach no Itamaraty.
O apoio aos princípios, no entanto, não obriga o Brasil a, por exemplo, bloquear a participação da Huawei no processo de instalação do 5G no país. Apesar do presidente Jair Bolsonaro se alinhar com os EUA –pelo menos durante o governo Trump–, a decisão ainda não foi tomada.
Em sua fala a jornalistas e empresários, Krach trouxe também algumas advertências e fez questão de ressaltar que comprar equipamentos chineses seria uma ameaça para a segurança nacional do Brasil e também diminuiria a confiança de empresários estrangeiros no país.
“Compramos de quem confiamos, investimos em quem confiamos”, afirmou.
Antes, em uma fala transmitida por internet a empresários, repetiu aos ataques à China.
“Essa história sobre o Partido Comunista chinês é o elefante na sala que ninguém quer falar. É uma ameaça real e urgente para democracias como as nossas”, afirmou. “Eles estão tentando exportar um modelo ditatorial com essas ferramentas de vigilância. É uma extensão daquele modelo orwelliano 1984 de Big Brother.”
Em uma postagem no Twitter citando parte das declarações do subsecretário, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, criticou duramente a autoridade norte-americana.
“Cheio de mentiras! Desavergonhado! As mentiras já são a figura dos oficiais do Departamento do Estado do governo dos EUA, que agora com suas próprias ações está ensinando ao mundo inteiro qual é o modelo e a forma da ‘democracia americana'”.
(Reportagem adicional de Ricardo Brito)