Presidente da Ucrânia fala em "nova cortina de ferro" após primeiro dia de ataques

Publicado em 24 fev 2022, às 21h12. Atualizado em: 25 fev 2022 às 11h15.

KIEV/MARIUPOL, Ucrânia (Reuters) – Forças ucranianas enfrentavam invasores russos em três frentes nesta quinta-feira (24), depois que Moscou realizou uma invasão por terra, mar e ar no maior ataque a um Estado europeu desde a Segunda Guerra Mundial, provocando a fuga de dezenas de milhares de pessoas de suas casas.

Após o presidente russo, Vladimir Putin, anunciar o ataque em um discurso televisionado antes do amanhecer, explosões e tiros foram ouvidos durante toda a manhã em Kiev, uma cidade de 3 milhões de pessoas, e em outros pontos do país, com ao menos 70 pessoas mortas, segundo relatos.

O ataque trouxe um fim calamitoso para semanas de esforços diplomáticos infrutíferos dos líderes ocidentais para evitar a guerra.

“Este é um ataque premeditado”, disse o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a repórteres na Casa Branca, ao anunciar novas sanções coordenadas com aliados. “Putin é o agressor. Putin escolheu esta guerra. E agora ele e seu país vão arcar com as consequências.”

Um assessor do gabinete presidencial ucraniano afirmou que as forças russas capturaram a antiga usina nuclear de Chernobyl, a apenas 90 quilômetros ao norte da capital, e o aeroporto Hostomel, na região de Kiev.

Pesadas trocas de tiros também estavam ocorrendo nas regiões de Sumy e Kharkiv, no nordeste, e Kherson e Odessa, que abriga uma cidade populosa e o porto marítimo mais importante da Ucrânia, no sul.

A rodovia que sai de Kiev para oeste ficou congestionada, com cinco pistas lotadas de moradores em fuga, com medo de bombardeios enquanto estavam presos em seus carros.

A agência de refugiados da ONU disse que cerca de 100.000 ucranianos fugiram de suas casas e que vários milhares cruzaram para países vizinhos, principalmente Romênia e Moldávia.

“Nova cortina de ferro”

O dia começou com mísseis caindo sobre alvos ucranianos e autoridades relatando colunas de tropas cruzando as fronteiras vindas da Rússia e de Belarus ao norte e leste, e desembarques nas costas do sul a partir do Mar Negro e do Mar de Azov.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, pediu aos ucranianos que defendam seu país e disse que armas seriam dadas a qualquer um que esteja preparado para lutar.

“O que ouvimos hoje não são apenas explosões de mísseis, combates e o estrondo de aeronaves. Este é o som de uma nova Cortina de Ferro, que está fechando a Rússia do mundo civilizado”,

afirmou Zelenskiy.

Em seu discurso, Putin disse que ordenou “uma operação militar especial” para proteger pessoas, incluindo cidadãos russos, submetidos a “genocídio” na Ucrânia –uma acusação que o Ocidente chama de propaganda infundada.

“E para isso lutaremos pela desmilitarização e desnazificação da Ucrânia”, disse Putin.

Depois de se referir no início de seu discurso ao poderoso arsenal nuclear da Rússia, ele também alertou: “Quem tentar nos impedir… deve saber que a resposta da Rússia será imediata. E isso levará a consequências que você nunca viu em sua história.”

O ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, disse mais tarde que Putin deveria entender que a Otan também é uma aliança nuclear. Biden descartou o envio de tropas dos EUA para defender a Ucrânia, mas Washington reforçou seus aliados da Otan na região com tropas e aviões extras.

Depois de consultar colegas do grupo dos sete principais países industrializados, Biden anunciou medidas para impedir a capacidade da Rússia de fazer negócios nas principais moedas do mundo, juntamente com sanções contra bancos e empresas estatais.

O Reino Unido também mirou bancos, e líderes da União Europeia disseram que as medidas incluem o congelamento de ativos russos no bloco de 27 países, a interrupção do acesso dos bancos aos mercados financeiros europeus e o ataque aos “interesses do Kremlin”.

A Rússia é um dos maiores produtores de energia do mundo, e tanto ela quanto a Ucrânia estão entre os maiores exportadores de grãos. A guerra e as sanções perturbarão as economias em todo o mundo que já enfrentam uma crise de abastecimento à medida que saem da pandemia de coronavírus.

Por Natalia Zinets e Aleksandar Vasovic

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