Por que os partidos querem mais mulheres nas eleições?
Raramente vemos grupos ou partidos políticos se unindo em iniciativas que não tenham benefícios imediatos para si. Pelo contrário, o mais comum são atitudes individualistas, o famoso “cobra comendo cobra”. Por isso, o fato reportado aqui no portal RICMAIS de que 7 partidos teriam se unido em Maringá para fazer o lançamento conjunto de candidaturas de mulheres para a Assembleia Legislativa e Câmara Federal causa estranheza, ainda mais se olharmos a amplitude do espectro ideológico dos partidos envolvidos – perpassando o PP, o PT e contemplando até o PC do B.
Para analisar melhor essa situação me permitam apresentar alguns dados.
As mulheres representavam, tanto em 2018 quanto agora em 2022, mais de 52% do eleitorado apto a votar aqui no Paraná, mas o percentual de votos ou candidaturas está longe de refletir essa maioria. Veja as tabelas abaixo:
Cargo: deputado estadual (PR)
Tabela 1 – votos
VOTOS | QUANTIDADE |
Votos nominais | 4.852.937 (100%) |
Votos em mulheres | 462.805 (9.5%) |
Tabela 2 – candidaturas
CANDIDATURAS | QUANTIDADE |
Candidaturas totais | 767 (100%) |
Candidaturas de mulheres | 239 (31%) |
Cargo: deputado federal (PR)
Tabela 3 – votos
VOTOS | QUANTIDADE |
Votos nominais | 5.390.730 (100%) |
Votos em mulheres | 819.524 (15%) |
Tabela 4 – candidaturas
CANDIDATURAS | QUANTIDADE |
Candidaturas totais | 450 (100%) |
Candidaturas de mulheres | 137 (30%) |
No jogo eleitoral as regras moldam as estratégias adotadas pelos atores envolvidos, ou seja, cada detalhe estabelecido pela legislação eleitoral baliza o que os partidos e candidatos farão,ficando absolutamente evidente no caso da disponibilidade de espaço e incentivos para a participação feminina nos pleitos eleitorais.
A iniciativa do Movimento Mais Mulheres No Poder (MMNP), que organizou o evento de “união” dos partidos em Maringá em prol das candidaturas femininas, é louvável, mas não nos enganemos porque a intenção principal são os incentivos estabelecidos pela legislação. Notem que o percentual de candidaturas tanto para deputado federal quanto estadual ficaram no mínimo dos 30% estabelecidos pela cláusula de diversidade de gênero no pleito de 2018.
Então o que teria motivado os “tão abnegados” dirigentes partidários a incentivar mais as candidaturas femininas? Uma emenda constitucional promovida em 2021 talvez explique, lá ficou estabelecido que os votos recebidos por mulheres contarão em dobro para o cálculo da distribuição do Fundo Partidário e do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (o chamado Fundo Eleitoral). Logo, incentivar as candidaturas femininas agora se tornou um bom negócio para aqueles que gerenciam esses recursos.
A frase que norteou as investigações conduzidas na década de 1970 pelos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, do jornal Washington Post no caso Watergate, “Siga o dinheiro” (“Follow the money”) continua atual para explicar muitos dos movimentos políticos, não apenas nos estados unidos mas aqui no Brasil também.