Os bastidores da virada da campanha de Eduardo Pimentel
Leitura do meio político é que Pimentel ganhou brilho próprio e coube a Ratinho Júnior e Alexandre Curi unir a tropa e reverter a situação
A apuração dos votos do primeiro turno ainda não tinha sido concluída em Curitiba quando o governador Ratinho Júnior (PSD) e o deputado estadual Alexandre Curi (PSD), presidente eleito da Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), trocaram um telefonema. Diante do resultado iminente do segundo turno, Curi e Ratinho decidiram tomar as rédeas da campanha do correligionário Eduardo Pimentel (PSD), tocada, até então, por pessoas próximas do atual prefeito, Rafael Greca (PSD).
Ficou definido que o próprio Curi cuidaria da coordenação política da campanha. O marqueteiro de confiança de Ratinho, Jorge Gerez, iria assumir a comunicação. O “Argentino”, como Gerez é conhecido, não aceitou nem a produtora de vídeos que estava contratada, mudou tudo. O consenso era que a campanha precisava “virar a chave”. O secretário chefe da Casa Civil, João Carlos Ortega, o secretário de comunicação do Paraná, Cleber Mata, e o irmão de Eduardo, Daniel Pimentel, entraram como conselheiros e fecharam o quinteto que tentaria reverter a situação.
O cenário de dificuldade de Pimentel se confirmou ao longo da semana seguinte ao primeiro turno. Cristina Graeml (PMB) chegou abrir vantagem de 12 pontos em relação ao adversário nos “trackings”, pesquisas internas diárias das campanhas que não são registradas e, por isso, não podem ser divulgadas.
Contrariando a antiga chefia da comunicação de Pimentel, a estratégia foi mostrar o lado mais ideológico dele. O conceito “Tá preparado” foi abandonado e entrou em cena o slogan “Curitiba unida e em frente”. Seguiram reforçando a capacidade de gestão, mas com a defesa de valores importantes aos conservadores, como família e religiosidade. O vice, Paulo Martins (PL), também começou a ser mais ouvido e ter papel mais destacado no processo.
Curi assumiu pessoalmente a relação com os vereadores eleitos. Foram algumas reuniões na “Chacrinha” para escutar queixas e acertar ponteiros.
As modificações começaram a surtir efeito. Graeml começou a cair nas sondagens e Pimentel foi subindo lentamente. Como se diz no meio político “a boca do jacaré abriu”, invertendo as posições.
Como esperado, a troca de acusações também se intensificou. Com denúncias do círculo próximo de Graeml se multiplicando, a linha tênue entre atacar e apenas se defender foi colocada à prova diariamente.
Na reta final, a estratégia de “unir” Curitiba se intensificou. A região metropolitana também foi convocada: 21 prefeitos vizinhos chegaram a assinar uma nota de repúdio contra Graeml e Greca quase não apareceu na última semana de horário eleitoral.
Sobrou a Graeml recorrer a apoios nacionais, o que, segundo pesquisas qualitativas internas de campanhas, pode ter contribuído para a visão de isolamento dela por boa parte da população.
As urnas confirmaram a tendência que as pesquisas já mostravam, Pimentel foi eleito com 57% dos votos, contra 42,36% de Graeml.
O círculo próximo de Pimentel é unânime em dizer que a disputa do segundo turno lhe rendeu bagagem e firmeza em discussões mais tensas. Se antes a leitura poderia ser que Pimentel venceu graças aos padrinhos políticos, hoje o entendimento é que ele ganhou por méritos próprios a eleição.
Várias pessoas ouvidas pela coluna destacaram a humildade como um dos pontos altos do novo prefeito. Os relatos são que ele era disciplinado, estudioso e ouviu as sugestões tomadas na espécie “Conselho” que foi formado. Ao mesmo tempo, começou a deixar claro uma das frases mais ouvidas nas reuniões internas da campanha de Pimentel, “O prefeito serei eu.”
E como em política a próxima eleição sempre está em pauta, a “tropa reunida” no segundo turno de Eduardo Pimentel já faz as contas para 2026.