O poder do dinheiro na campanha para Vereador em Curitiba
O tema do financiamento eleitoral e partidário é bastante polêmico, com defesas apaixonadas pelos mais diversos modelos, desde o financiamento integral com recursos públicos, o financiamento exclusivo por pessoas físicas e até o financiamento por empresas, tendo uma série de variações ou combinações entre eles. O modelo vigente permite o financiamento por pessoa física e/ou com recursos públicos. Este último consumindo em 2020 mais de R$ 2,8 bilhões de reais (quando somados o Fundo Partidário e o Fundo Eleitoral).
Pesquisa DataSenado
O DataSenado, entre os dias 9 e 11 de junho, consultou os brasileiros a respeito da possibilidade de os recursos do Fundo Eleitoral (Fundo Especial de Financiamento de Campanha) serem utilizados para ações de combate ao Coronavírus. Para 93% dos respondentes o recurso deveria ter essa destinação e apenas 5% afirmaram que os recursos deveriam ser mantidos para financiamento de campanhas eleitorais. 2% preferiram não opinar.
Mesmo com esse amplo apelo popular pela mudança, os recursos permaneceram como originalmente previsto. Por que essa resistência em renunciar os recursos públicos por parte dos congressistas? Respondo: a probabilidade de um candidato ser eleito aumenta quanto mais recursos ele utiliza em sua campanha.
Para irmos além do que parece óbvio e demonstrar esse fato de forma simples, realizei um teste de correlação entre os valores gastos pelos candidatos que se elegeram e aqueles que não se elegeram.
O que quer dizer este aumento de probabilidade de ser eleito?
Pense numa aposta da mega sena. Em uma aposta simples, se paga R$4,50 para 6 números (cujo maior prêmio vai para quem acerta os 6 números, existindo, porém, prêmios para quem acerta 5 e 4 números – quina e quadra, respectivamente. Mas o apostador gostaria de aumentar suas chances de ganhar, então o que ele faz? Ele aposta com uma quantidade maior de números. Se o apostador quiser jogar com 7 números, pagará R$31,50. Se quiser apostar com 8 números, irá pagar R$126 reais. E assim por diante…
Numa eleição, esse aumento de chances também vem com um maior valor desprendido. No caso de Curitiba, a cada R$1.000 reais gastos em campanha o candidato vê sua chance de ser eleito crescer em 2,33% (esse percentual oscila conforme o município, por questões demográficas, pela quantidade de cadeiras em disputa e pelo valor gasto pelos adversários). Na loteria, o limite é de no máximo 15 números (a um gasto de R$22.522,50); já na eleição, o limite de quanto o candidato pode gastar é estabelecido pela Justiça Eleitoral.
A proporção de Financiamento do Eleito/Não Eleito expressa a relação entre as médias dos valores dos dois tipos de candidatos, que pode ser melhor visualizada no gráfico abaixo:
Para realizar esta análise utilizei os valores declarados, pois alguns candidatos podem ter gasto mais do que o efetivamente declararam, porém, não é possível mensurarmos esses valores.
Podemos ver no gráfico abaixo a distribuição dos candidatos eleitos e não eleitos conforme o valor investido no financiamento.
A diferença do financiamento médio dos vereadores eleitos para os que não se elegeram é bastante significativa, o que torna evidente a necessidade de amealhar o máximo de dinheiro possível. Para isso, os candidatos devem vencer primeiro a disputa pelos recursos, seja dentro do partido pela utilização dos fundos partidário e/ou eleitoral ou convencendo os eleitores a doarem, para então terem mais chances de êxito nas eleições, para serem então considerados candidatos competitivos.
Assim como na loteria, gastar mais aumenta as chances de sucesso, mas não garante a vitória. Nas eleições acontece da mesma forma…
Sigamos juntos pensando estrategicamente.
*Coeficiente de Gini: é uma medida de desigualdade, variando entre 0 e 1 e quanto mais próximo a 1, maior a concentração de financiamento.