O Paraná sai das urnas com um novo grupo político: o "Lavajatismo"
Uma frase recorrente no universo político é que “as urnas falam”. Isto é verdade. No Paraná o recado que elas deram é que um novo núcleo de poder surgiu na política estadual, o “Lavajatismo”. O nome, obviamente, se refere as pessoas que apoiaram ou integraram a Operação Lava Jato, que teve Curitiba como sede. O desempenho do Senador eleito, Sergio Moro (UB), e do deputado federal mais votado neste ano, Deltan Dallagnol (PODE), confirmam que a Lava Jato conferiu densidade eleitoral para eles. Mas não é só isso, o discurso da dupla também mostra que eles tem planos de curto, médio e longo prazo.
Na primeira entrevista concedida depois da eleição, Moro, que aposentou o veterano Alvaro Dias (PODE), lembrou que recebeu pouco apoio de outros grupos políticos. “O único débito que a gente tem é com o eleitor”, alfinetou o Senador eleito, explicando que sua candidatura foi “contra o sistema político”. Ao comentar sobre o futuro, afirmou que pretende construir um projeto consistente. “Vamos retomar as pautas da anticorrupção e da segurança pública”, reforçou Moro lembrando que quer contribuir com os grandes projetos nacionais.
Ao comemorar o resultado, Dallagnol foi ainda mais direto sobre o novo grupo: “A Lava Jato renasceu”. O novo deputado federal, que conquistou a segunda maior votação da história do Paraná, já está familiarizado com construções de consensos políticos. É o principal articulador de um grupo intitulado “200+”, que pretende reunir parlamentares de vários partidos em torno de uma lista de princípios com temas como o fim do foro privilegiado, a defesa da prisão dos condenados em segunda instância e a redução dos recursos destinados ao fundo eleitoral ou mesmo sua extinção. Na lista do 200+ também está a paranaense Rosangela Moro (UB), que se elegeu por São Paulo, numa campanha baseada na defesa da Lava Jato.
Na Assembleia Legislativa do Paraná, Dallagnol elegeu seu afilhado Fabio Oliveira (PODE). Oliveira era desconhecido do eleitorado, e fez uma campanha baseada na relação que tem com o ex-procurador chefe da Lava Jato.
Apesar de ambos estarem no arco de alianças de Ratinho Júnior (PSD), há sinais claros que foi apenas uma questão pontual. Setores da campanha de Moro, por exemplo, não gostaram do apoio explicito do governador reeleito à Paulo Martins (PL), que terminou em segundo lugar na corrida ao Senado.
Ainda é cedo para dizer que o futuro reserva ao novo grupo político, mas ele já está cristalizado como uma força importante no cenário. Depois de uma campanha insistente de desconstrução da Lava Jato, a “República de Curitiba” tem um recomeço interessante.