O lado bom do governo Bolsonaro
Meu amigo Zeca Cunha, empresário que se especializou em recuperar empresas quebradas, votou em Jair Bolsonaro nos dois turnos e, apesar dos percalços, que lamenta, do chefe do governo, comemora efusivamente o fato de seu candidato haver chegado ao 15.° mês de gestão com algo específico a comemorar.
“Sabe aquela placa tradicional que antigamente as empresas usavam para marcar o número de dias seguidos sem acidentes de trabalho? Pois é, o atual governo pode parodiá-la e referir-se à ausência de escândalos de corrupção, comuns em administrações anteriores. Ou seja, 15 meses sem corrupção”, dispara.
Recalcitrantes – sempre houve e sempre haverá quem possa ser definido por essa característica e esse tipo não falta entre os que se opõem ao atual governo – podem reclamar dos casos dos ministros do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, e do Meio Ambiente, Ricardo Salles, mantidos na equipe apesar de problemas com a polícia e a Justiça, só que não no exercício do cargo no primeiro escalão deste governo federal.
Há também cheirinho de podre no ar no que concerne a Gustavo Canuto, que foi substituído no Ministério de Integração Regional, encalacrado numa rede de distribuição de emendas parlamentares para aliados suspeitos do presidente do Congresso Nacional, Davi Alcolumbre. No primeiro exemplo, o diagnóstico de meu guru na área econômica se mantém em pé pelo rigor semântico. No segundo, o acusado de malandragem perdeu o emprego, que tinha mantido na passagem do mandato-tampão de Michel Temer para o do capitão, eleito com mais de 57 milhões de votos. Então…
Há outro gênero de recalcitrância, contudo, que reclama do chefe do Executivo impaciência, falta de habilidade e até de educação nas difíceis relações com o Legislativo. O presidente tem mantido a duras penas o compromisso de não praticar o hediondo “toma lá dá cá”, tido como inevitável no chamado presidencialismo de coalisão, que, no caso de Bolsonaro, dispensa o a da segunda sílaba, tornado de colisão, pois os choques são permanentes.
Ninguém condena o presidente por ter nomeado algum ministro na base da barganha, como tem sido feito desde a vigência da Constituição de 1988. Não, não é isso. Fala-se mal pelo fato de ele levar a negação desse tipo desonesto de troca a extremos. A democracia, segundo esses analistas, demanda negociação. Até agora, contudo, não encontrei um só dentre eles que reconheça que essa prática sempre leva ao fim e ao cabo, como gosta de dizer um adepto dela, Dias Toffoli, à troca de voto de apoio por cargos. Tem faltado nessa discussão que se indique um negócio, resumindo a palavra-chave, que não implique compra, venda ou troca.
Falar é fácil, fazer é que são elas. E os mesmos que cobram do vitorioso na eleição de 2018 promessas não cumpridas omitem que, de tudo quanto o eleitorado exigiu do candidato a que deu ampla maioria, o fim do troca-troca foi e continua sendo uma das atitudes mais esperadas do vencedor. Quem conhece o caminho das pedras de uma negociação que não seja negociada, no sentido mercantil do termo, atire a primeira pedra.
O que esses mesmos recalcitrantes não querem reconhecer é que, entre chefes de pastas nomeados por Bolsonaro, um punhado tem correspondido em desempenho competente ao que do chefe do governo exigia o eleitor. Os índices de criminalidade violenta caíram sob o martelo do ex-juiz Sergio Moro, ministro da Justiça e da Segurança Pública, apesar do boicote sofrido por ele e pela Operação Lava Jato no Legislativo e na cúpula do Judiciário. Nem o ácido em gotas de Glenn Greenwald, com sua narrativa estapafúrdia, conseguiu abalar a popularidade do magistrado paranaense nas pesquisas de opinião pública: no mínimo, 54% de apoio.
Apesar da enorme dificuldade na aprovação pelo Congresso, que chegou mais perto do índice de desidratação previsto por Paulinho da Força, um dos ícones do Centrão fisiológico, na reforma da Previdência, o governo não ficou a pé no quesito da reconstrução das contas públicas avariadas. Os congressistas tiraram arreios da montaria, mas ela seguiu, assegurando a Paulo Guedes um lugar no panteão dos ministros efetivos.
Com este se destacam ainda na área técnica, sem necessidade de muitas negociações políticas, dois deputados de origem. A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, é pule de dez em eficiência, mesmo entre os mais duros detratores do chefe do governo. Luiz Henrique Mandetta, de quem ouvi boas referências da imparcial bióloga Mayana Zatz, do projeto de genoma da Genética da USP, está atravessando a crise do novo coronavírus chinês, que tinha tudo para demolir sua reputação, com desempenho mais que elogiável. Não conheço críticas que mereçam o mínimo de atenção também ao cumprimento exemplar de tarefa tal como vem sendo feito pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, embora ele tenha sido herdado do antecessor na Presidência.
Nesta democracia, regime de governo que nunca há de ser o melhor de todos, mas, se bem executado, sempre haverá de ser o menos ruim, na definição adaptada de Winston Churchill, não se pode ser intolerante nem intransigente contra quem prefere menos liberdade e mais disciplina.
Como se manifestam vários seguidores do atual governo, que, para felicidade geral da Nação, apeou do Poder Executivo péssimos gestores que saquearam o erário, quase quebraram a Petrobrás e produziram um número espetacular e dramático de desempregados. Não se trata de bancar o chato de galocha, exigindo de quem prega a negociação que indique que meio de persuasão para apoio se faça sem compra, venda ou troca, como qualquer negócio. Mas mais honestidade e clareza fazem falta e não fariam mal.