Nilo Peçanha, o presidente negro do Brasil

por Régis Rothfilber
Régis Rothfilber
Publicado em 3 fev 2020, às 00h00. Atualizado em: 5 jun 2020 às 12h08.

 

Em 1967, o movimento Hippie estava influenciando e preparando a próxima década para a geração Paz e Amor, mesmo que no fim dos anos 60 e toda a década de 70 foram anos conturbados no mundo. Mas porque eu estou falando isso se esse artigo é sobre o ex-presidente brasileiro Nilo Peçanha? Estou falando isso porque Nilo Peçanha ao assumir a presidência do Brasil disse em um um trecho de seu discurso de posse, Governarei o país em um clima de Paz e Amor. Não sei se os hippies roubaram a famosa frase do ex-presidente brasileiro, mas com certeza tiveram mais sucesso no verão de 1967 durante o festival de Woodstock. Piadas à parte vamos ao que interessa.

Nilo Peçanha nasceu em Campos de Goytacazes em 1867, no Morro do Coco. Filho de uma família bem pobre seu pai, Sebastião Souza Peçanha era um padeiro também conhecido como Sebastião da padaria e a mãe uma dona de casa chamada Joaquina Sá Freire. Nilo estudou durante sua  infância e adolescência em colégios públicos e com muito esforço foi aprovado na famosa faculdade de direito Largo de São Francisco ( São Paulo capital), entretanto optou por se transferir para também famosa faculdade de direito de Recife.

 Nilo sempre acreditou que a melhor maneira de crescer na vida era através do trabalho e pelo próprio mérito.  Foi assim que Nilo cresceu e venceu na vida. Até porque ele era de origem humilde, mulato em um tempo de preconceito e racismo muito pior que hoje. Temos que lembrar que quando ele nasceu ainda existia a escravidão. Nilo  durante seu período de faculdade começou a se engajar na causa abolicionista e republicana.

 Com a instauração da república pós golpe militar em 1889, Nilo Peçanha começou sua trajetória política enquanto exercia as ocupações de advogado e jornalista. Em 1890  ele foi eleito deputado federal e depois reeleito ficando de 1891-1903 na câmara federal. Em 1903 foi eleito governador do estado da Guanabara, diga-se de passagem um excelente administrador e de longe o melhor governador que o estado do Rio de Janeiro já teve.  

   Um ano  antes de terminar seu mandato como governador concorreu a vice-presidente na chapa Afonso Pena/Nilo Peçanha e sendo eleito pelo partido Republicano. Em 1909, o presidente Afonso Pena morreu e obviamente assumiu. 

 O Brasil estava muito mais polarizado politicamente do que hoje e o bicho tava pegando. Nilo que em seu discurso de posse  prometeu um governo baseado em paz e amor não conseguiu cumprir isso em seus 17 meses de governos, mas houve austeridade e o país se uniu novamente.

 Apesar de uma breve passagem na presidência da república, deu continuidade ao programa político conduzido pelo antecessor. Prosseguiu a ampliação da malha ferroviária do país com a construção de estradas nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul. Estendeu as obras de saneamento da capital federal para a Baixada Fluminense. Modificou parte do fornecimento de luz na cidade do Rio de Janeiro para o sistema elétrico. Reformou os Correios e Telégrafos e expandiu a rede telegráfica. Ampliou o investimento de capitais na indústria de 12,4% para 18,5%. A formação de mão de obra para a indústria também foi estimulada com a criação da Escola de Aprendizes Artífices (hoje conhecemos como escola profissionalizante). Expandiu o treinamento militar para todos os cidadãos. Promoveu pesquisas científicas no setor agrícola, fundou o ministério da Agricultura, e devido sua grande amizade com o marechal Rondon fundou o serviço de proteção ao indígena, hoje conhecido como Funai. A escolha dos ministros por Nilo Peçanha seguiu critérios técnicos com o objetivo de executar as pautas propostas para o governo. Isso irritava muito os membros do tradicional grupo político chamado Café com Leite.

Além disso, Nilo Peçanha tinha uma vantagem em relação a seus opositores. Ele era popular e como sempre estava na rua falando com o povo, se tornou o primeiro político popular e populista do Brasil.

 Com essa construção do político populista também surgiu os Niilistas. Esse  grupo era mais articulado e atuante que os Bolsonaristas juntos Lulistas. As manifestações acaloradas dos militantes dos Bolsonaristas e Lulistas são fichinha perto dos Niilistas. Se existisse Internet e redes sociais naquela época não teria para ninguém e Nilo seria eleito com uma votação ganhando de lavada de seus adversários.

 Não se engane caro leitor, Nilo Peçanha como qualquer político populista não era um sujeito bonzinho e inocente.Ele era um político argiloso, que governava com mão de ferro nos bastidores, capaz de tomar decisões controversas para atender seus objetivos políticos. Não se intimidava com ameaças ou mesmo com o preconceito que marcou sua vida. Um exemplo disso é que mesmo com uma trajetória política brilhante ele até o fim de sua vida foi chamado o mulatinho do morro do Coco. 

    Existe um movimento estratégico na carreira pública do ex-presidente que é um mistério até hoje e com certeza beneficiou Nilo Peçanha e seu grupo de aliados políticos .

  Ele saiu do Partido Republicano Paulista, ajudou a fundar o Partido Republicano Fluminense, rompeu com seu partido próximo as futuras eleições de 1910  para entrar no Partido Republicano Conservador e apoiar o ministro da guerra, Hermes da Fonseca como candidato da à presidência da república que ganhou devido a popularidade de Nilo Peçanha. Foi uma atitude considerada inesperada por todos já que era natural o presidente apoiar o político, diplomata, advogado e escritor Ruy Barbosa.

Como já falamos antes, o ex-presidente da república Nilo Peçanha era afrodescendente. Parece politicamente incorreto e hipócrita ,mas se vocês pensam que hoje temos um preconceito e racismo muito presente em nossa sociedade é porque não tem a menor noção de como era naquela época.  Como já mencionamos antes durante toda sua vida Nilo Peçanha foi chamado pela aristocracia brasileira de o mulatinho do morro do Coco, mas claro que tiveram que engolir o homem de origem humilde, que se tornou advogado e atingiu o mais alto cargo na república brasileira. De qualquer forma a sociedade da época nunca abriu uma brecha para o ex-presidente assumir suas origens afrodescendente. Os historiadores sempre retrataram para as futuras gerações um Nilo Peçanha como caucasiano. 

   Até hoje boa parte dos  historiadores omitem o fato dos traços fortes do biotipo de etnia negra do ex-presidente. 

 Poucos são os historiadores como  o genial historiador e escritor, Eduardo Bueno, o Peninha, que mostram a verdadeira biografia de Nilo Peçanha.

E o mais louco é que os ditos movimentos sociais e os partidos populistas atuais não mencionam o fato de um afro descendente ter exercido o mais alto cargo da nossa república.

 

Viva Nilo Peçanha, o primeiro presidente negro ou pelo menos mulato do Brasil !