#LulaLivre: e agora?
A semana começou bastante agitada, com reviravoltas jurídicas de repercussões tanto no presente, quanto no cenário de 2022. Quero conversar com vocês sobre o que é possível antever dos movimentos desencadeados a partir dos seguintes fatos: 1) decisão do ministro Fachin que anulou as decisões referentes ao ex-presidente Lula em suas condenações no âmbito da operação Lava-Jato; e 2) votação da segunda turma do STF, presidida pelo ministro Gilmar Mendes, referente a suspeição do ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro.
A análise se dará no aspecto político/eleitoral. Não entrarei, portanto, nas minúcias judiciais.
Para delimitar melhor o que devemos olhar, vale estabelecer quais os atores e seus respectivos “tamanhos” neste tabuleiro. Partindo das pesquisas eleitorais, divulgadas agora em março, o cenário das intenções de voto se apresenta da seguinte forma:
À título de informação, as pesquisas da CNN/RealTme Big Data e do Paraná Pesquisas têm metodologias parecidas, sendo feitas por telefone. Já do Ipec tem duas distinções importantes: foi efetuada por coleta presencial e apresentou os dados agregados de duas perguntas – “votaria com certeza” + “poderia votar” –, por isso a soma ultrapassa os 100% e os números assumem esta dimensão tão distinta.
Para evitar um texto demasiadamente longo (como foi o voto do Gilmar Mendes ou a fala do Lula), separo a análise em 4 tópicos: E agora, Lula?; E agora, Bolsonaro?; E agora, Sergio Moro?; e Temos outras alternativas?. Este artigo tratará do primeiro tópico.
E agora, Lula?
Com os movimentos ocorridos nesta semana, o ex-presidente se encontra elegível a qualquer cargo público, ou seja, está apto a disputar as eleições presidências em 2022. Mesmo que seu processo seja retomado pela Justiça Federal do Distrito Federal, como determinou Fachin, deve permanecer apto, pois dificilmente terá condenações em duas instâncias em tempo hábil para impedir o registro de sua candidatura.
Sem dúvidas Lula e o PT foram os maiores beneficiados com os movimentos do STF (Fachin + Gilmar Mendes). Explico:
– Livre, leve e solto: enquanto Lula estava preso, seu candidato, Fernando Haddad, perdeu por uma diferença pouco maior do que 10%. Com ele em campo, a diferença tende a ser menor, seja como candidato ou atuando apenas como articulador e cabo eleitoral.
– Oposição: durante estes pouco mais de dois anos, o PT fez uma oposição tímida ao governo, muito diferente do que foi com FHC, por exemplo. O partido de certa forma se encontrava “preso” junto com o ex-presidente e suas energias concentradas no “Lula Livre”. Com o objetivo alcançado, o partido provavelmente mudará o tom na oposição, endurecerá e Lula tende a ser o grande porta-voz desta virada.
– Polo: desde a redemocratização, o PT conseguiu ser um dos principais polos na disputa eleitoral, alcançando sempre o segundo turno das eleições presidenciais que disputou (com exceção das eleições que FHC disputou 1998, em que não teve segundo turno).
– Maior: Lula é muito maior que o PT, nem todo eleitor que vota em Lula votou ou votaria num preposto por ele indicado. Um exemplo é a consulta efetuada pela Paraná Pesquisa, em que Lula aparece com 18%, mas se o candidato fosse o Haddad cairia para 10,8%.
Contudo, nem tudo são flores. Existem algumas questões que colocam em dúvida ou, pelo menos dificultam, a candidatura de Lula:
– Idade: pesa sobre ele a idade (75 anos) e os problemas de saúde que ele já superou, mas que sempre cobram um preço na disposição e vigor. Fazer campanha num país continental como o Brasil requer muito folego.
– Moral: mesmo que não possua mais condenações, moralmente ele ainda está bastante desgastado. Deverá assumir um discurso de injustiçado, para tentar mitigar esta percepção, porém, segundo levantamento da Paraná Pesquisa, 57,5% das pessoas consultadas discordam da anulação das condenações que pesavam sobre ele.
– Com que roupa?: para dimensionar melhor a viabilidade eleitoral de Lula, é fundamental sabermos qual candidato irá se apresentar (lembremos que ele é uma metamorfose ambulante). Ele vai vestir o Lula mais radical de 1989 e 2018, bastante focado na luta de classes (nós contra eles), ou o Lula de 2002 da “Carta aos brasileiros” e da conciliação nacional? Penso que o Lula de 2002 é mais viável eleitoralmente, mas os rancores de ter ficado 580 dias preso irão permitir, pelos sinais que emitiu no discurso proferido no sindicato dos metalúrgicos, que será mais provável a versão “paz e amor”.
Diante desta análise não podemos afirmar que Lula teria ressuscitado, pois nunca esteve morto, mas com certeza vem reenergizado e com plenas condições de ser um protagonista no pleito de 2022, mas não o único.
Nos próximos artigos iremos falar sobre os demais tópicos: E agora, Bolsonaro?; E agora, Sergio Moro?; e Temos outras alternativas?.
Sigamos juntos, pensando estrategicamente.