Erdogan pode tirar proveito de medidas econômicas com eleição antecipada, dizem analistas
ISTAMBUL (Reuters) – O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, na prática abriu as portas para uma eleição antecipada depois de dois grandes anúncios: um aumento de 50% do salário mínimo e um esquema de proteção de depósitos que freou uma depreciação da moeda, disseram analistas políticos.
Os anúncios vieram com cinco dias de intervalo depois que uma crise monetária aguda atingiu um pico no dia 20 de dezembro, quando a lira despencou para um valor recorde de US$ 18,4, abalando profundamente a economia e as famílias.
Erdogan e autoridades de alto escalão do partido governista AKP rejeitam reiteradamente a ideia da realização de eleições presidencial e parlamentar antes de meados de 2023, como programado.
Mas o alívio salarial de 2022 e a reversão acentuada da lira, que subiu para 12 dólares, levam a crer que Erdogan pode querer agir em breve depois de uma queda prolongada de seus índices de aprovação.
Analistas disseram que seus anúncios ecoam manobras pré-eleitorais anteriores para provar suas credenciais como líder. Uma eleição antecipada poderia pegar no contrapé uma coalizão de oposição que ainda não decidiu um candidato presidencial.
“As decisões… dão a impressão de que o AKP e Erdogan são administradores excelentes da economia”, disse Mehmet Ali Kulat, presidente da MAK Consulting.
“Para Erdogan, uma história de sucesso ‘na última hora’ emerge antes de cada eleição”, disse ele. “Vemos que este processo será apresentado como um líder político que derrotou o dólar e transtornou o jogo das potências estrangeiras”.
Mas a eficácia da mensagem dependerá da direção da lira e da inflação, assim como do impacto nos turcos que veem seu poder de compra ser reduzido.
Para fortalecer a lira, Erdogan anunciou um esquema por meio do qual o Estado protege depósitos convertidos em lira de perdas futuras causadas pela depreciação na comparação com moedas fortes.
Com a ajuda de intervenções no mercado com apoio do Estado, a medida deteve uma decadência monetária causada pela política nada ortodoxa de Erdogan de cortar as taxas de juros apesar de uma inflação que se acredita chegar a 30% neste mês.
Mas o esquema cria o risco de aumentar ainda mais os preços e a dívida fiscal nos meses adiante, alertam economistas.
Por Birsen Altayli e Orhan Coskun