Briga judicial pode deixar o Paraná no escuro
As cenas de caos no Amapá chamaram a atenção do Brasil essa semana. Há vários dias o estado tem problemas no abastecimento de energia elétrica. A população enfrenta racionamento e tem reagido com protestos violentos. O problema começou depois que um transformador da principal subestação do estado pegou fogo. Sem outras opções de distribuição, o Amapá ficou no escuro. Para evitar o mesmo problema no Paraná, o Governo Federal autorizou há dois anos a construção de uma linha de transmissão, que foi batizada de Gralha Azul. O presidente da Engie Brasil Energia, Eduardo Sattamini, que ganhou a licitação para a obra, é incisivo sobre a necessidade do novo sistema. “Se a gente não fizer esse reforço, em algum momento, novas cargas vão gerar um colapso no sistema e aí um desabastecimento total“, alerta.
Hoje, por exemplo, tudo que é produzido nas turbinas da Itaipú, que fica em solo paranaense, vai primeiro para São Paulo, e só depois volta aos consumidores do estado. A ideia é fazer um caminho direto do oeste para o Centro-sul e Campos Gerais do Paraná. Serão mil quilômetros de cabos e mais de duas mil torres construídas.
Orçado em mais de R$ 2 bilhões, o sistema deve usar torres de 80 metros. Com os fios mais altos, a promessa é que muitas árvores serão preservadas. Também serão usados drones para instalar os cabos, o que evitaria o desmatamento. A obra conta com as licenças ambientais do Instituto Água e Terra, do Governo do Paraná, e já levantou quase metade das torres previstas, mas Organizações Não Governamentais (ONGs) e o Ministério Público (MP) conseguiram paralisar parte do projeto. Os ambientalistas e promotores alegam que o caminho percorrido pela linha pode destruir a natureza.
A empresa responsável pela obra discorda, e diz que ao longo dos últimos dois anos fez audiências públicas para discutir tudo. O diretor de projeto da Linha Gralha Azul, Márcio Neves, diz que o processo de licenciamento começou em fevereiro de 2018 e contou com mais de oitenta pesquisas de impacto ao meio ambiente. “Estes estudos ambientais levam em consideração todos os aspectos, amadurecemos o nosso traçado do ponto de vista de desviar de todas as unidades de conservação, reservas parcelastes de proteção natural, áreas sensíveis, áreas com focos sócia ambiental, destinos turísticos, a assim por diante”, destaca.
A briga chegou até a Justiça. Duas ações questionam a obra. Em uma delas, a juíza Silvia Regina Salau Brollo, da 11ª Vara Federal de Curitiba, já paralisou parte das obras. A Engie recorreu da decisão. O outro processo, que deve ser julgado pela mesma magistrada, tenta barrar todo o projeto. O MP, que em um primeiro momento não participou das audiências públicas da construção da linha, agora pede novos estudos.
Quem trabalha nos canteiros está apreensivo. Segundo o Sindicato da Construção Civil do Paraná, pelo menos 15 mil trabalhadores atuam direta e indiretamente nas obras e podem ser demitidos com embargo das obras. O setor produtivo também aguarda o desfecho do caso. O parque industrial de Ponta Grossa, o maior do interior do Paraná, não consegue ampliar o número de plantas instaladas por falta de energia. E o pior de tudo, enquanto a queda de braço nos tribunais não chega ao fim, o Paraná segue sob o risco de ficar no escuro.