Witzel, o Magistrado que Sentiu o Peso do Martelo

Justiça

por Marcelo Campelo
Publicado em 4 set 2020, às 16h04. Atualizado em: 10 set 2020 às 11h01.

As eleições de 2018 e 2019 trouxeram ao cenário político brasileiro figuras bem pitoresca que prometeram salvar o país e seus Estados, enfim a população das garras de políticos corruptos despreocupados com os cidadãos de bem. Sob o manto da guerra contra todos os que destroem o Brasil, esse novos políticos, paladinos da moral, dos bons costumes, conservadores e extremamente patriotas, exibindo seus currículos como militares, funcionários públicos.

Nesse mar de excentricidades desponta o atual Governador do Rio de Janeiro, que foi eleito para mudar e reconstruir o Estado. Wilson Witzel exibiu seu histórico como soldado, pois pertenceu a Marinha como fuzileiro naval e depois, como juiz federal, atuando em uma vara criminal da capital fluminense.

Um currículo perfeito, uma pessoa de bem,  que já demonstrou as suas qualidade como patriota ao ser um militar e um magistrado. Seria a pessoa perfeita para ocupar a chefia do executivo.

Eleito, iniciou seu governo entre polêmicas, quando pregava que deveriam ser praticadas violências policiais, que pessoas que portassem armas, em favelas, deveriam ser imediatamente eliminadas. Apoiou operações nos morros, como se estivéssemos no Vietnã, com helicópteros, e policiais de preto, mascarados, atacando ferozes milícias.

O ápice, foi quando um atirador de elite acertou um homem que havia sequestrado um ônibus, cujo comportamento evidenciava uma pessoa com claros problemas psiquiátricos, que apesar de ter cometido um crime, não seria um bandido que ceifaria vidas. Os gestos de vitória do governador ao descer do helicóptero demonstraram a sua forma de atingir o o seu eleitorado.

Depois do carnaval, o Brasil foi tomado pela pandemia, que demonstrou como nosso país é desorganizado, confuso e com leis complicadas.

Primeiro, com a decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a responsabilização de Estado e Municípios sobre responsabilidade de normas sobre a pandemia criou um desencontro geral. O país ficou sem referência. Enfim, formou-se um prato cheio para mal intencionados se utilizarem da desvinculação do orçamento para realizarem as mutretas.

Para quem já tem uns anos de praia, como eu, quando vi as notícias de se liberar gastos para compra de equipamentos de proteção individual e construção de hospitais de campanha, não deu outra, a Polícia Federal investigou e encontrou problemas,  foram realizadas busca e apreensão em endereços ligados ao Governador, e um Secretário de saúde preso.

Após alguns meses, o mesmo secretário fez delação e o caldo entornou. No meio tempo a Assembléia do Estado já havia iniciado um impeachment do governador, que por astúcia de seus advogados  conseguiu barrar no Superior Tribunal de Justiça. 

Recursos interpostos, o Superior Tribunal de Justiça acabou por 14 x 1 manter o governador afastado do seu cargo por seis meses.

O ex-magistrado e agora ex-governador sentiu o peso do martelo sobre si. Quem podia imaginar. Inclusive em seu twiter que respeitava a justiça mas não concordava.  Gostaria de saber como ele via estes tipos de declarações no tempo em que era juiz e propagava a sua livre convicção contra os réus.

Como será que o magistrado Witzel julgaria o governador Witzel? Acredito que seria como mandou fuzilar o sequestrador do ônibus. Por bem ou por mal, o Brasil está evoluindo e suas instituições se mostrando eficazes contra o nosso maior mal, a corrupção.