"Matei aquele gambá": Evellyn Perusso diz que Edison confessou assassinato de Daniel
Evellyn Perusso respondeu a um interrogatório de 30 minutos no Tribunal do Júri de São José dos Pinhais, nesta terça-feira (19). Ela responde pelo crime de fraude processual no caso Daniel Corrêa.
O interrogatório iniciou por volta das 11h50. Ela começou contando que está com 24 anos, trabalha como manicure e que é mãe de uma menina de 8 anos e um menino de 6 meses. Depois do assassinato do jogador Daniel, ela foi condenada por tráfico de drogas.
“Na época dos fatos, eu conhecia a Allana há um ano e dois meses. Eu tinha um convívio com a família. A gente tinha uma amizade. Óbvio, era mais com a Allana, mas como eu frequentava a casa da família, tinha contato com os pais dela. A gente se dava super bem. Depois do ocorrido, a gente nunca mais teve contato”, revelou Evellyn Perusso.
“Eu vi que ele era meio invasivo”
Ela ainda revelou que não conhecia o Daniel. Ela o viu pela primeira vez na balada, no aniversário de Allana na Shed, e os dois ficaram. Foi apenas um beijo, mais algumas trocas de palavras, mas o flerte não foi adiante. “Eu vi que ele era meio invasivo. Como que eu posso dizer… ele era soberbo e aí eu não levei adiante”, afirmou a ré.
“Lá na balada eu dei a entender e mostrei que eu não queria mais nada. Foi apenas um beijo e eu não queria nada. Quando a gente chegou na casa da Allana, como eu já era da casa, a gente sentou no sofá eu e a Allana. O Daniel chegou até mim e falou ‘você quer que eu arrume um lugar para você dormir?’. Eu com uma voz mais grossa falei que não queria nada. Ali ele insistiu. Naquela hora eu falei ‘não precisa que eu tô em casa’. A Allana até disse ‘não precisa ser grossa’. Aí a gente subiu e foi tomar banho”, afirmou Evellyn Perusso.
Neste momento, a defesa de Evellyn decidiu pular toda a etapa da agressão ao jogador Daniel e pular direto para a hora que Edison Brittes e os outros três rapazes (Eduardo, Ygor e David) voltam com o carro, já sem Daniel.
“O Edison andava de um lado para o outro. Ele estava muito nervoso. Ele estava apreensivo e usando outras roupas, uma regata e um shorts. Uma roupa diferente. Eu nunca vi ele naquela situação. Acho que diante dos fatos, de tudo que ele viu e do que aconteceu, ele estava super nervoso. Eu nunca vi ele daquela maneira”, afirmou Evellyn Perusso.
“Foi pelo fato do Daniel ter adentrado dentro da casa dele, do quarto dele e ter mexido com a mulher dele. O Daniel abusou da Cris. Nem eu que era da família entrava no quarto do casal. Ele falava muito que ele tinha feito aquilo porque o cara tava dentro da casa dele com a mulher dele. Ele não aceitava aquilo”, descreveu.
“Eu matei aquele gambá”
Depois de reforçar que Daniel abusou de Cristiana Brittes, Evellyn Perusso voltou a contar sobre o momento que Edison voltou para casa, já sem Daniel no carro.
“Assim que ele chegou, ele deu um abraço na Allana. Disse que amava a Allana. Dizia também: ‘Eu matei ele. Eu matei aquele gambá’”, afirmou a ré. “Gambá” é uma gíria muito usada no meio policial para se referir a bandidos.
Evellyn afirmou que não sabia o que fazer naquela hora. Afirmou que mandou mensagem para uma amiga, dizendo que não sabia como ir embora e que estava com medo. “Eu era muito nova. Eu estava começando a sair. Eu era casada. Depois que eu separei do meu marido que eu comecei a sair”, explicou.
Evellyn disse que não falou nada com ninguém, nem com a mãe, por que estava com medo e em estado de choque, pois disse que nunca tinha visto algo daquela maneira.
“O Brittes relatou que tinha decepado o pênis do Daniel.”
“Eu fiquei deitada no sofá e a Allana na cama. Depois eu desci lá embaixo e fiquei sozinha. A Allana me mandou mensagem perguntando onde eu tava e aí todos desceram”, disse ela.
“A gente conversou. O Brittes relatou que tinha decepado o pênis do Daniel. Falou que não tinha aceitado o que ele tinha feito com a Cris, com a mulher dele. Ele estava muito alterado. Em momento algum ele ficou tranquilo. Ele caminhava de um lado para o outro bem apavorado, bem assustado”, relatou a ré, afirmando que ficou com mais medo depois que Edison contou o que fez com Daniel.
“Eu estava todo tempo pensando como iria embora, mas eu não queria ir para minha casa porque minha mãe e minha filha não estavam lá. E aí eu fui para a casa da Ketilin. A Allana foi pedir um Uber. O Edison mandou uma mensagem dizendo que ele tinha uma notícia e que não era para sair. Aí a Allana cancelou meu Uber. Eu não tinha aplicativo de Uber. Ela falou ‘amiga, vamos esperar meu pai chegar para ver o que ele tem pra falar’”, relatou.
Obrigada a limpar o sangue
Depois que Edison chegou, Evellyn Perusso disse que se obrigou a limpar o sangue da casa porque estava com medo do pai de sua amiga.
“O Edison chegou e falou que tinham encontrado o corpo do Daniel. Aí ele falou ‘vamos começar a limpar tudo aqui’. Eu falei ‘tá bom’, porque eu estava em estado de choque. Só quem passa por isso entende. Eu não pensei no que eu poderia fazer de diferente a não ser obedecer”, disse.
Evellyn confirmou que limpou o sangue a mando de Edison porque estava com medo e que temia por sua vida. “Depois de tudo que ele fez, e se eu falo ‘não, não vou limpar’. O que eu ia fazer? Não tinha o que fazer!”, justificou.
A jovem ainda afirmou que inventou uma desculpa para escapar. Disse que o pai da sua filha estava trazendo a criança e por isso ela precisava ir para casa receber a filha. Mas afirma que, diferente da desculpa que deu, foi para a casa da amiga Ketlin e falou para o pai ficar com a criança.
Ainda afirmou aos jurados que, dias depois, recebeu mensagem para ir ao shopping. Mas afirma que não foi porque estava com medo e que preferiu manter distância. Também afirmou que não sabia que limpar o sangue do jogador ia prejudicar o caso em algo. Além de que, se não obedecesse, não sabia como o Edison ia reagir.
“Allana é minha amiga, mas não vou acobertar um crime”
Para reforçar que estava falando a verdade, Evellyn Perusso disse que a liberdade dela era mais importante que a de Edison e que não arriscaria a liberdade dela para limpar (literalmente) a barra dele. Relembrou ainda que era amiga da Allana, mas que não iria ajudar a acobertar um crime. Chorando muito, disse que trabalha desde os 15 anos, mesma idade com que teve a filha. E que sempre trabalhou e cuidou sozinha da criança.
“Esse processo destruiu a minha vida. Eu sempre trabalhei. E depois que aconteceu isso, eu fui mandada embora do emprego. Eu arrumei outro emprego na Unicesumar. Ligaram lá pedindo para gravar entrevista. Falavam assim ‘como vocês têm coragem de contratar uma menina com sangue nas mãos?’. Eu nem sequer encostei no Daniel. Eu estava ali na hora errada, no momento errado e eu não sabia o que fazer”, falou em prantos.
Cor dos cabelos
Por causa de tudo isso, ela contou que precisou até pintar o cabelo e que não podia ir ao mercado com a mãe, porque era xingada nas ruas. A jovem disse que perdeu tudo, emprego, amigos, família. E até o seu ex-marido entrou na Justiça para tirar a guarda da filha. Ficou em situação financeira difícil para sustentar a filha e pagar advogado.
“Eu me arrependo amargamente. Depois eu chorava e falava ‘o que eu vou fazer?’. Minha mãe falava que eu ia dar a volta por cima. Ela disse que ia pagar um curso de unha e que as coisas iriam endireitar. Ela falava que era para eu levantar a cabeça e levar a vida adiante”, depôs a ré chorando muito, soluçando. Diante disso, a advogada de Evellyn interveio, dizendo que Evellyn já estava chorando desde antes do júri. E que ela andou com más companhias, foi pega com maconha e que está condenada e cumprindo pena.
“Eu só quero deixar claro que eu não matei ninguém. O Edison chegou e mandou limpar a casa. Depois de tudo que eu vi, não tinha outro jeito de fazer as coisas. Eu não matei ninguém. Eu limpei? limpei! Mas eu fui mandada. Eu me arrependo. Eu só quero seguir a minha vida. Esquecer a gente não vai, mas passar uma borracha e nunca mais falar sobre isso”, afirmou.
“Não era possível salvar o Daniel”
Neste momento, os jurados começaram a fazer perguntas a Evellyn Perusso. Um perguntou se ela achava que teria como ter salvo Daniel, chamando a polícia ou o Samu. E ela disse que não teria como, pois além de estar com medo e temendo pela própria vida, ela era próxima da família. “Depois de tudo que eu vi, como eu ia falar alguma coisa? Eu não sei. E se ele chega e faz alguma coisa? Se fosse hoje, com a cabeça que eu tenho, depois de tudo que eu passei e vivi. Eu faria as coisas totalmente diferente”, afirmou, encerrando o interrogatório.
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