Caso Muggiati: 'Precisei sair do país', diz ex-namorada de Raphael Suss durante júri

por Giselle Ulbrich
com informações de Brayan Valêncio
Publicado em 9 fev 2023, às 18h28. Atualizado às 19h02.

O depoimento inesperado e intenso de uma ex-namorada do médico Raphael Suss Marques, que está sendo julgado pela morte da fisiculturista Renata Muggiati, alvoroçou o Tribunal do Júri em Curitiba, nesta quinta-feira (9). Agredida e perseguida pelo médico após o fim do namoro, ela disse que precisou sair do Brasil com medo. Até “mata-leão” ela levou dele durante o relacionamento.

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A mulher, hoje com 28 anos e que pediu para não ser identificada, contou aos jurados do Tribunal do Júri que conheceu Raphael em 2008. Muito rapidamente ele passou a manipular toda a vida dela. Chegava de surpresa no trabalho dela, esperava ela na frente de casa. Uma rotina que se tornou programada e sufocante.

Ela ainda disse que o médico tinha muito ciúmes de todos os amigos dela, homens e mulheres, e até do padrasto dela, com quem ela morava. Os amigos começaram a se afastar, já que Raphael tratava mal todos eles.

Em seguida, ele passou a descobrir senha de redes sociais e do e-mail da namorada. A mulher, que tinha uma vida social ativa, passou a viver isolada, distante de tudo e de todos, e entrou em depressão.

Até na academia ele ia junto, pesava ela, controlava o que ela comia e dava medicamentos à namorada, dizendo que ela estava com depressão. Até num psiquiatra levou ela, igual aconteceu depois com Renata. Claro que, com isto tudo, as brigas começaram. E a violência também.

Mata-leão para “acalmar”

Ela conta que o médico empurrava, puxava o cabelo, pegava ela pelos braços e chacoalhava até ficar roxa. Sem contar os dois “mata-leão” que ela levou e a fizeram desmaiar. O médico dizia que eram para acalmá-la durante as discussões.

Um destes golpes aconteceu na casa dele, num aniversário de Raphael. A outra vez foi numa balada. “Eu apagava e só acordava no dia seguinte. Quando ele bebia, era pior ainda. Um só gole de bebida alcóolica e ele se tranformava, ficava transtornado”, disse a mulher.

A vítima disse que Raphael chegou a empurrá-la uma vez. Ela caiu e machucou as costas. “Ele me chacoalhou diversas vezes, me puxou. Fiquei com os braços marcados com os dedos dele”, contou a testemunhas

A mulher assistiu vídeos de Raphael no plenário do Tribunal do Júri. E afirmou que é exatamente a pessoa com quem ela conviveu. “Manipulador, quer ter o controle de tudo, esse jeito esnobe de tratar as pessoas, sempre se achando o gostosão”, disparou a testemunha.

O fim do relacionamento, disse a ex-namorada, foi horrível. A família se envolveu e Raphael não parava de procurá-la. “Eu decidi ir morar fora do Brasil. Foi o único jeito que eu encontrei de me desvencilhar disso”, disse ela, que ficou três anos fora e nunca mais viu Raphael, até esta quinta-feira, segundo dia do júri. “Acho que ele ficou surpreso de me ver e deve ter pesado na consciência”, acredita a vítima.

Vergonha

A mulher revelou que, mesmo com toda a agressão e tortura psicológica a que foi submetida, não registrou boletim de ocorrência na época.

“Na época eu tive vergonha. Passou pela minha cabeça dar queixa, mas eu senti vergonha por aquilo ter acontecido comigo, porque eu sou uma pessoa instruída. A gente acha que acontece com pessoas que não são (instruídas). Mas acontece com qualquer pessoa. Eu não registrei boletim para privar a minha família. Mas eu quero que ele vá para a cadeia e não saia nunca mais”, explicou ela.

A ex-namorada ainda disse que, mesmo não dando queixa de tudo na época, decidiu testemunhar no Tribunal do Júri para honrar a memória de Renata Muggiati. “Não a conheci, infelizmente. Mas eu me sinto na obrigação de ajudar. Para que ela descanse em paz”.

A testemunha ainda ficou surpresa com a reação dos pais de Raphael, assistindo vídeos do filho no plenário do Tribunal do Júri, como se não o reconhecessem nos vídeos. “Acho difícil eles não conhecerem o filho. Eles sabiam sim que o Raphael dava problema, porque na época do nosso namoro ele morava com os pais, ainda era estudante de medicina. É impossível morarem no mesmo teto e os pais não saberem o que ele faz”, analisou a ex-namorada.