A ex-dona de casa, que chegou a ser perseguida pelo companheiro, superou a doença e hoje é campeã de fisiculturismo
*Por Luciana Pioto
Qual mulher nunca deixou seus projetos pessoais ou profissionais de lado para se dedicar ao marido, aos filhos ou a outros familiares? Quem não deixou de se alimentar, ou de dormir, por estar preocupada com os problemas daqueles que ama? Foi este comportamento, tão típico da figura feminina, que levou curitibana Helena Maria De Col, 56 anos, a uma profunda depressão, há oito anos.
Na ocasião, Helena era esposa, mãe e dona de casa, mas também mantinha uma pequena loja de roupas femininas. De acordo com a atleta, a preocupação com os problemas familiares, sobretudo com o irmão alcoólatra, foram absorvidos por ela e causaram um enorme estresse.
Foi então, aos 48 anos, que Helena viu sua vida perder o sentido. “Comecei a sentir um desânimo, não queria mais olhar no espelho, nem conversar com as pessoas. Eu não sabia que era depressão. Mas eu só queria ficar quieta e sozinha, eu só pensava em morrer”, lembra.
Incompreensão e perseguição do ex
A apatia da dona de casa rapidamente se transformou em um problema conjugal. Como ela não aceitava receber carinhos do marido, ou mesmo conversar ele, o relacionamento terminou. Porém o companheiro não havia entendido que a causa da separação era um problema de saúde da mulher, e chegou a afirmar que acreditava que estava sendo traído.
Para prejudicar Helena, o ex parou de pagar o colégio do filho ou qualquer valor que havia sido combinado informalmente como uma pensão. Mas o pior estava por vir: ele passou a persegui-la e colocou um detetive atrás dela. “Ele aparecia em qualquer lugar pedindo pra voltar, era agressivo com as palavras e me ofendia; feria-me”, conta a atleta.
Enquanto isso, Helena foi perdendo peso, foram 20 kg em poucos meses. Após resistir a buscar por ajuda, por sempre ter se considerado uma pessoa com força de vontade, Helena se entregou ao tratamento psiquiátrico no dia em que teve uma interminável crise de choro. Na clínica médica, ela encontrou uma forma de sobreviver à depressão. Entretanto, viver uma vida plena ainda parecia algo improvável. “Eu passei a tomar altas doses de remédio, ficava dopada para afastar os pensamentos ruins, mas ainda não conseguia fazer nada, nem comer”, afirma.
“Eu preciso me animar, eu preciso viver”
Um dia, pouco mais de dois anos após o início dos sintomas de depressão, pesando 45 kg e muito debilitada, Helena levantou-se da cama e abriu a janela do seu apartamento. Foi quando um vento fresco bateu em seu rosto e ela notou a placa de uma academia a alguns metros de seu prédio. Naquele momento, inesquecível para a atleta, ela resolveu buscar ajuda. Saiu de casa de moletom e, por causa da fraqueza, teve muita dificuldade para percorrer uma quadra.
Ela lembra que, ao chegar à academia, as recepcionistas espantadas foram ajudá-la e perguntaram o que ela queria. “Eu quero viver. Não estou louca, estou depressiva, muito doente. Eu preciso me animar, eu preciso viver”, foi a resposta sua resposta.
Uma nova vida
No mesmo dia, Helena experimentou exercícios que utilizavam o peso do próprio corpo e alongamentos. Ela se matriculou e voltou para casa com a orientação de se alimentar de forma saudável. Lá, resolveu realizar algo que não fazia há muitos meses: se olhar no espelho. “Esta não sou eu, pensei em choque. Vou renascer e me tornar uma nova mulher”.
Ela então reduziu a dose dos remédios, se fortaleceu com uma alimentação balanceada e uma rotina de exercícios. Após cinco meses, Helena havia recuperado 15 kg e a autoestima e já não dependia mais dos medicamentos psiquiátricos.
Foi quando seu personal trainer sugeriu que ela se inscrevesse no campeonato estadual de fisiculturismo. A princípio, ela resistiu. Acostumada a se esconder sob roupas longas, teria que expor o corpo em um pequeno biquíni e competir com mulheres mais novas e com mais tempo de treino, mas olhando para a própria trajetória, percebeu que merecia se dar esta chance.
A atleta começou com o pé direito e, mesmo descrente do seu potencial ganhou na categoria figure, que valoriza corpos musculosos (sem exageros) femininos. De lá pra cá, Helena ganhou dezenas de prêmios, deu entrevistas e marcou presença em academias e eventos do Paraná e de São Paulo.
Foco e inspiração
Hoje Helena se considera uma vencedora, não apenas dos campeonatos, mas da vida. Ela conta que é reconhecida e recebida com alegria nas academias. Além disso, a atleta orienta e motiva jovens que se impressionam com seu corpo e com seu feito.
Objetivo dela é continuar treinando e competir em outras modalidades, como levantamento de peso e leg press (ela consegue carregar até 500 kg neste equipamento). “Meu remédio é o exercício físico, conversar com as pessoas, viajar e trabalhar. Consegui quebrar paradigmas. Eu posso, eu quero, eu consigo”, conclui a atleta.
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