Transcrevo a seguir parte da entrevista coletiva com o Secretário de Cultura da Bahia, Albino Rubim, e da atriz, diretora e coordenadora de Teatro da Fundação Cultural da Bahia, Maria Marighella. Vale a pena cada linha!
SOBRE O KIT DIFUSÃO DO TEATRO DA BAHIA
Material inédito, que apresenta textos trilíngues (português, inglês e espanhol), imagens e vídeos, foi lançado na abertura da Mostra Baiana no Festival de Curitiba. Será distribuído não comercialmente, mas especificamente para curadores brasileiros e de fora que possam ter interesse no teatro baiano. Integram a equipe que veio ao Festival de Curitiba , além do Secretário de Cultura e da coordenadora de Teatro da Fundação Cultural, o jornalista Joceval Santana, um dos produtores do FILTE (Festival Internacional Latino-americano) e do FIAC (Festival Internacional de Artes Cênicas). Joceval vem justamente para fazer a aproximação entre o kit e os jornalistas e curadores.
PROCESSO PARTICIPATIVO
o Kit foi composto através de consulta a instituições de referência na área – Cooperativa Baiana de Teatro, Sindicato dos Artistas e Técnicos em Diversões do Estado da Bahia (SATED-BA) e Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em conjunto com a Coordenação de Teatro da FUNCEB –, que indicaram 16 espetáculos. Para completar o material, a FUNCEB realizou inscrições através de uma convocação pública. Os trabalhos que se candidataram foram avaliados por três curadores: Maria Rejane Reinaldo (atriz, diretora, pesquisadora, gestora e produtora cultural, diretora do Programa de Formação do Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga), Sérgio Bacelar (idealizador e coordenador do Festival de Teatro Brasileiro) e César Augusto (ator, produtor e diretor, integrante da Cia. dos Atores e diretor do TEMPO_FESTIVAL das Artes– RJ). Eles selecionaram mais 12 montagens, levando em conta a qualidade artística e a potencialidade delas para o desenvolvimento das atividades de difusão.
Após o lançamento, o Kit será enviado a profissionais relacionados a projetos significativos de difusão, circulação e divulgação de espetáculos teatrais no Brasil e no exterior. Em seguida, será iniciado o trabalho de produção de uma nova edição, com montagens estreadas em 2012 e 2013.
DA COLETIVA, ALGUMAS PALAVRAS…
SOBRE O TEATRO BAIANO
“O teatro baiano tem longa história. Pouca gente sabe que a primeira escola de teatro do Brasil foi em Salvador. Nos anos de 1980 e 1990 aconteceu um movimento específico em nosso teatro, como que libertando-se das amarras de valorização de espetáculos de influência européia. A ideia de afirmar-se um teatro baiano fez aparecer fortemente a ideia da comédia, que revelou a irreverência, ousadia e extravagância, enfim, a dramaturgia e um jeito de interpretar baianos. Embora tenha criado uma sensação de que esse teatro era basicamente comédias, foi importante naquela época, até porque esse boom de comicidade acabou por consolidar um teatro que possibilitou a muitas pessoas realmente viverem disso, não apenas como diretores e atores, mas como grupos. Atualmente, como em vários lugares do Brasil, muitos artistas baianos vivem da linguagem, nem sempre atuando apenas em teatro.”
ARTISTAS NA COORDENAÇÃO DA GESTÃO PÚBLICA DA ARTE
As artes tem o papel de ir se reinventando e se renovando. Hoje, na Fundação Cultural da Bahia , encabeçam as coordenações de Linguagem 7 artistas, ou seja, são os artistas pensando politicamente, pensando a forma de gestão. Modificando-se este quadro cultural, obviamente esse teatro se renova, por ser a expressão do que a gente vai sendo, construindo. E é esse potencial, esse panorama mais multifacetado, mais amplo, que tem a sua baianidade mas hoje mais conectado com o mundo, com o que está acontecendo na contemporaneidade, trazendo sua marca cultural, mas transcendendo na sua comunicação e mostrando que é possível se estar em qualquer lugar .
A mostra baiana é um projeto-piloto que integra a iniciativa de difusão das artes. Na Secretaria de Cultura existe a DIRARTE (diretoria das artes), à qual estão integradas as coordenações das linguagens . São as linguagens mesmo, não “artes cênicas”, mas coordenações autônomas de teatro, de circo… (…) E as ações são pensadas a partir das especificidades das linguagens. mas irmanadas por esse pensamento maior, alinhado com o programa.
SOBRE O KIT E A MOSTRA
Nós, da Bahia, temos essa imagem pública cultivada que, sim, acabou por desenvolver o campo profissional da música, possibilitando a um sem número de artistas viverem hoje de sua arte sem sair da Bahia. É claro que a potência dessas manifestações mais comerciais acabou por eclipsar outras. Estamos preocupados em mostrar ao Brasil e ao mundo uma diversidade.
Esta iniciativa (o Kit e a Mostra) faz parte de um contexto mais geral de difusão. Na Bahia, todas as artes estão sendo apoiadas, é claro que respeitando-se o que pareça ser mais importante, o que faz mais eco com a necessidade popular e histórica. Estamos trazendo um kit de difusão da música da Bahia, uma coletânea em CDs, que já é a terceira coletânea divulgada. Também faremos um programa chamado Cultura na Copa, ou seja, uma mostra de dança e teatro, mas também audio-visual e outras manifestações durante a copa das Confederações de Salvador, visando público turista e também jornalistas. Até porque o legado que a Copa deixará não deve ser pensado apenas na parte física, mas no legado imaterial.
É TEMPO DE CONEXÕES DIRETAS
Nossa proposta é não fazer conexões sempre óbvias, ou seja, por exemplo, com Rio e São Paulo. Precisamos de mais conexões diretas, os estados brasileiros se conhecem muito pouco, se relacionam muito pouco, então estamos interessados em fazer essas conexões diferenciadas .
LEVANDO A CULTURA A FESTIVAIS E TRAZENDO CURADORES
Acreditamos nos festivais como os ambientes mais apropriados à difusão. Cada Festival tem sua característica, uns mais experimentais de linguagem, outros com objetivos mais mercadológicos, mas todos são grandes espaços de interlocução. No caso do Festival de Curitiba, ele é imenso e tem a possibilidade de reunir tanta gente de tantos lugares. E o fenômeno Fringe, essa quantidade de produtos culturais. E existe a preocupação que o Festival tem em criar esses vínculos e fazer essas pontes (mercadológicas).
Em 2012, em nosso FILTE (Festival Internacional Latino americano de Teatro), que tem a temática latino-americana como cerne, trouxemos 17 curadores nacionais e internacionais para a Bahia. Resultado: neste festival de Curitiba de 2013 existem 2 espetáculos na Mostra Oficial por terem sido vistos lá (convidados por Celso Cury). Assim, não é o Kit que acompanha a Mostra a única ação, fazemos em paralelo os programas de formação, memória, produção e criação , ou seja, estamos unindo todos os elos da rede produtiva (…) Temos espetáculos que passaram pelo Palco Giratório (Pólvora e Poesia, em 2012) Não adianta apenas fomentar a criação, precisamos acompanhar a trajetória, a difusão, ampliar a capacidade de comunicação desses espetáculos, senão torna-se restrito. A ideia, então, é desde a formação até a memória da produção.
APOIO AOS GRUPOS ARTÍSTICOS EM FESTIVAIS
Temos vários espetáculos baianos todo ano no Fringe e a preocupação atual é de como tornar essa presença algo organizado no sentido de gerar consequências, de desdobramentos. Sempre a Fundação apoiou em passagens, etc, mas mandar o grupo é uma pequeníssima parte. É preciso cuidar de tudo: desde que esses espetáculos aconteçam da melhor maneira do ponto de vista técnico, ou seja, com a condição para que eles ses apresente como eles são, com toda a excelência técnica. Depois, criar um campo de visibilidade para eles.
A ideia da Mostra Baiana é entender que juntos somos fortes, ou seja, que na diversidade, no coletivo, em rede, com todos os princípios de contemporaneidade a gente pode ir mais longe. Juntos podemos criar essa rede de solidariedade e criatividade para trazer frutos mais consequentes e duradouros. Podemos, ir mais longe.