Moby se recolheu nos últimos meses. Com o lançamento de suas memórias, em duas partes, entre 2016 e 2019, alguns capítulos do passado voltaram à tona, mais notadamente um encontro com Natalie Portman que a atriz – na época com 18 anos – denominou como “estranho”. O músico e produtor decidiu então se afastar das câmeras e entrevistas. Mas o período foi curto, e agora atravessado pela pandemia. Em maio deste ano, Moby lançou All Visible Objects, o 17º álbum na sua carreira.
Nesta quarta-feira, dia 5, Moby participa de um bate-papo ao vivo, no seu canal do Twitch, com animadores do seu último clipe, My Only Love, desenvolvido pelo estúdio brasileiro Zombie. O DJ Vintage Culture também vai lançar um remix da faixa no mesmo evento virtual.
No vídeo, que chama a atenção para o desmatamento descontrolado na Amazônia brasileira, Moby alia suas duas atividades principais, a música – que, no disco deste ano, voltou a ter contornos de techno e house, em batidas aceleradas, representando uma espécie de volta às raízes depois de outros trabalhos mais calmos nos últimos 3 anos – e o ativismo vegano, conectando-as diretamente com o momento atual.
“Toda pandemia dos últimos 10 mil anos começou com animais”, diz o músico. “É de onde as pandemias vêm. Seja a praga, o resfriado, o ebola, todos esses vírus vieram dos animais. Tenho um amigo, o dr. Michael Greger, que afirma que a próxima virá de galinhas ou porcos e que vai ser pior. Se a covid-19 teve a habilidade de fechar o mundo, a próxima será realmente apocalíptica.”
Nas suas palavras, o modo de evitá-la é muito “simples”. “Há dois modos: parar de invadir hábitats de animais e parar de usá-los como alimento. Precisamos falar não só sobre os direitos dos animais à vida, mas sobre o direito dos humanos à vida e à saúde. Continuar usando dos animais é o que vai nos matar.”
Ele cita conversas suas com o senador americano Cory Booker, o primeiro senador assumidamente vegano dos Estados Unidos. “Se olharmos para os últimos 200 anos, a humanidade conquistou muitas coisas: acabou com a escravidão, com o trabalho infantil, ampliou o voto feminino, acabou com a Alemanha nazista. Claramente, humanos são capazes de fazer coisas incríveis. O próximo passo, acredito, que seja lidar com a agricultura animal, uma questão que envolve muita tradição e muito dinheiro, especialmente em países como o Brasil.”
Sobre fazer música para dançar num momento em que todos os clubes do mundo estão fechados, Moby diz não encontrar paradoxos na situação, porque ele mesmo não sai mais de casa para “ficar em boates até as 10h da manhã usando drogas” – ele está sóbrio há 12 anos.
“Meu background musical é muito estranho, porque, quando era jovem, toquei música clássica, em banda punk, fui DJ de hip- hop, toquei jazz. Minha abordagem para a música nunca foi para um gênero específico”, explica. Ele trabalhou para finalizar All Visible Objects no estúdio EastWest, em Los Angeles, casa pela qual passaram Beach Boys, David Bowie e muitos outros. “Quase nada mudou no estúdio. Agora tem um computador, mas o estúdio mesmo é idêntico. Especialmente com a eletrônica, a ideia de conectar com essa história e poder usar esses equipamentos é muito forte. É como trabalhar num museu.”
Ao relembrar sua sobriedade – “precisaria de pelo menos uma hora para falar desse assunto” -, ele diz não sentir falta de turnês e shows ao vivo. “Percebi que não gostava de fazer turnês. Gosto de tocar, mas não queria ser um outro cara de meia-idade viajando e ficando nos mesmos hotéis, tocando hits. Há tantas pessoas fazendo isso que sinto como um serviço prestado eu ficar em casa.”
Extremamente decepcionado com os rumos políticos que diversos países no mundo tomaram – cita EUA, Brasil, Turquia e Índia -, ele diz que a ideia, com sua música, é tentar encontrar indivíduos, e “não cidadãos de um país, membros de um partido político. Quero tentar criar conexões e emoções”.
Sobre as polêmicas relacionadas a seus livros, ele as atribui a mal-entendidos. “Ninguém leu. Digo isso categoricamente porque sei dos números de vendas. Mas quero basear meu senso de mim mesmo, e minha visão de mundo, no que é real. E o que tende a ser real são os amigos, a família, a espiritualidade, a saúde.”
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.