Como foi o seu festival? As respostas são inúmeras. Há quem só assistiu a um tipo de mostra do Fringe, há quem só assistiu a espetáculos de rua, há quem só assistiu a peças da mostra principal. O Festival de Curitiba é tão grande que, acertadamente, a Mostra Guritiba (para crianças) será nas próximas semanas, por não haver estrutura e logística.

Agora me ocorreu que o Festival de Curitiba poderia se estender  a todos os meses do ano: em março, a Mostra Contemporãnea Brasileira; em abril, a Mostra Seu Nariz,em maio… Nãodava? Festival de Curitiba o ano inteiro, Curitiba seria a terra do teatro. Quem sabe, no futuro, não é? De qualquer maneira, no rastro do Festival os produtores locais continuam mantendo vários espetáculos e alguns estão estreando. Há algum tempo se reclamava que o público, após ter gasto seu dinheiro agora, sumia das casas de espetáculo por um mês, ao menos.. Parece que agora a coisa está mudando. Que bom!

O meu Festival foi basicamente o da mostra oficial. Foi um prazer ter assistido a Essa Criança (de Curitiba) e a Prazer (de Belo Horizonte). E a decepção foi “A Arte e a Maneira de Aboradr Seu Chefe Para pedir Um Aumento”  (do Rio de Janeiro), já – desde o título – sem muita arte.  Consegui  assistir ainda a alguns espetáculos e tive sorte: assisti a três da Mostra Baiana, cuja produção e divulgação foi exemplar. Cumpriu o que prometeu, trazer um cardápio de gêneros e, mais que isso, uma noção da “estética baiana”: muito corpo e sonoridade, muito cuidado visual e alegria. E, mais que tudo, um recado claro da necessidade de termos novo olhar, um olhar para nossa ancestralidade africana. Somos descendência de um grande continente e de cultura rica, e não de uma terra de tribos beligerantes e de escravos; se é verdade que para se amar é preciso conhecer, está na hora de colocar nas grades curriculares tanto a história da África quanto a da América do Sul. É incrível como não nos conhecemos e como nos achamos estranhos em muitos de nossos costumes, obviamente porque não fomos ensinados a reconhecê-los, mas a confrontá-los com os dos países de um chamado “primeiro mundo”.

O espetáculo mais completo e bem acabado, neste sentido foi  Afrikas, o infanto-juvenil do Bando de Teatro Olodum que brinca em contar lendas africanas: bem interpretado, bem coreografado e, naturalmente, de uma riqueza musical ímpar. Sirê-Obá – mais cerimônia que teatro – também é muito importante na medida em que vem mostrar que termos como orixás, umbanda, candomblé, terreiro e tantos outros são parte de um imaginário lindíssimo e da religiosidade de um povo. Pena não ter sido realizado em local mais apropriado, no qual o público estivesse imerso no clima de terreiro.

Assisti, também, a alguns espetáculos doe  Encontro de Caixeiros do Teatro lambe-lambe, com as “mostras Espia Só!  (Cia Andante, de Itajaí (SC)) e Viajantes (Teatro de Caixeiros /Cia A Ditacuja, de Ribeirão Preto(SP). Os espetáculos têm em comum a linguagem criada na Bahia por Ismine Lima e Denise di Santos nos fins dos anos 80: cada um é realizado por um ator/manipulador para um único espectador, que coloca os fones de ouvido e, começada a sonoplsatia, cobre a cabeça com um pano escuro e espia durante  aproximados 2 minutos) o que acontece no interior da caixinha. O espectador é convidado a assistir aos sete espetáculos, independentes em gênero e linguagem: um minifestival.

Mas de onde vem o Teatro Lambe-lambe, afinal? É uma linguagem inspirada nas antigas caixas de fotografias lambe-lambe (aquelas em que o fotógrafo enfiava a cabeça por baixo do pano e “pfffff”, lembram?).

A  Cia Andante, de Itajaí, ministrou em 2012 uma oficina em Ribeirão Pretoe a Cia A Ditacuja aderiu imediatamente à linguagem, criando um núcleo específico para se dedicar a ela. Mesmo distantes geograficamente, as companhias mantiveram contato estreito e o Teatro de Caixeiros recebeu, via redes sociais, a orientação daqueles que chamam de mestres: Jô Fornari, Laércio Amaral e Sandra Knoll.

Um consequência importante do teatro Lambe-lambe: uma vontade imediata da gente fazer nossos próprios espetáculos. Se você ficou com vontade, pode aguardar que eles devem voltar à Curitiba para ministrar alguns cursos. Ou se comunique pelo site www.cia-andante.com.br.

Até 2014!