Conheça a história de Eduardo Sahão, músico londrinense multi-instrumentista

por Ana Clara Marçal
com supervisão de Bruna Melo
Publicado em 19 jul 2021, às 12h41. Atualizado às 18h35.

“Talvez a música seja o mais próximo do que é amar alguma coisa de verdade.” Eduardo Assad Sahão tem 29 anos e inspira, respira e transpira música. Jornalista e músico de formação, ele brinca que, diferente de muitas pessoas, tem o primeiro como um hobby e o segundo como profissão.

Natural de Londrina, norte do Paraná, Eduardo é, também, arranjador, multi-instrumentista, compositor, pesquisador e regente. Desde 2012, faz parte da banda de rock Senhor Bonifácio, junto de Marcelo Celligoi, Renan Muliterno e Vitor Dellalo. Os “meninos de terno”, como são conhecidos devido ao figurino usado nos shows, inspirado nos Beatles e nas bandas dos anos 60, já dividiram o palco com grandes nomes da música brasileira, como Nando Reis, Lulu Santos, Skank, Jota Quest e Anitta.

“Tudo o que eu sou hoje foi graças à música […] ser músico te coloca em prova muita coisa e faz você se questionar o tempo todo. Quem você é. Como você é. Como você deveria ser. Te coloca em contato com culturas, com situações diversas que você tem que administrar, situações boas e ruins. E é uma evolução muito grande. É uma evolução pessoal. A música acho que talvez seja a responsável por entrar o mais fundo possível dentro de alguém. E quando esse alguém somos nós mesmos, é aí onde mora a riqueza.”

explica Eduardo.
Eduardo se apresentando com a banda Senhor Bonifácio / Foto: Arquivo Pessoal

Primeiras notas

Das mãos, o multi-instrumentista tira sons, melodias, lágrimas e sorrisos. O primeiro contato com a música começou cedo, dos sete para os oito anos, quando entrou no conservatório de piano.

“Eu sempre digo que eu tenho dois caminhos pelos quais eu trilhei desde muito cedo: que é a música clássica e a música popular […] minha bisavó era pianista concertista, ela foi uma das primeiras fundadoras da primeira orquestra do Paraná, orquestra de Ponta Grossa. Ela era uma grande pianista e eu estudo os materiais dela até hoje. […] Por outro lado, meu pai veio de uma formação bastante popular. Ele adorava os Beatles, Queen, David Bowie e aí ele me apresentou essas coisas, e eu amava.”

comenta o músico.
Primeiras aulas de piano, em 1998 / Foto: Arquivo Pessoal

Desde então, Eduardo não parou. Transitando entre diversos instrumentos, fala que sempre foi curioso e queria saber os sons dos aparelhos. Aos 16 anos, decidiu que estudaria música. Graduou-se na Universidade Estadual de Londrina (UEL), ao mesmo tempo em que fez jornalismo em uma universidade particular da cidade. Foi nesse mesmo momento que teve sua primeira banda, com a qual conquistou o segundo lugar em um reality show famoso da época. Com os integrantes, viajou por todo o país.

Depois de formado, iniciou os estudos em regência e em contrabaixo acústico. Tocou em orquestras acadêmicas e de ópera. Tornou-se mestre em educação musical pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Hoje, de volta à Londrina, devido à pandemia, tem se dedicado aos estudos e iniciou um canal no YouTube – sonho antigo. Eduardo continua, também, fazendo trabalhos de composição de trilhas sonoras, arranjo de obras e shows com a Senhor Bonifácio.

Eduardo regendo uma orquestra na Igreja Matriz de Rolândia, em 2019 / Foto: Arquivo Pessoal

“A música muda a vida das pessoas. Eu percebi isso desde muito cedo na faculdade porque a gente tinha a oportunidade, no curso de licenciatura, de vivenciar algumas experiências dentro das escolas. Era simplesmente você conseguir intervir naquele ecossistema escolar a ponto de que você conseguisse projetar uma melhora na convivência social através da música. Dar aulas de música. […] A gente começa a ter um pouco mais de sensibilidade. E essa sensibilidade gerada por esse tipo de arte deve ser aplicada o tempo todo, deve ser inserida e imprimida o tempo todo em tudo o que a gente vai fazer.”

destaca o músico.

Viver de música

Arranjador. Compositor. Produtor. Instrumentista. Produtor dentro de estúdio. Empresário. Copista. As profissões ligadas à música são diversas, como comenta Eduardo. Mesmo assim, estabelecer uma carreira na área, no Brasil, pode ser difícil.

“É uma coisa que exige muito. Porque não está presente na nossa estratificação educacional a aula de música. É uma coisa que é deixada, geralmente, a período de contra turno escolar […] aqui no Brasil a gente não tem essa cultura que outros países têm em relação à própria concepção da música dentro da escola e da diferença que faz. […] Essa questão de viver de música no Brasil, existem muitas maneiras só que aqui é mais difícil você conseguir encontrar uma. Por uma questão de falta de postos.”

explica o multi-instrumentista.

Para aqueles que sonham em construir carreira na área, Eduardo aconselha: “estude e não desanime. Trate a música como ela deve ser tratada, independentemente do gênero musical”.

“Valorize a música que você tem no seu bairro, na sua cidade, no seu espaço de convivência. […] A gente tem um déficit muito grande cultural no Brasil, hoje, por falta de incentivo, dos órgãos públicos, em grande parte. Algumas pessoas fazem diferença, sabe, então valorize essas pessoas que produzem cultura, que incentivam cultura e que levam cultura até você […] somos brasileiros e temos muita coisa maravilhosa dentro do Brasil.”

finaliza o músico.