Brad Pitt viaja pelo sistema solar em busca do pai em Ad Astra
Cotação: ★★★½
Futuro bem próximo. Um tempo tanto de esperanças quanto de conflitos. A humanidade olha para estrelas em busca de vida inteligente e a promessa de progresso. TO THE STARS. Assim, com esta breve descrição de tempo e ambientação em nosso planeta, começa Ad Astra, a ficção científica desta temporada que está altamente cotada para ganhar várias indicações ao Oscar da temporada e chega hoje aos cinemas brasileiros.
Brad Pitt interpreta o astronauta Roy McBride, que embarca numa desafiadora missão espacial, em busca de respostas para o que pode estar aparecendo nos radares da Nasa como uma terrível ameaça à terra. Mas a ambição profissional não é tudo para ele. Roy também parte rumo à imensidão do sistema solar por um motivo pessoal. Também quer saber o que aconteceu e onde estaria seu pai Clifford, pioneiro das viagens a longas distâncias, que desapareceu quando chefiava uma missão em Netuno, o último dos oito planetas oficiais que giram ao redor do sol.
Junto com Roy no foguete, o espectador embarca na grande viagem pessoal dele. Boa parte das palavras que são ouvidas vêm de seus pensamentos e questionamentos internos. Quando não há o monólogo do protagonista, escuta-se vozes abafadas durante as transmissões radiofônicas. Quanto mais se ganha o espaço sideral, com passagens marcantes pelos solo da Lua e de Marte e considerações sobre os rastros deixados pela humanidade por lá, mais se pode se sentir sozinho como Roy, tanto espacialmente quanto na sua determinação de buscar as respostas que tanto abalaram sua mente e sua alma nas últimas décadas de vida. Toram-se aliados de imensa valia neste desbravamento duplo de McBride a trilha sonora ambient-progassinada pelo compositor minimalista alemão Max Richter e a fotografia espetacular do mezzosueco mezzo holandês (e nascido em solo suíço) Hoyte Van Hoytema, que nos últimos anos já brindou os cinéfilos com outros trabalhos de puro delírio visual como Dunkirk e Interestelar.
Embora tenha todo o aparato de filme pop sixtie de ficção científica, Ad Astra, na verdade, é em sua essência um bom drama generacional, focado em diferenças e angústias vividas entre pai e filho e também na ausência do primeiro. Tommy Lee Jones, com bem menos tempo na tela, dá um show de interpretação como Clifford. Já Pitt bem que se esforça para entregar uma boa performance como Roy, um cara com leves traços de autismo e que não se abala emocional e psiquicamente diante de grandes desafios, a ponto dos batimentos cardíacos pouco acelerarem em momentos mais tensos e de não demonstrar muita distinção em expressões faciais. Contudo, esta parece ser mais uma vã tentativa do atore produtor em bancar executivamente algo que finalmente possa lhe render algum Oscar em sua principal categoria de atuação na indústria cinematográfica. Mais uma vez aqui Brad esbarra na pretensão de querer fazer algo que lhe possa significar o reconhecimento definitivo do mercado de sua já extensa carreira. Seu Roy não chega a ser algo sofrível em cena, mas com certeza poderia render bem mais se estivesse nas mãos de outro intérprete hollywoodiano.
James Gray, responsável por direção e roteiro (em parceria com Ethan Gross), é quem acaba dando aqui o salto de qualidade em sua carreira. Até agora conhecido por obras de projeção ou impacto menores (como Z – A Cidade Perdida, Fuga Para Odessa, Amantes e Era Um Vez em Nova York). Com um elenco de coadjuvantes de primeira (Lee Jones, Lyv Tyler, Donald Sutherland e sempre forte e surpreendente Ruth Negga), equipe técnica capaz de produzir coisas mirabolantes em suas funções e uma história de forte carga emocional que á capaz de cruzar a fronteira do fandom de sci-fi e ganhar um público bem maior, Gray acaba se revelando como o grande nome por trás de todo este bom projeto cinematográfico.
Ad Astra (EUA/Brasil/China, 2019). Direção: James Gray. Roteiro: James Gray e Ethan Gross. Com Brad Pitt, Tommy Lee Jones, Ruth Negga, Donald Sutherland, Liv Tyler. Fox. 101 minutos. Estreia nos cinemas brasileiros: 26 de setembro.