A prateleira do conhecimento

Publicado em 6 set 2019, às 00h00. Atualizado em: 9 jun 2020 às 15h38.

Quem trabalha com marketing e comunicação sabe: ter novas ideias todo dia, com a tal e esperada “pegada criativa” não é tarefa fácil. E é comum a nossos parentes e amigos, geralmente profissionais de outras áreas, acreditarem que as ideias dos “marqueteiros” vem apenas de pura inspiração, de alguma entidade divina, ou apenas da vocação.
Escrevendo isso, me lembro de um dia em que minha mãe me pediu pra criar uma frase criativa – se possível com uma boa rima- para um concurso, alegando que eu saberia fazer estas frases, porque trabalhava com marketing. Eu, na época, rindo, respondi que sou uma profissional de marketing, e não uma repentista. Mas a verdade é que é assim que muitas vezes somos vistos e, da mesma forma, somos cobrados: sermos criativos 24 horas por dia e 7 dias por semana.

O fato é que, por óbvio, diferentes profissões exigem diferentes aptidões e habilidades, mas, longe de acreditar que as soluções criativas vem apenas do acaso, acredito que elas são fruto de técnica e do que passei a chamar de “ingredientes da prateleira do conhecimento”. E o que seriam estes ingredientes? tudo. Observar, perguntar, assistir e, principalmente, LER.

Para mim, não existe leitura ruim. Ruim mesmo é não ler nada.
Sei que essa afirmação, pode até parecer uma pretensa frase de efeito, ou ainda um quase pedido de desculpas pra quando a gente lê livros de auto-ajuda ou mal conceituados, mas o fato é que a leitura nos proporciona conhecer, aprender e, o mais importante, incorporar e guardar conhecimento e referências que podem ser usados a qualquer momento.

Isso sem contar tantos outros benefícios que vem sendo apontados por estudos científicos e pesquisas.
Uma destas pesquisas foi encomendada pelo Kindle e conduzida pela consultoria Kelton Global em 13 países, com 27.305 participantes. Os resultados mostram que 71% dos leitores semanais dizem que se sentem mais felizes, em comparação a 55% dos outros leitores, e apontou também que a leitura melhora nossos relacionamentos, já que leitores usam livros para estimular conversas significativas e criar conexões mais profundas com outras pessoas – o que, profissionalmente, pode ser uma excelente ferramenta de networking.

Os benefícios físicos também são inquestionáveis: um estudo britânico divulgado pelo DailyMail submeteu 294 pessoas com mais de 55 anos a testes cognitivos a cada seis anos, até a morte, e descobriu que as pessoas que realizavam atividades mentalmente estimulantes, como a leitura, apresentavam uma taxa mais lenta de declínio na memória (taxa de declínio 32% menor em pessoas com atividade mental frequente).

Outra pesquisa, esta realizada pela consultoria Mindlab International, da Universidade de Sussex, comprovou que a leitura também ajuda a reduzir o estresse, pois a mente humana precisa se concentrar para a leitura, e a distração de ser levado para um mundo literário facilita as tensões nos músculos e no coração.

A leitura, aliás, foi a atividade que melhor respondeu pela redução em voluntários cuja frequência cardíaca e estresse foram propositadamente aumentados por meio de testes e exercícios para a realização deste estudo: segundo afirmou o neuropsicólogo cognitivo Dr. David Lewis Seus, a leitura reduziu o estresse em 68% dos voluntários, enquanto ouvir música reduziu os níveis em 61%, tomar uma xícara de café reduziu em 54% e jogar videogame os derrubou em 21% do nível mais alto.

Com tantos benefícios, não é à toa que lemos relatos de tantas mentes brilhantes e grandes líderes e executivos, que tem em comum o hábito e paixão pela leitura. Segundo um artigo publicado na Harvard Business Review, o fundador da Nike, Phil Knight, venera tanto a sua biblioteca particular que exige a seus visitantes tirarem os sapatos antes de adentrá. Oprah Winfrey é outra personalidade amante da leitura que, inclusive, compartilha o seu hábito abertamente, por meio de um clube de leitura e credita boa parte de seu sucesso a livros que leu. Da mesma forma, em entrevistas Bill Gates afirmou que lê 50 livros por ano e estima-se que Mark Zuckerberg lê, ao menos, um livro a cada duas semanas.

E muitas pessoas tem percebido estas vantagens e afirmam ter o desejo de dedicar mais tempo à leitura. A pesquisa encomendada pelo Kindle que citei no início do texto constatou 45% das pessoas estabeleceram como meta anual de desenvolvimento pessoal ler mais livros – esta meta foi, inclusive superior ao desejo de perder peso em nosso país.

Mas sou suspeita em falar tão bem da leitura, porque sou do tipo de pessoa que sempre gostou de ler e de se expressar pelas palavras.
Meu espaço de leitura, aliás, é o canto favorito da minha casa e lá é possível encontrar todo tipo de livro. Nesta minha rotina de leitura, procuro alterar livros técnicos, de filosofia, de romance e de poesia. E confesso que algumas pessoas estranham, e me perguntam como a poesia, por exemplo, pode me ajudar a melhorar como marqueteira. Mas posso afirmar que todo o conhecimento ajuda.
Eu já tive ideias para um painel de Convenção de Vendas lendo uma poesia do Braulio Bessa, por exemplo. Da mesma forma que já tive ideia de nomes de projetos lendo um bom romance ou já enxerguei oportunidades de negócios lendo um livro sobre economia.
Fazendo uma alusão ao mundo da culinária – já que a paixão pela cozinha está tão em alta – eu enxergo cada livro que eu leio como um ingrediente que terei à disposição na minha prateleira para que, no momento em que eu precisar, eu possa ter acesso a uma variedade enorme de insumos para criar e produzir o melhor, mais gostoso e mais adequando prato, para cada ocasião.

A leitura de notícias, artigos e entrevistas também nos traz conhecimento e podem ficar na prateleira. Mas, em dias como os de hoje, em que somos atingidos por temporais constantes de informação de todos os tipos, acabamos sabendo de tudo um pouco, mas sempre de forma rasa. A leitura de um livro, no entanto, nos permite aprofundarmos o conhecimento de um tema e nos mergulharmos de forma mais concentrada em um assunto, o que nos ajuda a realmente absorver e guardar o que aprendemos.
Esta é a forma que me é prazerosa e que funciona para que eu tenha sempre meu mercadinho, minha prateleira de ingredientes cheia e pronta para o uso. Mas cada pessoa tem a sua própria forma de fazer.
E você? Já abasteceu a sua prateleira hoje?