Um Caso Real de Autoconsciência e Liderança
Quero compartilhar um caso real de autoconsciência e liderança. Há um tempo atrás recebi um cliente novo de coaching. Ele veio por conta própria e me disse que estava com problemas na empresa. Seus funcionários estavam fazendo denúncias no canal de Compliance da empresa dizendo que ele era um gestor assediador. O resultado da pesquisa de clima da sua área era o pior da empresa. E poucas semanas antes ele havia sido informado pelo RH que dois ex funcionários tinham entrado na justiça pedindo danos morais pelo Assédio de seu gestor. Ele estava com olhos arregalados e me disse: “”No começo achei que era “mimimi” mas agora começo a pensar que há algo errado realmente. Tem algo que eu faço que impacta as pessoas mas eu não sei o que é. Só sei que esse não é o tipo de gestor que eu quero ser”.
Esse caso me marcou por várias razões. Primeiro pois nem sempre o gestor chega para o processo de coaching com a prontidão para o aprendizado. Frequentemente é encaminhado ainda em estágio de negação e leva um tempo até compreender que talvez haja algo para ser explorado. O segundo aspecto que me marcou foi que ele sabia o que queria SER mas também estava consciente que havia um abismo entre o desejo do seu coração e o comportamento que ele estava tendo com sua equipe. E isso também é significativo.
A diferença em como nós nos vemos e como as outras pessoas nos consideram é uma das melhores avaliações que podemos ter da nossa própria auto consciência. E existe uma relação intrigante entre auto consciência e poder. Quanto mais alta é a posição de alguém em uma organização maior é a diferença. Conforme as pessoas ganham poder diminui o grupo de pessoas que se dispõem ou tem coragem suficiente de falar sinceramente sobre os impactos do comportamento. A falta de auto consciência deixa muitos líderes sem noção.
Auto consciência: capacidade de gerenciar a nós mesmos e perceber como o que fazemos impacta os outros.
Frequentemente o que está por trás de situações como essa são líderes que até podem entregar muito resultado mas o fazem de forma pouco sustentável a médio prazo. Líderes com estilo super realizador e focado são chamados de marcadores de ritmo. Criam um ambiente tóxico que desanima seus liderados. Eles são tão obstinados pelos objetivos e metas que ficam cegos para o impacto que provocam sobre as pessoas que estão ao seu redor.
“O sol é o melhor desinfetante” diz Daniel Goleman em seu livro Foco, referindo-se a esse processo de tomada de consciência e responsabilização de seus próprios comportamentos. Este líder que mencionei a vocês teve coragem de enfrentar um longo processo de desenvolvimento e humildade para sair da posição de desqualificação onde se ouve “o problema são os outros” e “é muito mimimi” para “como eu posso contribuir para estimular a melhor versão do outro?”, “como posso melhorar a minha resposta diante da raiva?”. Sim, nós descobrimos que quando a raiva batia na porta ele tinha dificuldade de gerenciá-la adequadamente e além das suas palavras a sua expressão corporal se tornava desproporcional. Tomar consciência disso e aprender a expressar a raiva de forma produtiva foi um dos grandes objetivos deste processo. O resultado foi um resgate de sua imagem e credibilidade na organização a ponto de colocá-lo dois anos depois no ranking dos gestores mais bem avaliados de sua organização.
Ao final do processo ele me perguntou se ele tinha sido o gestor mais “carne de pescoço” que eu já tinha assessorado. Na verdade não. Receber uma pessoa que quer mudar e que está disposto a olhar com coragem de experimentar novos comportamentos é “filet mignon”, um privilégio para mim.
E você, o que tem feito para ampliar sua auto consciência? Qual será que é o impacto que causa no meio? Tem coragem de descobrir?