Pontos Cegos Éticos
Um novo mundo está para emergir pós COVID-19. Ao mesmo tempo que surgirá uma demanda para uma liderança mais humanizada, os times podem sentir uma enorme pressão para recuperação financeira das organizações o que pode aumentar o risco de vir a tona áreas cegas éticas. Líderes precisarão dar o exemplo ao mesmo tempo que mitigam esse risco.
Desde o tempo de Jack Welch (ex CEO da GE) já descobrimos que profissionais que entregam muito resultado mas tem um comportamento tóxico são os mais nocivos para a organização. Também são os mais difíceis da empresa demitir pois frequentemente seus gestores sentem-se em um dilema entre resultado e comportamento. A área de Gestão de Pessoas precisa trabalhar muito mais forte no levantamento de fatos e dados e insistindo para o alinhamento comportamental nestes casos. E a longo prazo esse investimento de tempo e desenvolvimento pode gerar ruídos internos entre os demais colaboradores que observam e percebem as incoerências organizacionais.
Lembro de uma experiência que tive com uma colega que contratou um treinamento EAD e repassou o email e senha para várias pessoas poderem acessar o treinamento. Quando questionada ela me disse que sua intenção era que mais pessoas aprendessem o conteúdo do treinamento pois tinha agregado muito valor a ela, mas em meio à sua “boa intenção” estava infringindo um princípio ético de que o curso era pago por indivíduo que acessava. Vejo isso acontecer frequentemente com o compartilhamento de livros e revistas em grupos de whatsapp. Com a justificativa de compartilharem conhecimento esquecem que materiais possuem direitos autorais que precisam ser respeitados. Outra colaboradora de uma empresa que eu trabalhava que foi demitida pois passou uma conta pessoal no cartão de crédito corporativo. Ela achou que não teria problema afinal eram apenas $50.
Uma das causas desses pontos cegos surgirem é a inabilidade de lidar com informações contraditórias. A organização pode ter um código de conduta estabelecido mas muitos dilemas éticos não estão descritos nesses manuais. É por isso que tão importante quanto criar normas e códigos, fundamental é expandir a capacidade de pensar em dilemas éticos.
BOAS PRÁTICAS
Para organizações:
Que tal se uma vez por ano a sua empresa convidasse seus colaboradores para fazer uma reflexão sobre os principais dilemas éticos ocorridos nos últimos anos na própria empresa? Transformando as situações em cases para serem estudados, debatidos e por fim, se necessário, pessoas poderiam ser orientadas.
Outro aspecto importante é investir na capacidade reflexiva de seus líderes. Muitas vezes a falta de auto percepção pode levar gestores a não compreenderem o impacto de suas ações. Além de estarem na vitrine podem causar dano financeiro e moral.
E fundamentalmente garanta que há canal isento de comunicação para denúncia, que sejam tratadas em comitês. É necessário mitigar o risco de entregar para a “raposa cuidar do galinheiro”.
Para profissionais:
Investir na sua integridade é como uma aplicação de longo prazo. No curto prazo você pode até ser ridicularizado por não aceitar certas vantagens ou por estabelecer limites claros em seu papel profissional. Mas a longo prazo, esse investimento pode lhe render muitas portas abertas e pessoas dispostas a assinar abaixo do seu nome. Mas não basta você acreditar que a integridade é importante e ter boa intenção. Como profissional também precisará investir em autoconhecimento, compreender o impacto de seu comportamento, refletir sobre esses dilemas. Você pode ler matérias sobre como empresas lidaram com grandes questões éticas, trocar experiência com colegas e ter um mentor. Alguém mais experiente que possa lhe ajudar a refletir sobre questões não tão obvias que podem cercar as pequenas decisões do dia a dia.
A sociedade 5.0 está emergindo e novos comportamentos e habilidades serão necessárias para organizações e profissionais se sustentarem a médio e longo prazo. E a mentalidade de aprendizagem constante é fator crítico de sucesso neste novo contexto e isso também se aplica às questões éticas. Quais seriam os seus pontos cegos éticos?