Limites para a Tecnologia

Carreira em Foco

por Luciana Gazzoni
Publicado em 29 jun 2021, às 12h36. Atualizado às 12h57.

Muitas pessoas têm uma ideia errada sobre os limites. Eles acreditam que limites representam que você não está dando conta, que pode parecer falta de engajamento ou acreditam que as pessoas em volta deveriam saber quando estão invadindo o seu limite. Limites saudáveis ​​são na verdade uma chave para relacionamentos bem-sucedidos. Sem o estabelecimento desses limites podemos sentir ressentimento, decepção ou sensação de violação e isso pode ser bastante tóxico. O primeiro artigo dessa série você encontra aqui: https://ric.com.br/noticias/economia/luciana-gazzoni/limites-e-a-conexao-com-a-saude-integral/

Para darmos limites precisamos acessar o que estamos sentindo e precisando e escolher dar voz a tudo isso. Muitas vezes pensamos que o outro está violando os seus limites mas na verdade frequentemente nós é que não comunicamos de forma eficaz nossos sentimentos e necessidades.

Hoje quero explorar os limites para a tecnologia. Percebo que após um ano e meio de pandemia, a entrada e uso da tecnologia (whatsapp, email, redes sociais, TV) teve uma invasão muito maior na minha vida e da minha família. Afinal estamos trabalhando, estudando e interagindo socialmente quase que exclusivamente pelos dispositivos eletrônicos.  Tenho a sensação que os espaços trabalho, escola, casa, família foram invadidos e que não há mais fronteiras. Mas na verdade essa é uma decisão e escolha que precisamos fazer conscientemente.

Consciência dos Impactos

Primeiramente precisamos estar conscientes que quando utilizamos alguns desses recursos liberamos dopamina. Dopamina é um neurotransmissor que atua em diversas frentes: está envolvido com a memória, a regulação do sono, a motivação e o sistema de recompensa. Quando nosso cérebro libera dopamina sentimos prazer. Mas nosso cérebro vai alternando a liberação de outros neurotransmissores quando estamos saudáveis. A compulsão ou o vício acontece quando há um desequilíbrio e o neurotransmissor é liberado de forma desproporcional. Você interage, libera uma sensação prazerosa na sua mente, seu corpo pede para você continuar. E isso pode acontecer até o ponto de o cérebro perder o comando e não conseguir mais cortar tal estímulo, o que atrapalha a vida, os seus relacionamentos e pode até impactar no seu senso de compromisso em outras áreas da sua vida. No caso dos jogos eletrônicos, a OMS passará a classificar como transtorno psiquiátrico, a partir desse ano, o vício em games. Há relatos de pessoas que perderam total controle e negligenciaram necessidades fisiológicas sem conseguir parar de jogar por dias.

O problema não é de fato a tecnologia mas o descontrole, o abuso na utilização. Assim como não é um problema tomar uma taça de vinho mas sim o abuso da ingestão do álcool.

No papel de pais, é nosso dever estabelecer limites. Se seu filho quer deixar de fazer atividades para ficar jogando, se o comportamento mudou, se não consegue ficar longe dos dispositivos é sinal que está na hora de encontrar um “retorno” o mais breve possível. Não podemos esperar que eles administrem sozinhos. É necessário controlar o tempo e o tipo de exposição.

Como líderes também podemos passar uma mensagem que contribui para esse cenário tóxico. Muitos associam nível de comprometimento com disponibilidade sem limites. Se você é líder de uma equipe, saiba que pessoas que não conseguem se desligar do trabalho, permanecem em estado de alerta e irão acionar seus sistemas mais primitivos de sobrevivência. Isso impactará na criatividade, inovação e capacidade de solucionar problemas. É isso mesmo que você deseja?

Como profissionais, o nosso trabalho vai nos convidar para ficarmos conectados 24 horas / 7 dias por semana. Porém esteja consciente que quem não tem tempo de descanso real diminui a sua produtividade a médio prazo. E fazer pausas de qualidade é um sinal de disciplina e não de preguiça como muitos acreditam.

Boas Práticas

Percebeu que está permitindo invasão de limites? Confere as dicas que preparei sobre boas práticas:

  • Diga ao seu smartphone quem é dono de quem;
  • Estabeleça um horário limite para responder mensagens;
  • Comunique seus limites tecnológicos ao seu gestor e colegas de trabalho se perceber que está existindo abuso;
  • Como gestor, dê o exemplo. Não fique demandando em horários inadequados;
  • Faça pausas de qualidade e nesses períodos deixe seu telefone longe de você e sem sinais sonoros;
  • Deixe o celular em casa nos finais de semana e saia passear. Perceba como se sente e qual o seu nível de sua compulsão;
  • A vida é muita curta para gastarmos nos distraindo. Olhe para quem está em volta de você! Escolha conscientemente o seu foco!

Encorajo você a estabelecer um limite tecnológico, defender esses limites e mantê-los durante 40 dias na sua vida. A responsabilidade é sua de cuidar de si. Vitimizar-se, projetar a culpa na empresa e no chefe não irá resolver. Lembre-se que limites estão relacionados com a sua saúde mental, proteção e conexão com a sua melhor versão.