O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, disse que a pandemia do coronavírus levará o comércio internacional a sofrer “inevitavelmente” um grande baque em 2020. A previsão dos economistas da entidade é de perda de 13% neste ano. “Isso é pior do que na crise de 2008/2009, pior do que isso só na grande depressão”, completou.
Em evento virtual organizado pela Câmara de Comércio Internacional no Brasil (ICC Brasil) e pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), Azevêdo ressaltou que as políticas fiscais estimulativas que estão sendo adotadas por países no mundo todo para fazer frente à pandemia terão que ser corrigidas, mas que isso não pode ser feito de maneira prematura, para não anular os efeitos do aumento de gastos. “Não adianta ter política estimulante no fiscal e restritiva no comercial, ou uma anula a outra”, afirmou.
Questão ambiental
Azevêdo disse que a questão ambiental não é conjuntural e veio para ficar. “Qualquer grande acordo mundial no futuro incluirá questão ambiental. Na OMC, começam a falar de negociações que levem questão ambiental em consideração. Ela não vai sumir e temos que estar preparados para lidar com ela de maneira construtiva e crível”, afirmou.
No evento virtual, Azevêdo, que deixa o cargo no fim deste mês, disse que a reforma da OMC não ocorrerá de maneira “rápida, nem óbvia” e que inclui temas como subsídios, cuja discussão “requer sensibilidade política e toma tempo”.
Ele acredita que o eixo EUA- China continuará ditando a política internacional nos próximos anos e lembrou que isso vinha causando tensões mesmo antes da pandemia. “EUA e China se veem como rivais, sobretudo o lado norte-americano, e têm modelos políticos diferentes. Isso leva a tensões. Houve desaceleração econômica em 2019, já resultado de tensões entre EUA e China”, completou.