Tendo mantido sem interrupções a faixa de seis dígitos desde o último dia 15, o Ibovespa sacolejou um pouco, por dinâmica própria, entre as duas últimas sessões de julho e as duas primeiras de agosto. Com a porta deixada aberta nesta quarta-feira, 5, pelo Copom para juros abaixo de 2% após este corte de 0,25 ponto porcentual, o índice volta a ganhar alguma força, emendando nesta quinta, 6, a segunda sessão de retomada, embora em grau um pouco inferior ao observado no início da tarde, quando alcançou a marca de 104.523,28 pontos na máxima da sessão.
Ao fim, o índice de referência da B3 apontava ganho de 1,29%, aos 104.125,64 pontos, saindo de mínima a 102.794,76 pontos na abertura. Invertendo a lógica que prevalecia até o comunicado de ontem à noite do Copom, o Ibovespa operou à frente do exterior na maior parte da sessão, com Nova York mostrando indecisão entre perdas e ganhos mais cedo, embora sustentando alta no fim, com Nasdaq em nova máxima histórica, após sessões negativas na Europa e na Ásia. A incerteza sobre o ritmo de recuperação global colocou o ouro, mais tradicional ativo de proteção, em nova máxima histórica, a US$ 2.064,4 por onça-troy, no fechamento de hoje da Nymex para os contratos de dezembro.
Muito vinculadas ao cenário externo, as ações de commodities, que contribuíram para dar impulso ontem ao Ibovespa, perderam ímpeto hoje, assim como as de siderurgia, mas o desempenho positivo do índice nesta quinta-feira foi assegurado pelas ações do setor elétrico e de bancos. As ações de elétricas, em especial as de transmissoras, aceleraram alta no início da tarde, após a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovar edital do leilão de transmissão a ser realizado no mês de dezembro. Outro desdobramento positivo para o segmento foi o arquivamento da MP 950, ontem, na Câmara dos Deputados, o que contribui para diminuir a burocracia para liberação de ajuda ao setor, assunto já regulamentado pela Aneel.
Destaque para Copel, em alta de 5,19% no fechamento, à frente de Cemig (+4,01%), Eletrobras ON (+3,65%) e Cesp (+1,11%). Na ponta do Ibovespa, BR Malls (+11,20%), Totvs (+10,85%) e Cielo (+10,67%), após ter sido contida recentemente, como outras ações do setor financeiro, pelos ruídos em torno da recriação de um imposto como a CPMF e pela expectativa para a votação no Senado de proposta de tabelamento de juros para o cartão de crédito e o cheque especial até o fim de 2020, em 30% ao ano. A sessão começou às 16h20 e, até o fechamento da B3, a matéria não havia sido votada, mas a perspectiva é de que, ainda que seja aprovada, dependerá de aval da Câmara e da sanção presidencial – um percurso ao longo do qual pode ser alterada ou mesmo rejeitada.
Assim, em dia de balanço do Banco do Brasil, divulgado antes da abertura de hoje, o setor, de maior peso no índice, contribuiu para o avanço do Ibovespa. BB ON subiu 3,06%, à frente de Bradesco ON (+1,39%) e de Itaú PN (+1,40%), assim como da unit do Santander (+2,76%). Entre as baixas do Ibovespa, destaque para Gerdau PN (-2,48%), Gerdau Metalúrgica (-2,46%) e Via Varejo (-2,05%). Ao fim, Petrobras PN subiu 0,17% e a ON, 0,34%, com Vale ON ainda em baixa de 0,58%. O giro financeiro da sessão totalizou R$ 26,3 bilhões, e o Ibovespa passa a acumular ganho de 1,18% nesta primeira semana de agosto, após perda acumulada de 0,11% até ontem – no ano, cede agora 9,96%.
“Com o Ibovespa a 105 mil pontos, estamos a preço justo. Mas o índice pode ir além dos 120 mil pontos se houver percepção de melhora dos fundamentos, o que inclui a progressão de reformas, como a tributária, em meio ao fluxo propiciado pela redução de juros”, diz Eduardo Cavalheiro, sócio-gestor da Rio Verde Investimentos.
A questão fiscal permanece no centro da atenção dos investidores, em meio a sinais de que o governo pretende criar um novo mecanismo permanente de transferência de recursos à população, o Renda Brasil, mas reconhece dificuldades para estender ao fim do ano o auxílio emergencial de R$ 600, que tende a ser reduzido nos próximos meses. A transferência de renda aos mais pobres é considerada essencial para manter algum nível de funcionamento da economia, ante a progressão do desemprego, reiterada em novos dados divulgados hoje.
“Os gastos necessários feitos nesta época de pandemia demandam cortes de custos para o Estado, ou seja, reformas”, diz Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante. O cenário de riscos apontado ontem pelo BC foi “para os dois lados”, tanto a possibilidade de inflação muito baixa, por conta da ociosidade da economia, como de um descontrole de gastos e desequilíbrio fiscal, que, para serem evitados, dependem de reformas que resultem em redução de custos do Estado, observa o estrategista da Levante.