BCA Research eleva aposta no Brasil em meio a onda de avaliação de Lula
Relatório de uma consultoria canadense questionando se Luiz Inácio Lula da Silva pode vir a ser o “salvador” da economia brasileira evidenciou um debate que tem ganhado corpo no mercado, tanto em público quanto reservadamente, sobre os efeitos para o país de um eventual retorno ao poder do ex-presidente em um momento em que o Brasil tem atraído mais capital de fora.
A BCA Research elevou na terça-feira a recomendação para ações e títulos brasileiros de abaixo da média para acima da média (overweight) em relação aos seus pares de mercados emergentes, dizendo que os investimentos tendem a se valorizar com a chance crescente de Lula vencer as eleições deste ano. A avaliação é de que o ex-presidente promoverá uma política econômica pragmática, ainda que mais frouxa no front fiscal.
“As atuais propostas de Lula e sua agenda após a eleição serão moderadas, dando um impulso positivo aos mercados financeiros”, escreveram analistas da BCA liderados pelo estrategista-chefe de mercados emergentes, Arthur Budaghyan, em relatório intitulado “Lula é o Salvador do Brasil?”.
Dados mostram um salto do fluxo de capital estrangeiro para os mercados financeiros do país, para 9,5 bilhões de dólares no acumulado do ano até a semana passada, após fecharem 2021 com saída de 3,7 bilhões de dólares, fenômeno que contribuiu para a valorização do real e a alta do Ibovespa.
Parte desse movimento reflete a crença entre investidores globais de que Lula, que tem liderança de dois dígitos sobre o presidente de direita Jair Bolsonaro em pesquisas de opinião recentes, adotará uma política econômica pragmática, segundo apontaram Rogério Xavier, da SPX Capital, e Luis Stuhlberger, da Verde Asset, em evento na semana passada.
Enquanto muitos investidores domésticos lamentam o possível fim da agenda de reformas que Bolsonaro prometeu ao assumir o cargo, os investidores estrangeiros se consolam com as lembranças das políticas econômicas ortodoxas que Lula adotou no início de sua presidência de 2003-2010.
“Candidato líder nas pesquisas tem imagem internacional positiva. Ele não é uma incógnita, é um candidato que foi experimentado”, afirmou o economista Gabriel Galípolo, sócio-diretor da Galípolo Consultoria e ex-CEO do Banco Fator.
Ele aponta que o Brasil também está se tornando mais atrativo como consequência do agressivo ciclo de aperto monetário, além de estar se beneficiando da busca de investidores por ativos mais tradicionais, após a sinalização de aperto monetário pelo Fed nos EUA ter reduzido o interesse pelo setor de tecnologia. O favoritismo de Lula entra como uma perna desse tripé, avalia.
Um economista-chefe de banco ouvido em anonimato pela Reuters afirmou que a economia poderá responder mais positivamente sob Lula e seus planos de elevar investimentos e gastos sociais, após o foco no ajuste fiscal não ter mudado o fraco desempenho do Brasil nos últimos anos. “Governo Lula também teria mais habilidade para transitar entre as bancadas no Congresso”, disse ele.
No entanto, mesmo os investidores mais otimistas reconhecem o desafio para os próximos anos de estabilizar os níveis da dívida pública do país, que está em 80,3% do Produto Interno Bruto. “No longo prazo, as chances são de que o governo Lula tentará ‘inflacionar sua saída da dívida'”, disseram os analistas do BCA aos clientes. “Portanto, nossa estratégia de longo prazo no Brasil permanece intacta: comprado em ações, mas protegido do risco cambial.”
Por Marcela Ayres