Curitibana, filha de ucranianos lamenta bombardeios: “Dia de apreensão e desespero”
Os ataques da Rússia contra a Ucrânia, que tiveram início na madrugada desta quinta-feira (24), deixaram a população mundial em alerta. O bombardeio causou pânico no país do leste europeu e deixou amigos e descendentes aflitos em todo mundo. Atualmente, aproximadamente 600 mil ucranianos e descendentes vivem no Brasil, sendo que o Paraná concentra a maior comunidade, com cerca de 81%. Solange Oresten é filha de ucranianos, porém, vive diariamente a cultura do país em Curitiba.
“Meus pais vieram de lá muito jovens. Minha mãe veio criança, já meu pai veio moço. Toda a família, meu marido, filhos e amigos mantêm viva a cultura ucraniana. Temos contato com amigos que moram lá na Ucrânia e hoje foi um dia de muita apreensão e desespero”,
contou Solange.
As notícias sobre a invasão militar da Rússia assustaram a comunidade ucraniana que vive no Paraná. Solange destacou que logo cedo fez contato com amigos que moram no país europeu.
“Fizemos contato com pessoas lá da Ucrânia para saber como estão e mostrar nossa solidariedade de longe. Nem sabemos se isso ajuda muito, mas de repente um carinho daqui vai bem”,
comentou emocionada.
A mulher ainda relatou o medo de não saber o que pode acontecer com o país e com os ucranianos. “Estamos vivendo essa apreensão, sem saber o que vai acontecer. Não sabemos como vão ficar os domínios, se ainda seremos um país livre e soberano. Como vão ficar as pessoas?”, declarou.
Conexão com a Ucrânia
Solange é diretora de um grupo de dança folclórica ucraniana. Em 2019, a descendente teve a oportunidade de conhecer o país dos patriarcas e comemorar os 90 anos do grupo Folclore Ucraniano Barvinok da Sociedade Ucraniana no Brasil com apresentações na Ucrânia.
“Fico com a imagem do que a gente viu do país. Fiquei para a independência da Ucrânia e é um país maravilhoso. É maravilhoso pisar na terra dos pais, era um sonho meu, realizei em 2019 […] Fizemos três apresentações, inclusive em Kiev, e tivemos contato com grupos de dança de lá”,
contou Solange.
A descendente de ucranianos ainda relembrou com emoção um dos momentos mais marcantes da viagem, a visita a Praça Maidan, em Kiev. O local, que também é conhecido como Praça da Independência, foi palco de um grande protesto no final de 2013, que resultou na queda do presidente pró-Moscou Viktor Yanukovich.
“Nesse momento, na hora que eu cheguei e pude estar no mesmo lugar que o povo ucraniano esteve em 2013 e 2014, que foi um momento muito tenso, me causou um sentimento que não consigo transformar em palavras. Chegar ali e poder ver as fotos das pessoas e do que aconteceu ali, me emociona até hoje. Foi um dos momentos mais impressionantes que eu já vivi. Só queria ficar ali em silêncio e tentar imaginar o quanto eles lutaram”,
relembrou Solange, com a voz carregada de emoção
Nesta quinta-feira (24), a comunidade ucraniana no Paraná concentra orações pelo país e por todos que vivem na Ucrânia. “Nossa vida é trabalhar pela comunidade ucraniana, estamos com eles”, finalizou Solange.
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Ucranianos no Paraná
Há cerca de 600 mil descendentes de ucranianos no Brasil. Desse total, cerca de meio milhão de pessoas residem no Paraná e as demais se encontram no Norte de Santa Catarina (SC), em Porto Alegre (RS) e em São Caetano do Sul (SP). A maior concentração de ucranianos encontra-se em Curitiba, com aproximadamente 3% da população local, mas, em termos proporcionais, Prudentópolis (Centro-Sul) possui 75% de sua população local com ascendência ucraniana.
Nesta quinta-feira, a paróquia Santíssima Trindade, em União da Vitória, na região sul do Paraná, prestou homenagem às vítimas do país ucraniano após os ataques da madrugada.
O presidente da Representação Central Ucraniano Brasileira, Vitório Sorotiuk, anunciou que todas as igrejas ucranianas do Brasil devem se reunir no próximo domingo (27) e na quarta (2) para orações.
“Chamamos desde já a todos a realizarem manifestações contra a agressão militar russa à Ucrânia. Chamamos a toda a nossa comunidade ucraniana brasileira a reunir-se nas igrejas no domingo, dia 27, e na quarta-feira, dia 2 de março. Chamamos todo o povo brasileiro em solidariedade e apoio ao povo ucraniano”,
comentou Vitório.