Descuido com a saúde bucal pode reduzir tempo de vida dos pets

por Pauline Machado
Jornalista e Acadêmica de Medicina Veterinária
Publicado em 4 maio 2022, às 00h20. Atualizado em: 5 maio 2022 às 10h24.

Escovação diária, consulta odontológica preventiva a cada seis meses e limpeza periódica são necessárias para evitar avanço de alguma doença periodontal

Você sabia que muitos tutores desconhecem a importância da limpeza dos dentes dos seus pets? O cuidado com a higienização oral pode evitar doenças mais graves causadas por bactérias que se infiltrem no organismo. O problema das dores de dente em cães e gatos chega muitas vezes em estágio avançado nos consultórios por haver poucos sinais clínicos exteriores da doença. Nesses casos, a intervenção para o tratamento na boca do animal pode ser mais prolongada e urgente. Além disso, o descuido com a saúde bucal dos pets encurta o seu tempo de vida. Isso porque a inflamação da gengiva abre brechas para que as bactérias acessem o organismo, causando lesões no coração, fígado, rins e até oftálmicas.

O alerta é da médica-veterinária do Hospital Veterinário Batel (HVB), Naréu Simas de Carvalho, especializada em Odontologia. A dor de dente no pet pode ser causada por um dente quebrado ou com alguma doença periodontal. Mas, mesmo assim, dificilmente o tutor vai perceber que ele está sofrendo. “Isso porque, além da resistência que esses pacientes têm à dor, assim como em humanos, não paramos de comer por causa da dor de dente. O que sentimos é um mal estar, uma dor de cabeça, um incômodo”, afirma.

Ela aponta que o principal sinal de que algo não vai bem com os dentes é a alteração do odor do hálito (halitose). “Nos casos mais avançados, podemos ter sinais como apatia, diminuição do apetite, restrição em comer ração seca, excesso de saliva e sangramento oral”, aponta Naréu.


É preciso que os tutores olhem a boca de seus animais regularmente, porque, quando percebem algo, a doença já pode estar muito avançada. Por isso, é importante observar alguns sintomas:
• Gengivas vermelhas ou sangrando;
• Sangue no brinquedo de morder;
• Vocalização quando ele boceja ou come;
• Perda de dentes;
• Mau hálito;
• Inchaços/ aumento de volume na boca, gengiva ou região de focinho;
• Saliva viscosa ou com sangue;
• Dificuldade para pegar a comida ou mastigação com apenas um lado da boca;
• Corrimento nasal e espirros (doença periodontal avançada que pode levar à perda óssea entre a cavidade nasal e oral).

Cães de pequeno porte sofrem mais porque têm estruturas dentárias menores
De acordo com a médica-veterinária do HVB, os cães de menor porte sofrem mais com as doenças periodontais, porque têm estruturas dentárias menores e, assim, menor tecido de sustentação. “Em pets muito pequenos, o estilo da alimentação também pode interferir no acúmulo de cálculo (tártaro) de forma mais rápida, devido à falta de atrito e o aumento da aderência de alimentos nos dentes (dietas úmidas)”, afirma.


Conheça algumas doenças da cavidade oral de cães e gatos e o que causam no animal:
• Periodontite: ocorre quando o tártaro se acumula, acarretando inflamação e retração gengival (com ou sem sangramento).
• Lesão Reabsortiva dos Felinos (LRF): considerada antigamente como a “cárie” dos gatos, ela pode ocasionar a reabsorção dos dentes do animal e deixá-los mais frágeis, causando erosões nos dentes e predisposição a fraturas.
• Fratura dentária: o trauma expõe a polpa do dente, estrutura interna constituída por vasos sanguíneos e nervos, e costuma acontecer mais nos dentes caninos.
• Complexo Gengivite-Estomatite-Faringite (CGEF): é caracterizada por lesões com sangramento que formam úlceras na região dos arcos glossopalatinos, uma parte mais posterior da boca do gatinho.

Prevenção é o melhor caminho
Para prevenir a ocorrência das doenças orais em cães e gatos, a escovação regular dos dentes é essencial. A higienização deve ser feita com escova e cremes dentais próprios para animais, porque os de uso humano contêm substâncias nocivas aos animais e, se ingeridos, podem causar problemas estomacais e até intoxicação.

Nos casos de dificuldade em escovar os dentes do pet, Naréu indica o uso de tiras mastigáveis e dos brinquedos específicos que auxiliam na limpeza dos dentes. “Só precisamos tomar muito cuidado com brinquedos que têm consistência muito firmes e capacidade de fazer fraturas dentárias, como ossos desidratados, chifre de boi, casco de boi e brinquedos feitos de materiais rígidos”, alerta.


Nada substitui a escovação
Outra dica é aumentar o grão da ração ou utilizar na alimentação natural alimentos de consistências mais firmes também auxiliam muito. Porém, assim como em humanos, nada substitui a escovação dos dentes. Todos esses artifícios que sugiro são adjuvantes no processo de higienização oral”, pondera.
Em relação à limpeza dos dentes, a médica-veterinária do Hospital Veterinário Batel afirma que é importante realizar avaliação odontológica de cães e gatos a cada seis meses para que sejam realizadas as orientações corretas para cada caso.

Já o período para realização da limpeza dentária vai variar, podendo ocorrer a cada seis meses e há casos de animais que demoram mais de dois anos para necessitarem de uma nova limpeza. “O que vai influenciar é o tempo que cada paciente demora para acumular o cálculo dentário. Isso vai depender da manutenção dos hábitos de escovação e auxiliares na limpeza odontológica em casa, hábitos alimentares e o mais importante é a resposta do sistema imunológico de cada paciente à presença dessas bactérias na cavidade oral”, enumera Naréu.


Limpeza dos dentes em animais idosos
Um grande mito que ainda cerca a limpeza dos dentes é sobre o procedimento de anestesia em animais idosos. “Hoje podemos dizer que idade não é um problema para a anestesia, com ressalva, é claro, que os paciente idosos (acima de 8 anos) necessitam de uma triagem pré-operatória mais refinada com exames adequados”, orienta.
Os pacientes idosos compõem o grupo que mais são encaminhados para serviço de odontologia e, normalmente, o estágio da doença deles já está avançado, exigindo um tempo anestésico prolongado. “Então, aqui fica mais um reforço para os tutores de que a prevenção é o melhor caminho”, conclui.