Um vagabundo no banco

Publicado em 9 jul 2020, às 17h24. Atualizado às 17h25.

Por muitas e muitas vezes, eu só quero ficar aqui.

Sentado neste banco carcomido, observo a vida.

Os de hoje, não são os mesmos de ontem.

Acredito que eu também não seja o mesmo.

Domésticas voltam para suas casas cansadas.

Garis iniciam mais uma jornada pela noite fria.

A cidade não para, embora mascarada e doente.

Aqui eu fico e espero as horas passarem.

Sou vagabundo e convivo bem com a solidão.

Um grupo mais animado entra no bar da frente.

A dona do boteco está na porta e fala alto.

São clientes assíduos esses cachaceiros…

Um grupo de prostitutas passa por mim. Riem.

O perfume delas é forte. Meu nariz coça muito.

Não resisto e espirro, balançando a máscara.

Ninguém está por perto, mas tenho medo.

A noite veio com força e eu preciso voltar.

Meu cão se recupera de uma grave doença.

Levo ração medicinal ao meu único amigo.

Não me sobra um centavo sequer, mas sorrio.

Não deve haver tempo ruim para um vagabundo.

Assumo minha condição de ser inútil e ando.

Empurro a porta da casa minúscula e entro.

Aqui dentro estão meus sonhos, medos e dores.

Agora o cão está feliz, embora quase sem pelos.

Carros passam na rua e crianças brincam.

Abro meu velho caderno e começo a rabiscar.

A imagem do carcomido banco me leva ao céu.

Jossan Karsten