Um desconto para Mayara
Tenho este número de telefone celular há mais e dez anos. Há pelo menos oito (anos), empresas mandam mensagens de cobrança para uma pessoa de nome “Mayara”.
“Dona Mayara, acerte suas contas, senão o bicho vai pegar para o teu lado”.
“Mayara, apesar da insistência, você não retorna nosso contato. A senhora vai se complicar. Estamos avisando…”.
“Mayara, vamos arrestar teus bens e bloquear todas as tuas contas, até que o montante seja suficiente para pagar as dívidas, os devidos juros e os honorários dos nossos advogados”. Importante ressaltar que a palavra advogado é grafada sempre em maiúscula e em negrito.
Por centenas de vezes, respondi por mensagens e por ligações, que não há ninguém por perto com este nome. Cheguei a informar meu endereço, número de documentos, só não mandei fotos, porque aí, já é demais, não? Mas mesmo assim, as cobranças não pararam em momento algum. No fim do ano então, a coisa se acirra, se complica mesmo. Pelo menos dez mensagens por dia à procura da Mayara. Mas Mayara está longe ou pode ser até que nem exista! Ela pode ser uma invenção. Nestes tempos loucos, tudo pode ocorrer.
Há pouco, quando estava no elevador, retornando ao trabalho, recebo nova mensagem de cobrança, obviamente, endereçada a Mayara. Ela já virou até personagem das minhas histórias, ganhou corpo e alma de musa. Mas desta vez, houve algo muito diferente. Confesso, sem sombra de dúvida… Na verdade, eu juro que gostaria de ser a Mayara.
A empresa em questão, certamente cansada de cobranças em vão e de despesas com pessoal, taxas e afins, oferece à Mayara, um desconto tentador, de 90%. Isso mesmo, NOVENTA POR CENTO do montante (que não sei de quanto se trata), para que ela dê a batalha por encerrada e para que o assunto vire fumaça. Coisa totalmente louca.
Pensando em minhas finanças e no tanto de juros, taxas e afins que pago todos os meses, hoje, pela primeira vez, me deu vontade de me chamar Mayara e, depois de anos, me sentir um felizardo por poder quitar meus débitos com um desconto que beira ao surrealismo.
Tentação total! Mas não sou Mayara… Ainda!