Redenção em campo inóspito

Publicado em 23 abr 2020, às 00h00. Atualizado em: 5 jun 2020 às 11h27.

É fim de mais um dia. É tempo de ficar quieto.

Eu subo as escadas lentamente e ouço uma canção.

Não, a música não vem de nenhum rádio, vem do espaço.

Eu distingo a peça no vento gelado que sopra sem cessar.

Meu espírito está apreensivo, mas procuro dissipar o medo.

O vento faz um solo de cordas e eu me embrenho na melodia.

Agora estou na sala e acendo todas as luzes da casa.

Eu preciso desta claridade. Pela janela, te imagino. Você vem.

 

Como pluma, chega e sorri, pois é tua característica o sorriso.

Vem ao meu encontro e rodamos pela enorme sala num bailado.

Está tudo bem conosco e teu cheiro é perfeito, instigante.

Beija-me como se me devorasse. Absortos, nos deixamos cair.

Sobre o tapete, o amor é dádiva que escorre, que verte.

Eu te busco com meus dedos inquietos, com meu espírito livre.

Você me encontra com tua língua marota e com teu toque intenso.

Unicidade em um momento ímpar, indecifrável, para além da imaginação…

 

Desconsidero o espaço físico e a matéria que me cerca.

Invoco teu corpo e sou preenchido pela tua alma.

Transparente é tua essência que me engole e me degusta.

A rua está em silêncio. Os trabalhadores já se recolheram.

Este frio é muito chato, mas teu corpo é quente como brasa.

Em uma mescla surreal, já não sei o que é verdade ou fantasia.

É como se todos os relógios do mundo parassem para nós.

Estamos juntos. Somos para além desta vida, deste plano…

 

Em meu corpo, tuas unhas e dentes deixam marcas.

Como se arasse um campo inóspito, você me rasga e me cultiva.

Estou em uma esfera que não se mede, tampouco se conta.

Os relógios são coniventes com nossa história. O tempo nos ama.

A canção do vento continua e faz com que viajemos.

Estou em ti e você em mim. Há uma fusão de tudo. Cumplicidade.

Gritos de prazer faz com que a paixão exploda, ecoe.

Aos poucos, tudo vai se assentando. Há o beijo. Há o amor. Livre…

 

Jossan Karsten