Redenção em campo inóspito
É fim de mais um dia. É tempo de ficar quieto.
Eu subo as escadas lentamente e ouço uma canção.
Não, a música não vem de nenhum rádio, vem do espaço.
Eu distingo a peça no vento gelado que sopra sem cessar.
Meu espírito está apreensivo, mas procuro dissipar o medo.
O vento faz um solo de cordas e eu me embrenho na melodia.
Agora estou na sala e acendo todas as luzes da casa.
Eu preciso desta claridade. Pela janela, te imagino. Você vem.
Como pluma, chega e sorri, pois é tua característica o sorriso.
Vem ao meu encontro e rodamos pela enorme sala num bailado.
Está tudo bem conosco e teu cheiro é perfeito, instigante.
Beija-me como se me devorasse. Absortos, nos deixamos cair.
Sobre o tapete, o amor é dádiva que escorre, que verte.
Eu te busco com meus dedos inquietos, com meu espírito livre.
Você me encontra com tua língua marota e com teu toque intenso.
Unicidade em um momento ímpar, indecifrável, para além da imaginação…
Desconsidero o espaço físico e a matéria que me cerca.
Invoco teu corpo e sou preenchido pela tua alma.
Transparente é tua essência que me engole e me degusta.
A rua está em silêncio. Os trabalhadores já se recolheram.
Este frio é muito chato, mas teu corpo é quente como brasa.
Em uma mescla surreal, já não sei o que é verdade ou fantasia.
É como se todos os relógios do mundo parassem para nós.
Estamos juntos. Somos para além desta vida, deste plano…
Em meu corpo, tuas unhas e dentes deixam marcas.
Como se arasse um campo inóspito, você me rasga e me cultiva.
Estou em uma esfera que não se mede, tampouco se conta.
Os relógios são coniventes com nossa história. O tempo nos ama.
A canção do vento continua e faz com que viajemos.
Estou em ti e você em mim. Há uma fusão de tudo. Cumplicidade.
Gritos de prazer faz com que a paixão exploda, ecoe.
Aos poucos, tudo vai se assentando. Há o beijo. Há o amor. Livre…
Jossan Karsten