Quase uma onomatopeia!
Teque, teque, teque, faz a chuva na lata velha, ao lado da parede.
Na casinha de tábua, o sonhador dorme, acorda e torna a dormir.
Som instigante este: teque, teque, teque. Quase um relógio.
Repetição contínua que embala um poema que nunca será escrito.
A chuva não dá trégua em sua cadência divina (ou não?).
A lata velha é batuque no repicar da água que vem do céu.
O sonhador inventa situações que não viverá.
O som na lata pode ditar os passos dos homens.
Mas a palavra “ditar”, não é das melhores. Desconsidera.
No meio-tempo entre o sono e o sonho, a razão rápida.
Condição esquisita, mas necessária até para um sonhador.
Teque, teque, teque, pode ser a percussão de um samba.
Mas sonhadores têm a liberdade de pensar tudo, tudo mesmo.
O sonhador rola na cama e a chuva insiste no telhado.
No banco, a conta negativa diz muito do agora.
Na mente, a vontade de ouvir o repique da chuva.
Um trovão interrompe o ritmo dos pingos na lata.
Agora a água cai intensa e o som é outro, quase um estrondo.
A velha casa de tábua resiste ao tempo, às amarguras.
Na pobreza do sonhador, a abundância de ideias fugazes.
Nada sairá dali ele sabe. A chuva lava quase tudo. Será?…
Outro estrondo no céu que se fechou ainda mais num péssimo humor.
Não há como distinguir o som na lata velha neste instante. Zoada!
Uma rajada de vento parece suspender o telhado frágil. Seria um voo sinistro.
Teque, teque, teque, faz uma goteira no assoalho, bem ao seu lado.
O sonhador sorri. Agora, pode pensar em cadência e sonhar outra vez. Sonhar?
Teque, teque, teque, pode ser um chamado a despertar, a viver o hoje.
Salta da cama, esfrega as mãos nos olhos e olha a chuva que não cessa.
Sim, sente que é tempo de mudar as coisas e o som. Não é um qualquer.
Ele vai e encara a chuva. Sem tempo a perder. Teque, teque, teque…
Josan Karsten