Premiado pela Academia de Letras de Maringá, escritor paranaense lança livro por editora internacional

Publicado em 1 jul 2022, às 11h54.

‘Fora da Matrix – A arte de viver à margem do sistema’ é o título do livro do escritor, cantor e compositor apucaranense João Cássio, recém-publicado pela Editora Chiado, de Portugal. Em uma época farta em casos de depressão e ansiedade, a obra é uma exortação à busca pelo sentido da vida.

“Todas as pessoas têm algo relevante para realizar no mundo. Comprometermo-nos com os nossos sonhos é o que nos desafia e faz nos sentirmos em fluxo com a vida”, defende o escritor, premiado pela Academia de Letras de Maringá (ALM) e pela Universidade Estadual do Paraná (Unespar).

Marcando a estreia de João Cássio no universo autoral, “Fora da Matrix” reúne crônicas curtas amarradas por reflexões filosóficas, com linguagem simples, direta e pitadas de lirismo. Nessa linha, o escritor narra a sua saída do Paraná, onde trabalhou como jornalista e cantor, rumo à maior metrópole da América Latina para encarar a carreira artística.

Na ‘selva de pedra’ paulista, ele começou servindo cafés da manhã em um albergue, ‘passou o chapéu’ nos metrôs e enfrentou obstáculos internos e externos. “A narrativa gira em torno da minha experiência particular, mas também é universal por tratar de uma questão comum a qualquer ser humano: a luta para fazer a vida valer a pena”, considera João Cássio.

Matrix

Na obra, o termo ‘Matrix’ – alusivo ao filme que teve sua quarta parte lançada no início deste ano – se refere às ilusões do mundo – o sistema –, que induzem as pessoas a viverem de aparências. A ideia de condicionar a felicidade exclusivamente à situação material, por exemplo, é um dos erros mais comuns da nossa época, sustenta.

“Não há nada de errado com conquistas materiais, elas são ótimas e necessárias; mas quando a busca por esses bens não está relacionada com um propósito maior, a vida se torna vazia e, daí, é questão de tempo para começarem aparecer os problemas emocionais”, afirma João Cássio.

O verdadeiro sentido da vida, nas palavras do autor, aparece quando se encontra um ideal interior, que passa a inspirar as nossas ações ao longo do tempo. E, para descobrir esse ideal, João Cássio afirma que só há um caminho: o autoconhecimento.

“Somente quando se escolhe dar menos atenção às vozes externas, da sociedade, e mais atenção à voz interna, da alma, é que se descobre qual é o chamado que nos conecta a algo maior em nós mesmos. Será que muito do desânimo, estresse e ansiedade sofridos nos dias de hoje não são reflexos de uma vida sem sentido?”, questiona. “Ninguém suporta o peso de uma vida vazia”, complementa.

Escritor também foi premiado pela Universidade Estadual do Paraná (Unespar) | Foto: Sérgio Rodrigo/Divulgação

Premiado

No ano passado, João Cássio foi um dos escritores brasileiros selecionados na categoria “prosa” para compor a antologia poética Liberdade, promovida pela Editora Chiado, sediada em Portugal. Ainda em 2021, foi o único paranaense premiado no concurso de crônicas em âmbito nacional realizado pela Academia de Letras de Maringá (ALM), obtendo o terceiro lugar pelo texto ‘A Máscara’.

Em junho deste ano, o autor foi um dos contemplados pelo Prêmio Memorial Vivências, promovido pela Unespar em parceria com a Secretaria Estadual da Comunicação Social e da Cultura, na categoria Literatura. “A iniciativa teve como objetivo premiar os trabalhos dos agentes culturais paranaenses durante a pandemia”, informou João Cássio.

Trecho do livro

Recomeçando do zero

Depois de muito meditar sobre a minha missão nesta vida, praticar a minha arte e estabelecer um hábito diário de conexão com o sagrado que habita em mim, ocorreu-me uma ideia inusitada em meu terceiro ano de São Paulo: fazer uma série de vídeos provando que é possível lutar pela realização de um sonho começando praticamente do zero, sem dinheiro, sem emprego, sem lugar para morar. Esta seria a minha forma de criar o meu próprio caminho dentro da música, de forma original e Fora da Matrix, ajudar outras pessoas que estiverem começando, e demonstrar com a minha própria vida que sempre há possibilidades de sucesso para quem sabe o que quer e tem coragem de seguir o coração. No meu caso foi a vida artística, mas estou convencido de que as possibilidades são as mesmas para qualquer área profissional, desde que haja vocação – e digo desta forma porque os desafios não tardarão a aparecer, a vontade de desistir aparecerá, o caminho não será fácil e somente com o verdadeiro chamado interior, o fogo ardente que mora no peito, será possível encontrar fortaleza para transpor os obstáculos. Então, com minha vocação no peito, passei do plano à ação.

Beatles, maconha e inquietação

Um mês antes de começar minha aventura, tive a oportunidade de pernoitar no hostel para melhor conhecer suas dependências, sua dinâmica de trabalho e de relacionamentos. A primeira impressão teve algo de frustrante. O pequeno quarto coletivo onde dormiria tinha quatro camas e um hóspede que não parava de tossir, assoar o nariz e pigarrear a dois metros de mim, justo de mim que acabara de vencer uma gripe daquelas de cancelar show. Resolvi, então, descer com o livro que levara para aquela noite, “Em Águas Profundas”, e só voltar quando minhas pálpebras pesassem. Não cheguei a ler uma página. O espírito coletivo contagiante é uma das marcas dos hostels e raramente alguém consegue ficar sozinho sem ser envolvido nas conversas, nas quais pessoas de diversos cantos do mundo trazem histórias interessantíssimas a respeito de suas experiências. “Nossa, adoro David Lynch! (o autor)”, puxou assunto a bacharel em Filosofia tão logo lançou o olhar na capa do livro que eu segurava. Ela estava há cinco meses hospedada ali e se dizia frustrada por trabalhar como produtora de conteúdo de Marketing Digital ao invés de estar na sala de aula, sua verdadeira vocação.

– Deve ser preciso muita droga para produzir um filme como Blue Velvet – disse ela de forma eufórica e em tom assertivo em relação ao filme dirigido pelo cineasta norteamericano em 1986, como que contando com minha concordância.

– Pelo contrário, respondi. Neste livro, o Lynch condena a falsa inspiração que se atribui ao consumo de drogas. Suas ideias são fruto da prática da Meditação Transcendental, que expande a criatividade a níveis extraordinários.

Notei certa contrariedade em suas feições em relação ao que acabara de dizer e na sequência do diálogo compreendi a razão. Para ela, meditação estava associada à hipnose, só possível a pessoas com adequado sistema de crenças; seu discurso seguia uma visão de mundo materialista, usava muito a palavra “social” e aparentava resistência ao fenômeno do transcendente. Disse-lhe que, antes de qualquer sistema intelectual, minhas ideias sobre o assunto baseavam-se na experiência, incluindo pré-cognições e percepções de sincronicidades; que a meditação me serenava a mente e me nutria a alma com um prazer sutil, consciente e natural que nenhuma droga jamais trouxera. Peguei o violão, toquei a música “A Crônica do Indigente Coração”, que segundo ela “faria muito sucesso na Rua Augusta”, a famosa e boêmia artéria paulistana, cantada em prosa e verso. Agradeci.

– Eu não consigo aquietar a minha mente e tenho dificuldade de dormir – confessou-me a moça. Já fumei um baseado, cantei umas músicas dos Beatles e estou aqui fumando este cigarro. E, por falar nisso, vou tentar dormir mais uma vez. Boa noite.

— Boa noite.

Aquela breve conversa levou-me a refletir, já na cama e cessadas as tosses do colega de quarto, o quanto a mensagem que me livrou das drogas e lançou-me no universo do autoconhecimento seria útil para pessoas como aquela bacharel, que se tornaria uma das que mais conversei nos dois meses em que permaneci no hostel, em geral uma mulher simpática e aberta a ouvir, que chegou inclusive a pedir-me ajuda para meditar semanas depois. Em um mundo doente como o de hoje, eu não tinha o direito de guardar esse conhecimento que obtive na prática somente para mim, daí um dos motivadores para escrever o livro. A essa altura, leitor, você já percebeu como o ato de seguir o próprio sonho é capaz de gerar histórias, experiências, encontros, ajudar pessoas e ainda criar oportunidades de prosperidade? Então continuemos, o melhor ainda está por vir! (…)

Serviço

  • Livro: Fora da Matrix – A arte de viver à margem do sistema
  • Autor: João Cássio
  • Editora: Chiado (Portugal)
  • Páginas: 150

Aquisição:

  • Pré-venda: (11) 98639-8224 (WhatsApp) – R$ 25 + frete (saída de Apucarana-PR). Dedicatória do autor
  • Site da editora: R$ 37 (clique aqui)