Perdigotos e mazelas
Áridos campos se mostram despidos do pudor da fome.
Tanques escavam a terra, mas não aram o chão.
Flutuam a esmo as sensações de liberdade por sobre o solo infértil.
Surreal é a situação do mundo imposta goela abaixo pela mazela.
O que é de aço também pode flutuar leve pelos campos que já deram frutos.
Por sobre a lavoura florida da imaginação, a esteira do tanque roda.
No olhar do sonhador, há verdades inventadas, absurdos silenciados.
Vai-se o tanque de guerra pelas culturas da ganância que resistem à aridez.
Chuvas de ignorância não regam a plantação imaginada.
Do fundo da terra, a esperança borbulha como vômito provocado.
Tolos sonham apenas com superficialidades, com sair de casa.
Por detrás da nuvem do medo, o sol não se arrisca em aparições.
A luz maior ainda há de mostrar seus raios sem timidez.
O tanque de guerra continua sua flutuação imaginada.
Para o infinito, o canhão está apontado e prestes a disparar.
Invisível, o inimigo mortal apenas sorri de escárnio.
De hora em hora, o boletim das mazelas programadas.
Velhinhas crentes, desconsideram as feridas nos joelhos.
Vão pelas escadarias as beatas com seu mantra indecifrável.
Não há audiência ao clamor de moribundos assustados.
Cenário horripilante este, onde os taques de guerra flutuam.
Aos olhos do universo, a escaramuça psicodélica já está vencida.
Seres desprezíveis jogam perdigotos em conversas suicidas.
Carregado de asneiras, segue o tanque de guerra rumo a lugar nenhum.
Áridas eram as vidas antes do caos, mas ninguém via. Zona de conforto.
Nem toda flor triturada vira fragrância aprazível e cara. É preciso saber.
Loucura é ver o tanque de guerra rodar sobre as plantações imaginadas.
Gira o sol na incidência da luz infernal. Todos os campos estão despidos.
Jossan Karsten
Arte: Guy Billout