O corpo quântico da Súbita Cia de Teatro
Encontrar uma linguagem capaz de alcançar o público com questões que envolvem a sociedade contemporânea tem sido um objetivo no processo criativo dos grupos de teatro que se propõem a buscar novas formas de comunicação por meio da encenação.
Em um tempo marcado pela intolerância em suas diversas formas, encontrar um meio de quebrar fronteiras e sensibilizar, transformar por meio da arte, tem sido ponto de partida para a construção de linguagens que possam ir na contramão da atual realidade e emocionar, criar empatia.
O desejo por formas menos autoritárias de relacionar-se, seja de forma social, pessoal ou política, já se configura dentro do próprio processo criativo dos grupos de teatro. Reflexões sobre assuntos urgentes da atualidade são o ponto de partida para a criação das peças e o formato de criação colaborativa é exemplo de como é possível a construção em conjunto – em cena e fora dela.
A Súbita Cia de Teatro é um dos grupos que atuam em Curitiba com o objetivo de pensar a contemporaneidade e encontrar meios de chegar em lugares que unem crítica e emoção. É uma cia que está inserida no movimento intenso e atual de compartilhamento de experiências – tanto entre os criadores do próprio grupo quanto em relação ao diálogo com outras cias – no país.
A relação entre as pessoas, o amor, o afeto, as distâncias e a incomunicabilidade são alguns dos temas abordados pelo grupo nos seus 12 anos de trajetória. A diretora Maíra Lour explica que as inquietações pessoais dos intérpretes são fundamentais na criação das peças: “Nosso trabalho está intrinsecamente ligado à criação autoral, que passa pelo corpo, pelos desejos dos artistas, por isso, diz sobre o que nos atravessa hoje, o que nos é mais urgente falar, o que nos conecta e gera trocas significativas entre palco e plateia.”
A artista ainda descreve o interessante conceito de “corpo quântico” trabalhado pelo grupo. Nele, o encontro do que pulsa entre o particular e o coletivo, em diversos níveis, inclusive ancestrais, ampliado à plateia e à sociedade é carregado de potência: “A arte que fazemos é para sensibilizar, questionar e transformar muitas pessoas”, completa.
Mas como transformar as ideias, sejam elas individuais ou coletivas, em linguagem? Como é o processo de criação das peças depois do encontro de todos os desejos compartilhados pelos artistas?
É ponto em comum entre os grupos de teatro de pesquisa o foco no trabalho colaborativo, em que os criadores – atores, diretores, equipe técnica – trabalham horizontalmente na encenação, com proposições coletivas, composições de cena, práticas físicas e de mobilização inclusive para a proposta de dramaturgia. Na Súbita, além do processo colaborativo, a pesquisa passa pela criação a partir do corpo, com propostas que investigam a relação entre fisicalidade e interpretação e que abrem espaços para a ampliação do olhar e o entendimento do próprio universo de criação.
Ao longo dos anos a Cia Súbita adquiriu um público fiel, interessado nas novas propostas apresentadas pelo grupo. Para Maíra Lour, o êxito é reflexo da união entre os integrantes da cia e da consciência de todos sobre a profunda importância da arte: “Costumo dizer que a Súbita é fruto da teimosia de seguir fazendo teatro junto, em grupo, considerando os enormes desafios que isso abarca. Acreditamos muito na força de cada uma/um que compõe a companhia e nos provocamos a continuar. O tempo que estamos trabalhando juntos nos fortalece por sabermos que nessa trajetória estamos construindo um lugar inspirador de pesquisa, investigação, compartilhamento artístico e encontro com o público, conclui.
Vida longa à Súbita!