Esquisitos?
Sempre haverá um louco, um esquisitão falando de amor, de paixão.
Mesmo ante os infortúnios da vida, haverá um pregador da leveza.
São esses idiotas, sem escrúpulos que deixam a vida amena.
Que haja sempre esses doidos dispostos a falar o que pensam.
Onde os polidos fraquejam, os malucos ganham força e seguem.
Essa gente nada tem a perder e, por isso, eles vivem intensamente.
Malucos, chapados, maltrapilhos e otimistas não possuem coisas.
O nada ter é uma das melhores formas de caminhar sem medo.
Por nada, essas pessoas são esfoladas vivas. Perecem nos asfaltos, nas esquinas.
O sangue dos esquisitos não é considerado puro, tampouco reconhecido.
Todos os dias (ou noites) há imolação de quem fala de amor, de poesia.
Como cordeiros, os malucos são oferecidos em sacrifício a um mito diabólico.
Eles morrem, mas outros nascem e continuam a saga. Precisa ser assim.
A luz que entra pelas retinas dos esquisitos, incide em seus corações purificados.
Lacerados, eles caminham para frente e olham para o céu em busca da luz perfeita.
Sem alento, todos esses malucos contam com a proteção do acaso e se vão…
E eles saem por aí, pelos becos e estradas, falando de amor, divergindo do pragmatismo.
A liberdade dessa gente incomoda a muitos detentos da ala “ter cada vez mais”.
Encurralados em corpos balofos, muitos espíritos gritam de raiva dos esquisitos.
Os malucos são alvos fáceis de gente que não sabe o que é amor e que prega a divisão.
Eles morrem facilmente na ponta aguda da ganância que a tudo corta e corrompe.
Mesmo nos dias de sacrifício, não há tristeza para os esquisitos. Há esperança.
Eles não acreditam em causas, mas sim, na liberdade que é a vida.
Longe, no horizonte do medo, surge alguém assim e muda tudo com um sorriso.
Jossan Karsten
Imagem: Vladimir Kush