Brutal
Desceu do ônibus quase vazio àquela hora.
Caminhou devagar, mas tinha pressa.
Foi pela rua escura, estreita e úmida.
No bolso, a pistola pesava mais de uma tonelada.
Conhecia o beco. Era seu caminho de anos.
Ainda sentia as dores físicas e na alma lhe rasgando.
O ataque fora violento, brutal, horrível.
Sangrou muito. Chorou sem amparo. Vergonha?!
Nunca havia tocado em uma arma antes.
Saiu do hospital e andava com muita dificuldade.
Na loja do árabe, comprou a pistola sem problemas.
Dois pentes lotados e uma caixa de balas de brinde.
Entendia como um meio de justiça cega o que fazia.
Fora violentado. Covardia. Brutalidade pura.
Voltava do serviço cansado. Rodava turno há dez anos.
Sem chance de defesa. Ataque perverso, vil.
Agora era a hora certa. Planejara tudo no hospital.
Conhecia o local. Desconhecia a si mesmo.
Chegou ao lugar infernal, escuro. Passos lentos.
Havia uma fogueira em um tambor de metal.
Estavam lá. Os três. Irmandade do mal.
Bebiam, fumavam e riam. Esperavam.
Três disparos. Nas cabeças. Sangue jorrando.
Caíram. Repetiu o feito. Tinha munição de sobra.
Foram seis tiros. Tudo estava resolvido agora.
Voltou. Conhecia o caminho estreito e escorregadio.
O mesmo ônibus retornava. Fez um sinal. Embarcou.
Os olhos ficaram turvos. Chorou sem se importar.
Nada expia a dor de uma alma maculada.
No coração um aperto de prensa. Gritou.
Tudo estava feito agora. Sem volta ou arrependimento.
Tinha que caminhar a esmo. Desceu do ônibus…
Jossan Karsten