Mercado avalia cafezais no Brasil enquanto preços atingem máxima em 10 anos

Publicado em 13 dez 2021, às 09h11. Atualizado às 09h15.

Por Marcelo Teixeira e Roberto Samora

NOVA YORK/SÃO PAULO (Reuters) – Especialistas em café que trabalham para tradings de commodities estão seguindo pelas estradas estreitas e sinuosas no Estado de Minas Gerais, em expedições técnicas pelo maior produtor do país, verificando as perspectivas da safra de 2022, enquanto os preços estão próximos dos níveis mais altos em 10 anos.

Este tem sido um ano difícil para a cafeicultura brasileira, maior produtor mundial. Os preços dispararam após uma seca e, posteriormente, geadas arruinaram até 20% dos cafeeiros, afetando a produção futura. Até agora, aqueles que acompanham as lavouras apontam estimativas variadas para a safra de 2022, embora os comerciantes por enquanto ainda apostem em uma colheita menos produtiva.

As pessoas que caminham pelos campos descobrirão a verdade sobre o tamanho da safra entre agora e o final de janeiro, o momento ideal para a avaliação dos cafezais.

“As chuvas que se seguiram às geadas e à seca produziram uma bela floração, mas agora temos que ver quantas delas vão se transformar em cerejas”, disse Ryan Delany, analista-chefe da Coffee Trading Academy LLC, dos Estados Unidos.

Os contratos futuros do café arábica no ICE subiram mais de 90% este ano após a seca, geadas e, em seguida, uma escassez global de contêineres que prejudicou o transporte. A alta de preços levou produtores no Brasil, na Colômbia e em outros lugares a não honrar as entregas de café pré-vendido.

Durante as viagens, os especialistas tentam contar os chumbinhos nos galhos para fazer projeções mais detalhadas. Até agora, as estimativas divulgadas variam enormemente.

A analista de soft commodities Judy Ganes, que esteve recentemente no Brasil com o colega analista Shawn Hackett, estimou a produção brasileira de arábica em cerca de 36 milhões de sacas, uma das menores projeções do mercado.

Ganes diz que a saúde vegetativa das árvores foi prejudicada pela seca e geadas, algo que outros não estão contabilizando totalmente. Ela espera que a safra total do Brasil (incluindo a variedade robusta) chegue a 55 milhões de sacas, longe da safra recorde de 2020, quando o país estava no ano de alta do ciclo produtivo do arábica e colheu ao todo cerca de 70 milhões de sacas.

Jonas Ferraresso, um agrônomo brasileiro especialista em café, diz que o florescimento foi generalizado depois das chuvas de outubro, mas a conversão em frutos foi abaixo do normal.

“Muitas árvores desenvolveram novas folhas nos galhos em vez de grãos, um desenvolvimento incomum provavelmente relacionado à forte seca no início do ano”, disse ele.

Segundo o engenheiro agrônomo Adriano Rabelo de Rezende, coordenador técnico da cooperativa Minasul, na região de Varginha (MG), o pegamento da florada foi “muito ruim”.

“Lavoura que a gente estava projetando safra média, tem muito pouco café. Onde projetava 30 a 40 sacas, deve ser 10 a 15 sacas, isso não é maioria, lógico que tem exceções. As lavouras que vinham de safra zero, esqueletadas, essas estão melhores um pouco, acha mais café. Agora, lavoura de carga média tem muito pouco. E lavoura que iria dar pouco café, não tem nada”, afirmou.

MAIS POSITIVOS

Outros especialistas são mais otimistas.

O Rabobank, especializado em financiamento agrícola, espera uma safra de 66,5 milhões de sacas, não muito longe do recorde, acrescentando que tal produção geraria um superávit global de 3 milhões de sacas e cortaria os preços para menos de 2 dólares por libra-peso em 2022.

O comerciante baseado nos EUA Cardiff Coffee tem estimativa de produção de 63,1 milhões de sacas.

Paulo Armelin administra uma fazenda de 220 hectares na região de Patrocínio, em Minas Gerais, onde as geadas foram mais fortes. Ele disse que cerca de 20% de seus campos foram atingidos pela onda de frio e não produzirão no próximo ano, mas o restante não foi afetado.

“Pelo menos na minha fazenda, a floração foi boa e a conversão em cerejas parece boa”, disse ele.

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