As 41.693 pessoas pensaram ter conseguido uma promoção, mas compraram ingressos para decepção; e a insegurança retornou ao Parque São Jorge
Era para ser uma festa.
A diretoria resolveu abaixar radicalmente o preço dos ingressos.
Custou entre R$ 70 e R$ 15 o direito de acompanhar o jogo de ontem no Itaquerão.
O adversário, o mesmo Flamengo de quem o time tirou a vaga para a decisão da Copa do Brasil.
Andrés Sanchez via a partida como um trampolim emocional à primeira partida final, contra o Cruzeiro, Belo Horizonte, na próxima quarta-feira.
De maneira simplista, ao Corinthians vencer bem os cariocas encaminharia o time ao desejado título de R$ 50 milhões e a improvável vaga na Libertadores da América de 2019, calando os críticos dos desmanches no clube, motivação baseada na raiva, bem ao gosto do seu presidente.
Só que tudo deu literalmente errado.
As 41.693 que pensaram ter conseguido uma promoção, na verdade compraram ingressos para decepção, tristeza. Ver o time do coração ser humilhado em sua casa.
Foi o maior público do clube neste Brasileiro.
O Flamengo com um treinador mais vivido, experiente, e com os jogadores sem a pressão de terem de vencer de qualquer maneira, fez o que quis com o Corinthinas.
A vitória dos cariocas por 3 a 0 foi injusta.
A diferença de gols deveria ser ainda maior.
Embora a humilhação tenha sido a maior na história do Itaquerão.
Jair Ventura usou com escudo a motivação, a vingança dos flamenguistas por terem sido eliminados da Copa do Brasil pelo Corinthians. Deixou no ar que instintivamente os atletas se pouparam sabendo da primeira final na quarta-feira.
Na verdade, o treinador não pode falar abertamente sobre a fragilidade do elenco. E principalmente do banco de reservas. Por mais que tiveram feito história no clube, Emerson Sheik, aos 40 anos, Danilo, 39 anos, já não podem contribuir de verdade em jogos difíceis, decisivos.
A presença de Gabriel, improvisado na lateral direita, foi uma aberração.
O tenso Douglas, o irritadiço Clayson e o esgotado Romero nada fizeram de útil. A dedicação, a aplicação de Danilo Avelar não compensam sua insegurança. Tanto na marcação como no apoio. Jadson, cansado, sobrecarregado e marcado.
Sem laterais, com lenta saída de bola, sem poder de articulação ofensiva, o Corinthians foi um alvo fácil para o Flamengo, que pôde analisar o quanto ela poderia ter sido evitada.
Os três pontos pelo menos recolocaram o time da Gávea na luta pelo título do Brasileiro. Animando Bandeira de Mello no sonho de conquistar ao menos algo importante em seis anos de poder.
Evidente que o espírito que o Corinthians enfrentará o Cruzeiro na decisão da Copa do Brasil será outro. Mas os jogadores basicamente os mesmos. E vários velhos conhecidos de Mano Menezes, treinador também vingativo e que nunca aceitou ter sido desprezado pelo Corinthians ao final de 2014.
E nestes quatro anos, a melhor chance de mandar sua lembrança para Andrés Sanchez, que o tirou do cargo, será fazendo o Cruzeiro campeão da Copa do Brasil. Além do título, dos R$ 50 milhões, há o prazer de tirar o Corinthians da Libertadores de 2019 pelo atalho.E obrigá-lo a enfrentar a pressão da busca da vaga pelo Brasileiro.
“Nós não temos o direito de apagar a classificação para a final, eliminando esse mesmo Flamengo, pela derrota hoje. Seria estranho dos nossos jogadores se a gente saísse feliz com uma derrota desse placar. É o momento que ficamos muito chateados, mas não podemos nos abater e deixar interferir no nosso grande objetivo que é a Copa do Brasil”, tentava lembrar Jair Ventura, diante da imensa frustração que dominava dirigentes, conselheiros e torcedores com o vexame de ontem.
As críticas de conselheiros importantes após a partida não atingiram apenas a fragilidade do elenco. Mas atingiram de frente o técnico. Não havia ninguém conformado pelo fato de a equipe sofrer dois gols em escanteios. Algo básico e inaceitável.
Além da escolha desastrada por Gabriel pela lateral, sabendo que Vitinho, seu jogador no Botafogo, é extremamente rápido. Pelo setor esquerdo, o time carioca poderia ter goleado, tivesse seus atacantes menos ansiedade, afobação.
O medo de Jair Ventura é real.
A derrota para o Flamengo foi pesada demais.
A insegurança retornou ao Parque São Jorge.
O ânimo de ter chegado à decisão da Copa do Brasil diminuiu.
Bastou a vivência de Dorival Júnior.
E veio o choque de realidade.
O Corinthians na Copa do Brasil passou pelo Vitória e Chapecoense, ambos na zona do rebaixamento do Brasileiro. E eliminou o confuso, tenso Flamengo do sabotado e imaturo Mauricio Barbieri.
Caminho curto e facilitado pela sorte.
Agora, a final contra um grande adversário.
E com o foco raivoso na Copa do Brasil.
Não só por Mano Menezes.
Mas também pela eliminação da Libertadores.
Com um empurrão da arbitragem ao Boca Juniors.
O Corinthians terá de superar para ficar com o título.
Mas está assustado ao encarar a sua limitação…