O São Paulo espera um público formado principalmente por famílias de torcedores para a partida deste sábado, às 11 horas, no estádio do Morumbi, na capital paulista, diante do Grêmio. É a estreia dos grandes de São Paulo jogando em casa neste horário, que está sendo testado pela CBF nesta edição do Campeonato Brasileiro. O jogo reforça a tendência de ampliação dos horários para realização dos confrontos, atendendo principalmente aos interesses das emissoras de TV, que são detentoras dos direitos de transmissão das competições.
O São Paulo vendeu 39 mil ingressos até a manhã desta sexta-feira. Os sócios-torcedores do clube puderam adquirir as entradas desde o último domingo. Na terça começou a venda para o público em geral. O valor dos ingressos varia de R$ 60 a R$ 280. Os sócios têm direito de comprar entradas por R$ 10 na arquibancada Norte Amarela.
A expectativa da diretoria é receber torcedores com perfil semelhante aos dos jogos de domingo pela manhã. Um ano atrás, o São Paulo venceu o Ceará por 1 a 0 diante de 57 mil torcedores. Naquela ocasião, as arquibancadas tiveram grande presença de mães e crianças. Um fator limitante para 2019 é o fato de sábado ser um dia útil. Muitas empresas costumam funcionar até meio-dia, em regime de meio expediente. Além disso, o sábado é um dia tradicional para o comércio de rua na cidade, de acordo com o Sindicato dos Lojistas de São Paulo.
A torcedora Natalia Milreu vai transformar a partida em um programa romântico. Ela vai acompanhada do namorado, Rodrigo Alcântara. “Acho um bom horário, dá pra ir com a família, sempre tem muitas crianças nesse horário. E é bom porque você sai cedo do jogo e ainda tem o resto do dia pra aproveitar”, opinou a são-paulina. “É um horário que, dependendo de onde você mora, não precisa acordar tão cedo pra ir ao estádio e depois dá para aproveitar todo o restante do dia”, concordou Rafael Peciauskas.
Para o camarote, as vendas estão esgotadas. “O perfil de compra foi, na grande maioria, de famílias de torcedores”, disse Leonardo Rizzo, proprietário de uma empresa que possui camarotes em três estádios paulistas, entre eles, o do Morumbi, com capacidade para 100 torcedores.
O horário, obviamente, não é uma unanimidade. O advogado Waldemar Cemin não gosta. “Você tem que madrugar para sair de casa. Compromete todo dia. Futebol pra mim é domingo às 16 horas. Sou tradicionalista. Esse horário só agrada à televisão”, criticou o torcedor.
O jogo do São Paulo terá transmissão apenas pelos pacotes de pay-per-view, o que sinaliza o alinhamento dos horários dos jogos às necessidades do planejamento das grades das emissoras de TV. No próximo sábado, o Corinthians vai enfrentar o Ceará, às 11 horas, em São Paulo. A Série A do Brasileiro tem jogos sábado à noite (21 horas), domingo de manhã (11 horas), à tarde (16 horas), horário tradicional, e à noite (19 horas) e até segunda-feira à noite (20 horas).
Já a Série B tem dias e horários ainda mais flexíveis, tradicionalmente às terças-feiras e sábados e, a partir desta temporada, às quintas. Os principais campeonatos europeus também têm horários alternativos. Neste sábado, por exemplo, o Manchester United vai visitar o Southampton às 8h30 (de Brasília), pelo Inglês.
O professor Marcelo Paciello, pesquisador sobre o comportamento do consumidor esportivo, faz um alerta. Em sua visão, os clubes menores têm médias de público baixas nos jogos realizados pela manhã. “Vejo uma tentativa da CBF de buscar formas de aumentar a presença de público nos estádios, mas não com base em dados concretos ou na opinião do torcedor, que deveria ser levada em conta. Os maiores públicos no horário das 11 horas são nos jogos dos times grandes. A torcida dos times médios não têm o mesmo comportamento”, afirmou.
Paciello se apoia nos números dos jogos aos sábados às 19 horas para tecer a sua argumentação. Quando times médios recebem os 12 grandes do País, a média de público é de 19,5 mil. Nos jogos em que os grandes recebem os médios, a média cai para 7,9 mil. Já os clássicos interestaduais entre os 12 grandes têm média de 24,8 mil e os clássicos estaduais recebem 41,5 mil pagantes. “O principal motivo para aumentar a média de público aos sábados 19 horas são os clássicos das cidades seguido dos clássicos interestaduais”, explicou.
Em relação aos jogos realizados no sábado de manhã, ele avalia que foram realizados apenas dois até momento – Vasco x Fluminense e Atlético-MG x Bahia -, com média de 18,8 mil pagantes. “Ainda a base é muito baixa para se avaliar com clareza”, afirmou.