Com seis anos de idade, Daniel Alves já rabiscava as paredes da modesta casa em que vivia ao lado dos pais e de seus quatro irmãos, em Umbuzeiro do Salitre, uma pequena comunidade em Juazeiro, no Estado da Bahia. Dizia que estava treinando para quando fosse famoso. O que parecia ser o sonho de criança, que vivia em um mundo completamente oposto ao que seus filhos vivem hoje, se tornou uma bela realidade e o orgulho da família Alves da Silva só aumenta.
Quem vê Daniel Alves, ou Dani, como é conhecido, esbanjando simpatia, humor e levantando taças (40 até agora), não imagina o quanto o garotinho de Juazeiro batalhou na vida até se tornar o grande jogador que é.
Aos 36 anos, ele pode dar início neste domingo a uma nova história vitoriosa, desta vez com a camisa de seu time de coração. O lateral é a principal atração da partida entre São Paulo e Ceará, às 16h, no Morumbi. Juanfran também joga, em um estádio que estará lotado.
Antes de se tornar referência no futebol, Dani suou a camisa. Foram incontáveis as vezes em que levantou às 4 horas da manhã para ajudar o pai, seu Domingos Alves da Silva, a trabalhar na roça, plantando e colhendo cebolas e melões, mesmo nos vários dias em que de calor era quase insuportável em Juazeiro. Para descansar, tinha uma cama de cimento, que continua intacta até hoje, na casa onde viveu parte da infância. Mesmo neste cenário, ele continuou com o sorriso fácil.
A casa onde morava atualmente é ocupada por sua tia, Carlina, irmã de seu Domingos. “O Dani fez questão de deixar o nosso quarto lá, com as camas de cimento, para relembrar sua infância”, diz Ney Alves, o irmão mais velho do jogador, em entrevista ao Estado. Ele seguiu carreira na música e hoje faz sucesso como cantor de forró pelo Nordeste brasileiro.
Seu Domingos sempre foi fanático por futebol e chegou a criar um time, que se chamava Palmeiras de Salitre. O lateral, são-paulino declarado, já disse que o pai é palmeirense. No Palmeiras de Salitre, Dani começou a mostrar seus dons futebolísticos e ganhou uma chuteira de seu pai que deu o que falar.
O calçado foi comprado fiado e Domingos levou alguns anos para pagar. “Eu vendi a primeira chuteira para o Daniel e ele não me pagou”, diz, em tom de brincadeira, Roberto Carlos, comerciante e hoje deputado estadual na Bahia. “Mas eles pagaram depois e são uma família maravilhosa”, disse o político, que é presidente do Juazeirense, time da Série A baiana.
Os pais de Daniel Alves não querem nem pensar em deixar Juazeiro. O filho pediu a eles para escolherem qualquer lugar do mundo para viver, mas decidiram permanecer onde tudo começou. Apaixonado pela roça, o pai do jogador aceitou morar em uma fazenda em Juazeiro, onde pode colher e plantar suas frutas, verduras e legumes. A tia, que mora na casa onde Dani viveu, ganhou nova residência do sobrinho, mas vendeu o imóvel e continuou na casa.
CONTRAPESO – Daniel Alves ganhou uma chance de treinar na base do Juazeiro aos 13 anos. Foi indicação de seu irmão, que era zagueiro. Tudo parecia normal quando uma negociação mudou sua vida. O Bahia demonstrou interesse em um garoto do Palmeiras de Salitre chamado Lucas. Foram longas negociações, até que o Palmeiras decidiu que só liberaria Lucas se Daniel Alves fosse junto. Talvez jamais um “contrapeso” tenha dado tão certo.
O jogador vai ganhar em breve uma homenagem da cidade natal. “Juazeiro fez coisas boas para o mundo, como João Gilberto, Ivete Sangalo (cantores e compositores) e Daniel. João já tem a sua estátua e Daniel merece a dele, pois sempre vem aqui e mostra para o mundo o amor que tem pela cidade. Isso criou um sentimento na população”, disse o secretário municipal de Cultura, Turismo e Esportes de Juazeiro, Sérgio Fernandes. A estátua deve ficar pronta até o fim do ano.