Depois de quase três meses após deixar o comando técnico do Flamengo, Domènec Torrent falou sobre sua saída do clube. Ele abriu o jogo quanto à pressão existente no cargo e sua relação com a diretoria.
“A sensação que eu tinha desde o início, e comentava como a equipe, quando liderávamos havia várias rodadas, que, com a primeira partida que perdêssemos, estaríamos fora. Por quê? Pela sensação que eu tinha lá dentro. Nunca senti apoio de verdade. Os jogadores me apoiavam. O que eu sentia, o que nos parecia, é que estaríamos fora após perder a primeira partida. E foi o que aconteceu. Não sentiu nenhuma garantia, nenhum apoio da diretoria. Nunca. Nunca.”, disse Domènec, em entrevista ao GE.
Ele ainda comentou sobre a sensação que tinha dentro do clube e nos relacionamentos com jogadores e funcionários do Flamengo:
“Eu sentia o apoio dos jogadores, de muita gente que trabalhava no clube, estava muito satisfeito com os analistas, com o treinador de goleiros, com os fisioterapeutas etc. Mas nunca senti o afeto. E devem ter seus motivos.”, comentou ele.
Domènec ainda alfinetou a diretoria flamenguista e questionou as medidas internas:
“Acho que o problema do Flamengo está dentro do Flamengo. Está dentro. Dentro do Flamengo. Enquanto eles não esclarecerem as coisas entre si, isso vai continuar com Dome, com Ancelotti, com Klopp, com Pep Guardiola, com quem for. Acho que todo mundo que trabalha no Flamengo sabe o que acontece lá.”, afirmou o treinador.
Dome, como era conhecido, comentou sobre sua relação com a diretoria e cutucou dirigentes do clube:
“Não te atinge quem quer, e sim quem pode, mas eu ficava triste por falarem mal de nós lá dentro, de forma interesseira, não sei por que, porque se atacam o treinador e os jogadores do Flamengo, isso atinge o próprio time. Eu não confio nas pessoas que sempre repetem esta frase: “Nada do Flamengo, tudo pelo Flamengo.” Normalmente, é o contrário, é nada… Quando você tem que repetir muito isso, é porque alguma coisa está acontecendo com você. Inclusive, muitas vezes eu sentia que, quando perdíamos, alguém lá de dentro ficava feliz, era o que eu sentia. Minha equipe e eu tínhamos essa sensação.”, garantiu o espanhol.
Domènec ainda comentou sobre a dificuldade em relação à continuidade que os técnicos não possuem no Brasil, uma vez que a rotatividade no cargo é sempre alta.
“O Brasileirão é muito complicado por isso, porque é impossível dar continuidade a um trabalho. Há muita impaciência, esse é o dia a dia. Aqui o projeto é ganhar no próximo domingo. Sei que é muito complicado ganhar campeonatos aqui, mas todos deveriam se perguntar o motivo, se realmente essa é a melhor opção. Nenhum treinador no mundo consegue mostrar nada em três meses.”, concluiu o treinador ex-Flamengo.
Domènec segue sem treinar nenhum clube, no momento. Ele está na sua casa, na Catalunia, e diz estar esperando por um projeto agradável. Além disso, não descarta voltar a atuar no Brasil.
“Me apaixonei pelo Brasil. E também gostei muito do Brasileirão. Tenho uma lista grande de jogadores que estão no Brasileirão que são maravilhosos. Acho que, se pudesse contratá-los, teria um time vitorioso na Europa. Há jogadores muito bons em todos os times.”, concluiu Dome.