Não há qualquer dúvida de que Mário Gobbi rompeu totalmente sua antiga ligação com o grupo Renovação e Transparência, que atualmente gere o Corinthians e segue sendo liderado por Andrés Sanchez, presidente que está a pouco mais de quatro meses de deixar o cargo.
No último sábado, Gobbi reforçou este rompimento e se apresentou como candidato de oposição para as próximas eleições presidenciais do clube, agendadas para 28 de novembro.
O delegado de polícia é a aposta da chapa Reconstrução, que tem os seguintes pontos como norte:
-Deixar títulos em segundo plano.
-Inserir departamento de compliance.
-Equalizar as contas.
-Apostar em profissionais do mercado.
-Acabar com indicações internas.
-Realizar auditorias.
-Expor balancetes mensais.
-Fazer shows no gramado da Arena.
-Alterar o Fiel Torcedor.
Agora candidato e crítico do modelo de gestão em curso, Mário Gobbi presidiu o Corinthians entre fevereiro de 2012 e fevereiro de 2015, após se eleger sob apoio daqueles que pretende tirar do poder no pleito a seguir.
A Gazeta Esportiva, portanto, levantou os números registrados nos balancetes patrimoniais e nos demonstrativos da dívida do clube no período em que Mário Gobbi ditou as ordens.
Apesar do discurso preocupado e alarmante do ex-presidente no lançamento de sua nova candidatura, nota-se que sob sua gestão justamente o aspecto financeiro não obteve bons resultados em relação ao que lhe foi entregue pelo mesmo Andrés Sanchez, responsável pelos resultados financeiros de 2011. Veja, abaixo:
Receita operacional líquida do futebol:
R$ 248.990 (2011)
R$ 293.448 (2012)
R$ 266.394 (2013)
R$ 217.036 (2014)
A queda representa R$ 31.954 milhões (12,834%). Este número se agrava quando o período de comparação parte de 2013. Ou seja, após um ano com Gobbi no comando, a queda foi de R$ 76.412 milhões (26,04%).
Receita operacional líquida do clube social e esportes amadores:
R$ 31.566 (2011)
R$ 46.999 (2012)
R$ 35.963 (2013)
R$ 27.669 (2014)
Neste aspecto, de novo o que se viu foi uma redução da receita: R$ 3.897 milhões (12.346%). Como aconteceu no futebol, o declínio com o recolhimento no Parque São Jorge é ainda mais evidente após 2012: R$ 19.33 milhões (41.129%).
Despesas operacionais com futebol:
R$ 197.386 (2011)
R$ 233.268 (2012)
R$ 248.243 (2013)
R$ 238.497 (2014)
Por outro lado, as despesas com o futebol cresceram R$ 41.111 milhões (20.827%) com Mário Gobbi.
Despesas operacionais do clube social e esportes amadores:
R$ 41.717 (2011)
R$ 44.388 (2012)
R$ 45.317 (2013)
R$ 49.868 (2014)
O mesmo vale para as contas que remetem a sede social, onde se viu um acréscimo das despesas no valor de R$ 8.151 milhões (19.538%).
Total das receitas com futebol e clube:
R$ 280.566 (2011)
R$ 244.705 (2014)
Quando se passa a régua com a soma das receitas obtidas com futebol e clube social, evidencia-se que o Corinthians sofreu uma redução neste quesito de R$ 35.861 milhões (12.782%).
Novamente, chama atenção como esta queda foi mais acentuada a partir de dezembro de 2012: R$ 95.742 milhões (28.122%).
Total das despesas com futebol e clube:
R$ 239.103 (2011)
R$ 288.365 (2014)
Da mesma maneira, as despesas aglutinadas subiram R$ 49.235 milhões (20.602%).
Total do endividamento
Ao analisar o resultado final dos balancetes, com todos os ativos e passivos que o Corinthians obteve nos respectivos anos, também é notável um agravamento da dívida do clube, que em 2019 alcançou um patamar inédito de R$ 665 milhões, com déficit recorde de R$ 177 milhões.
R$ -178.493 (2011)
R$ -177.057 – caiu 1.436 (2012)
R$ -193.664 – subiu 16.606 (2013)
R$ -313.517 – subiu 119.854 (2014)
A dívida do Corinthians cresceu em R$ 135.024 milhões com Mário Gobbi na presidência.
Direito de resposta
A Gazeta Esportiva questionou Mário Gobbi, no último sábado, sobre o aumento da dívida corintiana no período em que o atual candidato esteve no principal cargo do clube. A resposta foi a seguinte:
“Imaginemos que, em 2012, eu iria assumir e dizer ‘chega de gastar, vamos ter gestão técnica e recuperar finanças’. A gente faria isso, eu entregaria em 2014 um balanço com crédito, e os corintianos iam fazer o quê? Me apedrejar. Existia clima em 2012 para eu dizer sobre arrumar finança? Nenhum”.
“Em 2010, caímos fora com a melhor campanha da Libertadores. Porque perdemos no Maracanã e depois fizemos 2 a 0 no primeiro tempo e tomamos um gol do Vagner Love aqui, o ônibus foi apedrejado, foi atijolado. Quando saí do vestiário, ameaçaram bater em mim. Eu não conseguia andar na rua”.
“A torcida do Corinthians me parava na rua, me dizia que não dava mais, era vítima de chacota, piada, não aguentava mais. Se a gente não ganhasse a Libertadores, podia fazer o que fosse. Não tinha mais oxigênio para o corintiano viver sem a Libertadores. Então, o foco foi fazer o time vitorioso, o resto esquece. Trouxemos a Libertadores invicta, diante do Boca, isso é histórico. Quando vai acontecer de novo? Não sei. Quanto custa uma Libertadores? E o Mundial, tem preço? Nós fomos buscar, era o que a torcida queria”.
Explicação pendente
Segundo o estudo da Pluri Consultoria, o aumento da dívida trabalhista do Corinthians com Mário Gobbi na presidência saltou de R$ 25 milhões para R$ 88 milhões, um acréscimo de 352%.
A reportagem também procurou entender o motivo para este fato junto a Gobbi. O candidato admitiu que não tinha conhecimento dos números e prometeu responder durante esta semana. Em seguida, membros da chapa Reconstrução reforçaram que o grupo fará um estudo para explicar o resultado apresentado.
Legado
Mário Gobbi foi quem autorizou e concretizou as contratações de jogadores como Lodeiro, Gil, Renato Augusto, Jadson, Petros, Luciano, Bruno Henrique, Alexandre Pato, Elias, Uendel e Mendoza.
Apenas com estes jogadores listados, o Corinthians conseguiu arrecadar aproximadamente R$ 110 milhões entre 2015 e 2019. Tal fato foi utilizado como argumento pelo candidato ao segundo mandato.
“Eu recebi o clube com R$ 178 milhões em dívidas, e entregamos o clube com R$ 314 milhões. Portanto, fizemos uma dívida nos três anos de R$ 136 milhões. Na gestão, nós investimos em valores, em patrimônio. Dentre esses, trouxemos Gil, Renato Augusto, Romarinho e outros. O meu sucessor, após seis meses, vendeu esses jogadores e obteve R$ 144 milhões de receitas. Bom, receitas fruto da despesa que eu tive de comprar os jogadores. Portanto a gestão fez um lucro de R$ 8 milhões”.
O maior gasto neste sentido foi com Alexandre Pato, que custou 15 milhões de euros (cerca de R$ 40 milhões, à época) e recebia por volta de R$ 840 mil mensais, entre salário e auxílio imobiliário.
Além disso, Mário Gobbi explicou que gastou R$ 3,2 milhões com reformas que modernizaram o Parque São Jorge.
Conquistas
Com o delegado de polícia no comando, o Corinthians conquistou o inédito título da Copa Libertadores da América de maneira invicta, depois de 14 jogos, com direito a confirmação do título em cima do Boca Júniors e após passar pelo Santos de Neymar no centenário do rival alvinegro.
Na sequência, veio o Mundial de Clubes, no Japão, em cima do Chelsea, para coroar a temporada 2012.
Em 2013, o Corinthians foi campeão da Recopa Sul-Americana em cima do São Paulo e ergueu a taça do Campeonato Paulista sobre o Santos, dentro da Vila Belmiro.
No mais, Gobbi se orgulha dos diversos triunfos nas categorias de base e nos esportes amadores, como a natação.
Decepções
A partir disso, o Corinthians amargou uma eliminação na Libertadores no reencontro com o Boca depois de uma arbitragem desastrosa de Carlos Amarilla e da morte do garoto Kevin Espada durante uma partida entre o Corinthians e San Jose, em Oruro, na Bolívia.
O time terminou apenas na 10ª colocação no Campeonato Brasileiro daquele ano e Gobbi resolveu trocar Tite por Mano Menezes.
Com o gaúcho que levou o Timão da Série A de volta à elite em 2008, o Corinthians passou o vexame de ser eliminado ainda na primeira fase do Paulistão. Depois, caiu nas quartas de final da Copa do Brasil ao levar uma goleada por 4 a 1 do Atlético-MG e concluiu a temporada 2014 na quarta colocação.
Escolhas pessoais
Apesar de ter revelado no último sábado que chegou a sofrer oposição dentro do grupo Renovação e Transparência durante seu mandato, Mário Gobbi disse que evitou expor os problemas internos na ocasião para preservar a instituição. Ainda assim, Gobbi apoiou a eleição de Roberto de Andrade, e se recolheu na sequência.
Agora, Mário Gobbi entende que pode ter o “maior desafio da sua vida” ao reassumir a presidência do Corinthians. Do contrário, o candidato avisou que voltará ao seu aconchego para não atrapalhar aquele que for escolhido pelos sócios corintianos em 28 de novembro.
Por ora, além dele, Augusto Melo e Paulo Garcia concorrerão ao pleito. A situação ainda não definiu um representante. Há preferência por Duílio Monteiro Alves, atual diretor de futebol.