Raí e Alexandre Mattos, dirigentes do São Paulo e Palmeiras, respectivamente. (Foto: Lance)

Após anos vivendo realidades distintas, rivais estão juntos na briga pelo título brasileiro nos pontos corridos; confira análise das áreas dos clubes

São Paulo e Palmeiras têm vivido momentos diferentes nos últimos anos. Enquanto o Tricolor perdeu o status de clube-modelo no Brasil e está em jejum desde a Sul-Americana de 2012, o Verdão se organizou a partir de 2015 e já faturou uma Copa do Brasil e um Brasileirão. Fazia tempo que os dois não eram protagonistas em uma mesma temporada, algo que está acontecendo em 2018. O Choque-Rei deste sábado, às 18h, no Morumbi, será um dos jogos mais importantes na briga pelo título brasileiro.

Em estado de graça após a chegada de Luiz Felipe Scolari, o Palmeiras, além de semifinalista da Libertadores, lidera o Brasileirão com os mesmos 53 pontos do Internacional. O São Paulo, dono da primeira colocação até o domingo passado, pode retomá-la nesta 28ª rodada: tem só um ponto a menos.

Vale lembrar, porém, que ambos tiveram uma decepção semelhante neste ano: foram derrotados pelo Corinthians no Paulistão — o São Paulo na semi e o Palmeiras, na final. O clube do Parque São Jorge também está na final da Copa do Brasil. Os rivais não querem ficar atrás.

Casa em ordem

O departamento de futebol do São Paulo passou por muitas mãos entre outubro de 2015, quando Leco assumiu a presidência, e dezembro de 2017, mês em que o ídolo Raí foi contratado como diretor-executivo. Gustavo Vieira de Oliveira, Marco Aurélio Cunha e Vinicius Pinotti ocuparam o cargo no período em que o clube brigou contra o rebaixamento duas vezes seguidas no Brasileirão, em 2016 e 2017.

Durante toda essa dança das cadeiras no Tricolor, o Palmeiras teve apenas um diretor-executivo: Alexandre Mattos, contratado por Paulo Nobre no início de 2015 após conduzir o Cruzeiro ao bicampeonato nacional em 2013 e 2014. Com carta-branca, ele organizou um departamento que funcionava mal. Trouxe o elogiado Cícero Souza para ser gerente de futebol, transformou o clube em um bicho-papão no mercado de jogadores – para comprar e para vender -, estruturou a base, encheu a comissão técnica de profissionais conceituados e liderou a reforma que fez da Academia de Futebol um dos melhores centros de treinamento do Brasil. Para isso, é claro, contou com muito dinheiro: a Crefisa é fundamental, mas o programa de sócio-torcedor, a bilheteria altíssima do Allianz Parque e outras fontes de receita ajudam muito.

Com Raí, o São Paulo passou a trilhar um caminho parecido. A tríade com Lugano e Ricardo Rocha, outros dois ex-jogadores vitoriosos do Tricolor, pacificou o CT da Barra Funda e facilitou muito o diálogo entre diretoria e jogadores. As coisas começaram a fluir ainda mais depois que Diego Aguirre chegou para substituir Dorival Júnior. Hoje, o departamento de futebol do Tricolor funciona sem maiores percalços.

Briga no mercado

São Paulo e Palmeiras começaram a dividir o protagonismo antes mesmo de a bola rolar em 2018. Os dois disputaram o jogador mais desejado do mercado brasileiro na janela de pré-temporada: Gustavo Scarpa. Melhor para o Verdão, que aproveitou-se de uma vitória do atleta em briga judicial contra o Fluminense e acertou a compra de seus direitos econômicos por 6 milhões de euros (R$ 27 milhões na cotação atual), pagos a ele próprio. Na semana passada, houve uma modificação neste acordo para dar fim à batalha contra o Flu: 1,5 milhão de euros (R$ 6,7 milhões) vão para a equipe das Laranjeiras, e os 4,5 milhões (R$ 20,3 milhões) restantes ficam com Scarpa e seu estafe. O Verdão selou a contratação de Scarpa mesmo depois de acertar com Lucas Lima, outro meia bastante cobiçado, que não renovou com o Santos e recebeu 5 milhões de euros (R$ 17 milhões na época) para jogar no Palestra Itália.

Raí perdeu esta batalha para Mattos, mas contratou dois jogadores que já foram muito desejados pelo dirigente do rival: Diego Souza, comprado do Sport por R$ 10 milhões em janeiro, ficou muito perto de vestir verde seis meses antes. Everton, contratado do Flamengo por R$ 15 milhões em abril, também teve namoros anteriores com o Palmeiras. Hoje, ambos são fundamentais no esquema do Tricolor.

Como a situação financeira do São Paulo não é tão confortável quanto a do rival, essa postura agressiva só foi possível porque Lucas Pratto foi vendido ao River Plate (ARG) por R$ 32,9 milhões no início do ano. O clube também fez investimentos altos em Tréllez (R$ 6 milhões), Jean (R$ 6 milhões), Everton Felipe (R$ 6 milhões) e Gonzalo Carneiro (R$ 2,5 milhões). Para ter Nenê, o São Paulo perdoou uma dívida do Vasco de cerca de R$ 800 mil.

O Palmeiras gastou R$ 70 milhões para reforçar seu elenco nesta temporada, enquanto o São Paulo desembolsou em torno de R$ 50 milhões.

Os reforços do São Paulo em 2018

Diego Souza – R$ 10 milhões

Everton – R$ 15 milhões

Tréllez – R$ 6 milhões

Jean – R$ 6 milhões

Everton Felipe – R$ 6 milhões

Nenê – R$ 800 mil

Gonzalo Carneiro – R$ 2,5 milhões

Bruno Peres – empréstimo

Valdivia – empréstimo

Anderson Martins – rescindiu com o Vasco*

Régis – contrato com o São Bento chegou ao fim*

Rojas – valores não divulgados

* Valores de luvas não divulgados

Os reforços do Palmeiras em 2018

Weverton – Atlético-PR – R$ 2 milhões

Nico Freire – PEC Zwolle-HOL – Emprestado

Emerson Santos – Botafogo – R$ 5,5 milhões

Marcos Rocha – Atlético-MG – Empréstimo

Diogo Barbosa – Cruzeiro – R$ 12 milhões

Gustavo Scarpa – Fluminense – R$ 27 milhões (R$ 6,7 ao Fluminense e R$ 20,3 milhões ao jogador)

Lucas Lima – Santos – R$ 17 milhões ao jogador

Gustavo Gómez – Milan (ITA) – R$ 6,5 milhões

Estádios sempre cheios

São Paulo e Palmeiras estão entre os clubes que mais levam torcedores ao estádio em 2018. Os são-paulinos têm a segunda melhor média do Brasileirão, com 38.129 torcedores por jogo, atrás dos 46.262 do Flamengo. A expectativa é de que mais de 50 mil pessoas estejam no Morumbi neste sábado: será o oitavo jogo seguido do clube como mandante no Brasileirão com mais de 40 mil espectadores, um recorde tricolor.

O Palmeiras tem a terceira maior média, com 30.111. Os alviverdes levam vantagem na renda bruta: R$ 23,4 milhões (a mais alta do Brasileiro) contra R$ 16,9 milhões do São Paulo. Os ingressos no Allianz Parque são mais caros (R$ 59 o ticket médio) do que no estádio do rival (R$ 34).

Na temporada em geral, o Verdão tem a segunda melhor média de público entre os clubes da Série A: 30.687, atrás apenas do Flamengo (35.318). O São Paulo está em terceiro, com média de 30.404, e deve pular à frente quando o Choque-Rei deste sábado entrar na conta.

Considerando todas as competições, o ticket médio do Palmeiras vale R$ 67, o mais caro do país. O do São Paulo é de R$ 31.