Carille diz que sente vergonha do time e não abre mão da multa para deixar o Corinthians
Fábio Carille voltou à sala de imprensa do Corinthians após mais de quatro meses para conceder uma entrevista coletiva que durou cerca de 25 minutos. Cada repórter teve direito a uma pergunta, mas o tema, obviamente, não foi tão variado. O técnico passou a maior parte do tempo tendo de falar sobre a pressão no cargo e o motivo do time não reagir em campo.
Em um dos momentos mais fortes da sabatina, Fábio Carille admitiu que sente “vergonha” quando assiste o Corinthians jogando, e também voltou a bater na tecla de que o elenco carece de jogadores de velocidade.
“Vergonha, não preciso olhar como torcedor, tenho e olhar como comissão e ser ciente daquilo. Vergonhoso! Parece que não é um time treinado, (parece) que se junta no vestiário e vai para o jogo. Você passa informações e daqui a pouco não está sendo feito. Não falta raça, não posso reclamar, mas tecnicamente tem de ser melhor”.
Quando questionado sobre a importância dos valores envolvidos em caso de demissão, Fábio Carille deixou claro que não vai abrir mão de receber a multa, mas minimizou o fato e aconselhou até o parcelamento ao Corinthians, caso o clube opte pela rescisão.
“Graças a Deus, hoje não me preocupo tanto com a parte financeira, minha vida direcionou muito de 17 para cá. Esses dias o Andrés falou do valor da dívida do Corinthians, quem deve 450 deve 470. Não é o dinheiro que vai me prender aqui, pode ter certeza. Quem deve R$ 100 mil deve R$ 101 mil, quem deve R$ 470 milhões deve R$ 490 milhões. E outra, se está o clima ruim, não é o dinheiro que vai fazer segurar. Nem se eu quiser ou se o clube quiser, parcela em 50 vezes igual nas Casas Bahia e segue. Minha multa é muito pouco para o problema do Corinthians, mas muito pouco”, disse.
“Contratos são para ser cumpridos. Quando eu saí do Corinthians eu não perguntei se o Corinthians abriria mão da multa, eu paguei. Quando eu saí da Arábia eu não perguntei se o time lá abriria mão da multa, eu paguei. Contratos são para ser cumpridos, mas que são para ser conversados também, sou um cara muito aberto. Não sei quem deu essa informação, são as famosas fontes, estou muito tranquilo. Se o Andrés está me mantendo no cargo, pela experiência que ele tem, não é dinheiro. Você dever 450 e 460 é a mesma coisa, me desculpa, isso não muda nada. Você pode ter certeza que se eu estivesse prejudicando, não tivesse o vestiário, eu já estaria fora. Não vamos nos apegar a dinheiro, porque isso é história para boi dormir”.
Fábio Carille também falou que não vê nenhum novidade no time do Flamengo, mas não poupou elogios ao adversário de domingo, e também aproveitou para explicar o plano de jogo para o desafio no Maracanã.
Leia toda a entrevista de Fábio Carille:
Pressão
“Primeiro, agradecer todo o ibope de ontem, o que foi falado, o “dia do fico ou não fico” e não sei o quê. Claro que depois do jogo passa tudo pela cabeça, mas tenho uma diretoria muito experiente de vestiário, e se eles entendem que pode ser melhor, pode ser diferente, por que eu vou desistir? Está sendo o primeiro momento (ruim) em dois anos e 11 meses como técnico, tenho que enfrentar, melhorar, todos nós, claro que pós jogo você pensa um monte de coisa, mas na viagem, ontem já comecei a planejar o jogo de domingo”.
Jogadores “de férias”
“O que a gente percebe e bate muito com isso que o Andrés falou é que o ano já acabou, e isso tem um porquê: é campeão paulista, sai contra para um Flamengo na Copa do Brasil e jogando bem, chega numa semifinal de Sul-americana e estamos na parte de cima do Brasileiro. Depois que atingiu 41 pontos e não corria mais risco, chama atenção a concentração dos atletas, já falei para eles. Já ouvi falar assim também: ‘ano passado, a gente tendo de fazer cera para não cair’. Não definiu o ano, está sendo um desafio para mim, motivar os jogadores, entender que aqui tem de estar bem sempre. Nível de atenção, concentração, é nítido que caiu bastante depois que atingiu uma pontuação”.
Autocrítica
“É um trabalho bom, dentro das condições do Corinthians, sou muito grato pelo o que o Corinthians fez, acho até que veio mais jogadores que eu imaginava, um ano de construção. Conseguimos alguns objetivos, de 60 times, você chegar a uma semifinal de Copa Sul-americana com vários problemas de equilíbrio no elenco, faltando características para o seu time, isso é claro. É um ano bom. Podia ser melhor? Podia ser melhor”.
Clima e peso da multa
“Há clima, sim. “Graças a Deus, hoje não me preocupo tanto com a parte financeira, minha vida direcionou muito de 17 para cá. Esses dias o Andrés falou do valor da dívida do Corinthians, quem deve 450 deve 470. Não é o dinheiro que vai me prender aqui, pode ter certeza. Quem deve R$ 100 mil deve R$ 101 mil, quem deve R$ 470 milhões deve R$ 490 milhões. E outra, se está o clima ruim, não é o dinheiro que vai fazer segurar. Nem se eu quiser ou se o clube quiser, parcela em 50 vezes igual nas Casas Bahia e segue. Minha multa é muito pouco para o problema do Corinthians, mas muito pouco”.
Como reagir?
“Não dá para perder jogando o que a gente está jogando. A gente tem de jogar mais, o presidente está certo, é um cara que acompanha o dia-a-dia, viaja, está em vestiário, experiente, eu também estou há 27 anos dentro de vestiário. Se eu sinto que eu perdi o grupo, eu saio, então, o problema não é esse, os jogadores não estão de corpo mole. Correndo nosso time está, se não estivesse correndo estaríamos perdendo de mais e perdendo feio. Falta mais qualidade entendimento com o time”.
Sofrimento contra time que toca mais a bola
“Só discordo de você que não é só contra times assim, não. Não é só time que roda a bola, não. Quando pega time que gosta de ficar com a bola, você precisa de velocidade na frente. Isso falta para gente. Foi agora o Palmeiras com o São Paulo. A gente precisa ser mais agressivo, precisa dessa característica, isso é claro, nítido, não é colocar o grupo contra. Analisa o que eu estou falando. Faltam peças para que a gente possa jogar contra qualquer tipo de jogo. Essa é nossa busca já, enquanto eu estiver aqui eu participo do planejamento para 2020. Meu time é bom e falta algumas características para que seja melhor”.
Reunião com torcedores
“Não participei, não queriam falar comigo, em outros momentos já aconteceu de eu falar com eles. Eu prefiro isso que agressão e tudo mais. Eles expõem o que eles pensam, não sei qual foi a conversa, eu fui embora, se não vieram falar para mim é algo que não tinha de chegar para mim”.
O que aconteceu para mudança entre 2018 e 2019?
Comigo não aconteceu nada. De 2018 para cá eu acho que tenho dois ou três jogadores só, característica mudou. Essa história de retranca, retranca, eu terminei o jogo contra o Vasco com Pedrinho, Jadson, Vital, Clayson e Gustavo. Que retranca é essa? O que a gente precisa é ficar mais com a bola. Está faltando entrar mais no campo adversário, o que o Flamengo tem feito, com qualidade, você sobe a linha lá em cima, você enche o campo adversário. A gente perdeu um pouco a confiança de jogar, a gente está conhecendo alguns jogadores na pressão. Meus pensamentos sobre futebol continuam os mesmos. O que eu penso e o que eu já fiz não vejo diferente de Flamengo, nada de novo, com uma linha bem definida atrás, com meia de flutuação como eu tinha o Jadson em 17, que é o Éverton (Ribeiro). Em 2018, a gente pelas dificuldades ofensivas eu modifiquei a forma de jogar, eu joguei com Jadson e Rodriguinho, o Flamengo joga com Bruno (Henrique) e Gabigol, que são dois atacantes, sem um 9 de referência. A gente tem de se adaptar com o que a gente tem. As minhas ideia continuam as mesmas, acredito muito nessa forma que o Corinthians tem 13 títulos, títulos de expressão, sistema que eu acredito demais e dá resultado. Aqui, preciso equilibrar meu elenco para que eu possa propor melhor o jogo”.
Impacto de ficar fora da Libertadores
“Muitas (mudanças). Presidente já deixou claro isso. Questão de motivação, a pressão acho que já vai ser natural, por tudo que está acontecendo. A gente tem de se mexer e ser mais para buscar nossos objetivos”.
Análise quando revê os jogos pela TV
“Vergonha. Não preciso olhar como torcedor, não. Eu tenho e olhar como comissão e ser bastante ciente daquilo. Vergonhoso. Parece que não é um time treinado, parece que é um time que se junta no vestiário e vai paro o jogo. Você passa informações e daqui a pouco não está sendo feito. Não falta raça, estão correndo, não posso reclamar, mas tecnicamente tem de ser melhor”
Time para domingo
Não é por dentro, não. Fazendo Ramiro ali, com liberdade da direita para dentro, essa é a ideia. Vai ter uma mudança do que foi feito hoje, já é certo, ali já deixei para uma situação, preparar os jogadores, que vêm cansados, viagem, pressão, tudo aquilo. Hoje foi só para dar uma ideia daquilo que eu penso e quero para o jogo contra o Flamengo, mas vai ter uma mudança, foi caso ali para uma situação de jogo”
Análise do Flamengo
“O que está acontecendo com Flamengo é algo que já aconteceu aqui muitas vezes, questão da preparação, concentração, você chega numa Final de Libertadores, aí no fim de semana vai para um jogo contra o CSA, que está na zona de rebaixamento, e o CSA faz um grande jogo, mereceu ganhar o jogo. Não é qualidade, nada, é o nível de contração que caiu. Ontem não quis assistir, fiquei fazendo outras coisas, vou ver agora, Leandro (auxiliar) já me passou muitas coisas agora pela manhã, por isso já esbocei o Corinthians em cima, mas é o melhor elenco do Brasil, com excelente técnico, vamos ter de ser diferente lá para conquistar um resultado melhor”
Tem peças para mudar o jeito de jogar?
“Não, não tenho muito. Algo que já trouxe para treino e não deu resultado. É em cima da ideia e mudando as características dos jogadores em cima do setor”.
Sente que o Corinthians confia no trabalho?
“A pergunta tem de ser feita para a direção do Corinthians, não para mim”.
Abriria mão da multa para sair?
“Contratos são para ser cumpridos. Quando eu saí do Corinthians eu não perguntei se o Corinthians abriria mão da multa, eu paguei. Quando eu saí da Arábia eu não perguntei se o time lá abriria mão da multa, eu paguei. Contratos são para ser cumpridos, mas que são para ser conversados também, sou um cara muito aberto. Não sei quem deu essa informação, são as famosas fontes, estou muito tranquilo. Se o Andrés está me mantendo no cargo, pela experiência que ele tem, não é dinheiro. Você dever 450 e 460 é a mesma coisa, me desculpa, isso não muda nada. Você pode ter certeza que se eu estivesse prejudicando, não tivesse o vestiário, eu já estaria fora. Não vamos nos apegar a dinheiro, porque isso é história para boi dormir”.