Candidato à presidência do Conselho Deliberativo do São Paulo recusa rótulo de “centrão” e defende gestão à la Flamengo

Publicado em 9 jul 2020, às 07h00. Atualizado às 07h15.

As eleições para a presidência do Conselho Deliberativo do São Paulo acontecem apenas em novembro, no entanto, os bastidores políticos do clube já estão fervendo. Candidato ao pleito pela chapa “Juntos pelo São Paulo”, que conta com Julio Casares como candidato à presidência do Tricolor, Olten Ayres de Abreu Júnior falou com exclusividade à Gazeta Esportiva para detalhar quais os caminhos que a instituição precisa seguir para voltar aos seus tempos de glória.

Responsável por uma coalizão que envolve oito grupos políticos do Tricolor, a chapa “Juntos pelo São Paulo” ganhou força nas últimas semanas graças ao apoio de conselheiros que iriam concorrer nas eleições para a presidência do Conselho Deliberativo, mas acabaram desistindo, casos de Homero Bellintani Filho e José Roberto Ópice Blum. Ainda assim, Olten Ayres nega que essa união política possa ser chamada de “centrão”.

Olten Ayres de Abreu Júnior é filho do ex-árbitro de futebol Olten Ayres (Foto: Reprodução)

“Não existe ‘centrão’. Não somos um grupo que se juntou politicamente em troca de cargos ou de favores. O que existe é uma coalizão, como você bem ressaltou, formada por diversas correntes, com pensamentos diferentes, e que continuam defendendo suas ideias, mas que se juntaram para somar forças e ajudar o São Paulo a sair do momento em que se encontra. Eu não deixei de ser oposição, assim como o presidente José Eduardo Pimenta, entre outros membros do grupo. Sou um crítico, sim, mas acredito no projeto a que nos propomos construir juntos e com proposição construtiva”, afirmou.

“Neste momento, quem não estiver com o pensamento de união, não está pensando no São Paulo. Querer ver o clube se afundar mais só para provar quem está certo e quem está errado, a meu ver, é um individualismo. Neste momento, quem não estiver unido pelo São Paulo estará contra o São Paulo. Neste momento só há dois lados, quem está com o São Paulo ou quem está contra o São Paulo. E nós, certamente, estamos juntos pelo São Paulo”, completou.

Pelo lado da oposição, Marcelo Marcucci Portugal Gouvêa foi confirmado como candidato ao Conselho Deliberativo do São Paulo. Ele é filho do ex-presidente Marcelo Portugal Gouvêa, campeão da Libertadores e do Mundial de Clubes de 2005 e responsável pela construção do complexo das categorias de base do clube, em Cotia. Já em relação à presidência do clube, há três nomes no grupo que correm pelo pleito: Marco Aurélio Cunha, Roberto Natel e Sylvio de Barros.

Abaixo você confere a entrevista completa com Olten Ayres de Abreu Júnior, candidato à presidência do Conselho Deliberativo do São Paulo:

Você liderou o movimento para que houvesse uma emenda que proibisse conselheiros a atuarem em cargos remunerados no São Paulo. Qual foi o motivo para a decisão?

R: O movimento começou numa reunião na minha casa, e daí nasceu a ideia de apresentar a emenda que proíbe a atuação de conselheiros em cargos remunerados no clube. O Conselho Deliberativo e seus membros representam um dos Poderes do clube e, como tal, precisam seguir certas normas para que as funções do órgão sejam cumpridas à risca. Entendemos que misturar atuação política com função profissional não é um bom caminho.

Atualmente, a chapa na qual você e Julio Casares figuram recebe o apoio do presidente Leco e também de José Eduardo Mesquita Pimenta, que foi adversário do atual mandatário na última eleição. Você acredita ser possível unir diferentes grupos da política do São Paulo ao longo de todo o mandato, considerando que muitos possuem visões bastante divergentes de gestão?

R: A coalizão que se configurou em torno dos nomes do Julio Casares e do meu mostra que o momento é de união, pelo bem do São Paulo. Nosso grupo, na eleição passada, foi adversário do atual presidente e nunca deixou de se posicionar contra o que acreditamos não ser o melhor para o clube, e assim vamos continuar a fazer. Discordarmos de processos implantados e decisões tomadas na gestão atual. Mas, ser oposição não significa o mesmo que torcer contra o São Paulo. Não temos nenhum interesse em promover o “quanto pior, melhor”. A coalizão se construiu na discordância de ideias, mas na concordância de que o melhor para o São Paulo é a união de todos os são-paulinos. A hora agora é de juntar forças, colaborar, discutir, construir, expor e defender pontos de vista diferentes. A hora é de estarmos juntos pelo São Paulo.

Como você enxerga a atual administração do São Paulo? Na sua opinião, o clube vem dando passos maiores do que deveria para fazer frente a rivais hoje mais poderosos, mesmo sem condições financeiras de fazer isso?

R: Há um descompasso entre receitas e despesas, sobretudo no futebol. Os inúmeros gestores que passaram pelo futebol nos últimos anos, e que hoje estão querendo se mostrar como oposição por questões eleitorais, acabaram por cometer erros de avaliação, sobretudo na montagem dos elencos, com contratações cujo custo-benefício nem sempre foi levado em conta. Algumas contratações foram feitas com valores e prazos que não foram ideais para o clube. Mesmo com altos investimentos em atletas, a gestão não conseguiu cumprir o objetivo de levar o São Paulo a voltar a conquistar títulos.

Você já defendeu algumas vezes a necessidade de o São Paulo seguir o exemplo do Flamengo em termos de reestruturação financeira, mas como dizer ao torcedor que é preciso se conformar com anos fora do protagonismo, como aconteceu com o Flamengo, para que o poderio financeiro possa ser retomado e lá na frente voltar a brigar por títulos, sendo que o clube vive uma seca de conquistas há anos?

R: A primeira coisa que o São Paulo precisa é de uma política de austeridade financeira. É preciso saber o tamanho da dívida, concentrar esforços em planejar como ela será tratada, com ações de curtíssimo, curto, médio e longo prazos, e começar a executar esse plano. Isso não quer dizer que o São Paulo vai abdicar de disputar as competições com o objetivo de vencer. O que será feito é a adoção de uma abordagem com inteligência, que faça o São Paulo tomar as melhores decisões baseado em dados e análises concretas. As categorias de base do clube, por exemplo, podem fornecer jogadores para compor elenco, dando oportunidade para crescimento desses atletas no time profissional. Investimentos maiores, dentro do que for identificado como possível para o clube, serão feitos a partir de avaliações criteriosas, a partir de análises de pessoas com conhecimento técnico e em gestão, capazes de mostrar esse caminho. O São Paulo precisa integrar a Barra Funda, Cotia e o Morumbi para que as decisões sejam tomadas com todo o cuidado possível, para diminuir chances de erro em contratações.

Hoje o São Paulo possui em seus diferentes departamentos funcionários que abriram mão de ser conselheiros para seguirem exercendo suas respectivas funções. A gestão Casares-Olten pretende contratar profissionais do mercado, com maior perspectiva de inovação em diversos segmentos, ou manterá pessoas que já fazem parte do “ambiente São Paulo” para tocar essas diferentes áreas?

R: Um dos pilares do plano de gestão que nossa coalizão propõe é justamente o da profissionalização, com a contratação de executivos para gerirem as diversas áreas. Eles terão que corresponder a critérios específicos para cada função, com comprovada capacidade técnica para gerir em seus campos de atuação. Esses profissionais serão cobrados a atingir resultados pré-estabelecidos pelo clube, em planejamento anual de metas e objetivos. A remuneração deles também será por produtividade. Receberão um valor-base condizente com a média do mercado para cada função, e terão bonificação caso os objetivos sejam atingidos.

Na gestão Leco, o termo “Aeroleco” se tornou famoso pelo fato de o presidente ter bancado viagens a conselheiros para acompanharem o São Paulo na partida contra o Talleres, pela Pré-Libertadores. A pretensão de bajular e atender a interesses de conselheiros é um “câncer” da política tricolor?

R: O São Paulo precisa impor a si mesmo critérios de governança, estabelecendo um código de conduta claro e transparente para que todos os que transitarem em sua gestão saibam o que é permitido e o que não é tolerado dentro do clube. Dentro desses parâmetros, a nossa coalizão está propondo a criação de um setor de compliance, para ditar essa conduta e fiscalizar se há o cumprimento das regras desse código. Queremos deixar claro o que o São Paulo permite e o que o São Paulo não permite como conduta de seus colaboradores e administradores.

Hoje o São Paulo Futebol Clube é guiado por algumas dezenas de torcedores. Nos últimos anos, esse ambiente tão fechado se comprovou ineficaz na busca por títulos e engrandecimento da instituição. Você é a favor de uma maior democratização do processo político do clube? Por que não abrir as eleições para sócio-torcedores poderem votar nos candidatos que mais os agradam?

R: A mudança no sistema de eleição do clube pode ser discutida, mas é preciso ter em mente que, caso se decida por uma mudança como essa, alguns critérios rigorosos de habilitação do eleitor sejam estabelecidos. É preciso que o sócio-torcedor tenha, por exemplo, um tempo regular e longo como membro do programa. Até para se evitar possíveis tentativas de manipulação e uso de poder econômico para se decidir uma eleição. Imagine que, se qualquer pessoa que seja membro do ST possa votar, apenas com um pequeno prazo de carência (três meses, digamos). Um candidato que tenha um apoio financeiro forte poderia distorcer o processo comprando milhares de títulos de última hora e, assim, aumentando seu apoio. Um processo aberto mal elaborado pode trazer consequências sérias para o clube no longo prazo. É importante deixar claro que uma alteração no sistema eleitoral não depende apenas do presidente do Conselho Deliberativo, e sim de uma ampla discussão dentro do CD e, também, obter o aval dos sócios, através de uma Assembleia Geral.

Você e o Casares representam uma coalizão de 8 grupos e tentam o tempo todo se desvincular da “situação”. qual é o posicionamento do grupo? O que parece, sendo bem simples, é que vcs não concordam com a atual administração, mas também não são a favor das ideias da oposição. Ou seja, vcs seriam o “centrão” do SP?

R: Não existe centrão. Não somos um grupo que se juntou politicamente em troca de cargos ou de favores. O que existe é uma coalizão, como você bem ressaltou, formada por diversas correntes, com pensamentos diferentes, e que continuam defendendo suas ideias, mas que se juntaram para somar forças e ajudar o São Paulo a sair do momento em que se encontra. Eu não deixei de ser oposição, assim como o presidente José Eduardo Pimenta, entre outros membros do grupo. Sou um crítico, sim. Mas acredito no projeto a que nos propomos construir juntos e com proposição construtiva. Neste momento, quem não estiver com o pensamento de união, não está pensando no São Paulo. Querer ver o clube se afundar mais só para provar quem está certo e quem está errado, a meu ver, é um individualismo. Neste momento, quem não estiver unido pelo São Paulo estará contra o São Paulo. Neste momento só há dois lados, quem está com o São Paulo ou quem está contra o São Paulo. E nós, certamente, estamos juntos pelo São Paulo.