Desde quando confirmou a venda de Pedrinho ao Benfica, em março, o Corinthians tem trabalhado com a ideia de antecipar o valor total da operação. Os portugueses aceitaram pagar 20 milhões de euros, cerca de R$ 120.3 milhões na cotação dessa quarta, parcelados em quatro anos.
Obviamente, a antecipação vai ter um custo ao clube paulista. No entanto, é consenso dentro da diretoria que é vantajoso receber o montante inteiro agora, mesmo com o abatimento à instituição intermediadora.
Há uma expectativa diária no clube para que o dinheiro caia na conta alvinegra. Em função dos reflexos causados pela pandemia do coronavírus, o Corinthians deixou de recolher receitas de TV, bilheteria e até de patrocínios. A quantia seria usada de imediato, por exemplo, para resolver dois meses de atraso na folha salarial do elenco principal.
O que muitos têm se questionado é o motivo pelo qual o Corinthians ainda não conseguiu receber a grana. Afinal, o que, de fato, tem impedido a conclusão da operação financeira?
A Gazeta Esportiva apurou que não há um único empecilho, e sim um conjunto de fatores. Também não há uma data específica. O dinheiro pode chegar ao Timão a qualquer momento, e isso não depende do Benfica. Entenda em cinco passos:
1 – Antecipação não é com Benfica
O Corinthians busca a antecipação do dinheiro por meio de um acordo com um banco ou um fundo de investimento. O Benfica é apenas a garantia de que o clube do Parque São Jorge tem 20 milhões de euros a receber, conforme contrato assinado.
Portanto, os portugueses não têm poder ou culpa sobre o dinheiro ainda não ter caído na conta do Corinthians. O alvinegro não depende do Benfica para conseguir o que deseja.
2 – Quem vai antecipar o valor
Não há uma instituição exclusiva envolvida no negócio. O Corinthians, desde março, tem consultado diversos bancos e fundos de investimento. As conversas são independentes e contemplam garantias e maneiras de operar diferentes. O plano em não ficar preso a uma única instituição tem o intuito de acelerar o processo e buscar o que for mais vantajoso.
3 – Influência da pandemia
À época das primeiras conversas com as instituições financeiras, o Corinthians recebia orçamentos de taxas muito inferiores ao que foi apresentado ao clube após o início da quarentena no Brasil e o agravamento da covid-19 no país. Isso fez o Corinthians ter cautela e voltar mais forte às conversas neste momento, com a queda da inflação no exterior e os valores das taxas retomando ao cenário anterior.
4 – Morte de Sala e TMS
Alguns pontos dificultam e acabam por retardar a efetivação da antecipação do dinheiro. Os principais são os riscos calculados pelas instituições financeiras. O caso recente da morte de Emiliano Sala é um exemplo levado em consideração.
O argentino já havia sido negociado pelo Nantes com o Cardiff City quando sofreu um acidente aéreo em janeiro de 2019. Por isso, houve uma briga judicial, pois os franceses entendiam que tinham direito a receber o valor pela venda da mesma maneira. Sem acordo entre as partes, a Fifa precisou interferir e ordenou que o Cardiff efetuasse o pagamento, mesmo sem nunca ter recebido o atleta.
Emiliano Sala morreu após um acidente aéreo
O fato do Benfica também atravessar problemas financeiros devido a pandemia é outro ponto, já que o clube da Águia, na hipótese da antecipação, pagará o valor devido ao banco ou ao fundo, e não mais ao Corinthians, diretamente.
Ou seja, cada instituição entende a situação de uma maneira e faz as ponderações que entende ser pertinentes, tal qual as garantias pedidas também são distintas.
Entretanto, dentro destas questões, a reportagem apurou que nenhuma instituição condicionou a chegada de Pedrinho a Portugal para concluir o pagamento, como aventou Matias Ávila, diretor financeiro corintiano.
5 – O que deve facilitar tudo
O Corinthians tenta, diariamente, concluir as tratativas para receber o dinheiro, o que pode acontecer a qualquer momento. Mas, há uma estimativa de que tudo fique mais fácil a partir de 1º de julho, se até lá a antecipação não tiver sido feita.
A data representa a abertura da janela em Portugal. Desta maneira, o acordo entre Corinthians e Benfica será inserido no TMS, sigla em inglês para o sistema internacional de transferências gerido pela Fifa e preenchido pelos clubes.
Apesar do contrato entre Corinthians e Benfica já existir, assinado, assim como o documento entre Pedrinho e seu novo clube, e toda essa negociação ser irrevogável, a transferência não pode ser inserida no TMS enquanto a janela não abrir.
Conclusão
O Corinthians trabalha em diversas frentes para conseguir a antecipação dos 20 milhões de euros (R$ 120.3 milhões nessa quarta) e, por maior que seja a ansiedade entre torcedores, o clube acredita que uma ou outra, e muito em breve, o dinheiro será creditado. O Benfica não tem o poder de ‘segurar o pagamento’. As oscilações do mercado, sim, devido à pandemia e também a fatos como o de Emiliano Sala, tornam a parte burocrática um obstáculo mais árduo de ser superado. O cenário com a transferência registrada no TMS certamente trará benefícios ao Corinthians nesta negociação com as instituições financeiras.
Viagem adiada
A princípio, Pedrinho viajaria no dia 30 deste mês para se apresentar ao Benfica, mas os planos mudaram, conforme antecipou a Gazeta Esportiva.
O clube português não vê sentido em receber o jogador de 22 anos agora para deixa-lo treinando sozinho, já que a temporada 2019/2020 foi retardada em função da pandemia do novo coronavírus.
O meia brasileiro, então, seguirá em São Paulo até receber novas diretrizes do clube de Lisboa. O Campeonato Português voltou a ser disputado no dia 4 de junho e deve se encerrar em 25 de julho.
Sendo assim, é bem provável que a revelação do Corinthians viaje entre o fim do mês que vem e o início de agosto. Desta maneira, Pedrinho seria integrado ao elenco da Águia de imediato, focado na temporada 2020/2021, que tem previsão para começar em setembro. Pedrinho não pode ser inscrito pelo Benfica antes disso.
Repasse ao empresário
Além da taxa que será recolhida pelo banco responsável pelo repasse, o Corinthians também terá de pagar Will Dantas, empresário de Pedrinho, que detinha 30% dos direitos econômicos do atleta à época da execução da venda.
A Gazeta Esportiva também revelou na última sexta-feira que o agente aceitou receber a sua parte em três parcelas anuais de 10%, a partir de 2021. Ou seja, o clube pagará cerca de R$ 11,8 milhões a Will Dantas, por temporada, até o fim de 2023.