Goleiro brasileiro relata a situação do novo coronavírus na Itália
Com mais de quatro mil mortes, a Itália ultrapassou a China na última quarta-feira e se tornou o país com mais vítimas fatais do novo coronavírus. Em meio a uma quarentena severa, o goleiro brasileiro Gabriel Vasconcelos, do Lecce, conversou com a Gazeta Esportiva para explicar um pouco melhor como anda a situação na terra do calcio.
“Hoje é o 10º, 11º dia que estamos em quarentena, graças a deus a cidade onde eu estou é uma cidade pouco afetada, mas mesmo assim, estamos tomando os maiores cuidados possíveis, ficando dentro de casa, saindo só se for para o supermercado e fazendo compras que durem por mais tempo”, contou.
Desde 2012 na Itália, o goleiro lamenta ver o país passar por um momento tão crítico devido à pandemia. “Estou completando oito anos aqui na Itália e é um país maravilhoso – que dentro dele abriga várias diferenças, como entre o sul e o nortel – e vem sendo bem difícil”, comentou.
É um país que as pessoas amam futebol, que amam sair para jantar, estar juntas, receber as pessoas em casa, e todas essas coisas agora foram vetadas. Um país que você sempre vê também pessoas mais velhas na rua, andando de bicicleta, fazendo atividade física, e hoje em dia nada disso tem sido possível. Então é bem difícil, é triste
Rotina na quarentena
Revelado pelo Cruzeiro e com passagens por Milan, Carpi, Napoli, Cagliari, Empoli, Perugia e agora Lecce, o goleiro também compartilhou como vem sendo sua rotina na quarentena.
“Agora a rotina mudou bastante, porque a gente está acostumado a treinar de manhã, treinar a tarde, depois sair, ir jantar fora com a esposa e essas coisas mudaram. A gente acaba acordando cedo, eu não consigo acordar depois das 8h30; depois tomo café, tento sempre fazer um treino de manhã, depois faço alguns cursos online, tento ler alguns livros, assistir alguma coisa, conversar com a família”, contou.
Para Gabriel, por mais que os atletas se esforcem, é muito difícil manter a mesma forma física treinando apenas dentro de casa.
“Olha, manter o ritmo e a condição física dentro de casa é praticamente impossível. Manter o mesmo ritmo que você tem dentro do clube. Porque ali você é acompanhado por profissionais, você tem outros atletas para te ajudar no treinamento, para aumentar o ritmo do treino – tem dia que você está com mais energia e puxa o treino, tem dia que é outro companheiro que faz isso”, explicou.
“O que pode ser feito a gente tenta fazer dentro de casa, manter um trabalho aeróbico, um trabalho de força e também de prevenção; a gente tenta fazer o máximo, mas não é a mesma coisa de estar treinando no dia a dia no clube”, contou o goleiro.
Reação dos jogadores
Por mais que Gabriel esteja em Lecce, cidade no sul da Itália que conta com menos infectados em relação ao norte, o coronavírus preocupa a todos. Até esta sexta-feira, 12 casos entre jogadores do Campeonato Italiano foram confirmados oficialmente.
“Acho que o time inteiro, todos os jogadores, entenderam a situação, que é muito delicada, que a gente precisa prevenir, pensar no próximo. Tem sido difícil para todos porque todo mundo está acostumado a estar sempre treinando, jogando, viajando, e ninguém está acostumado a ficar esse período todo dentro de casa, trancado, sem conseguir sair. Mas é um momento delicado, que todos nós entendemos a gravidade e estamos buscando fazer a nossa parte”, contou.
(Foto: Divulgação/Lecce)
À princípio, os treinos do Lecce estão marcados para retornar já na próxima segunda-feira, mas Gabriel acredita que a data será adiada mais uma vez.
“Sim, os treinos estão marcados para voltar segunda-feira, mas acho que essa é uma data estimativa porque tudo depende de como a situação do país vai avançar. Infelizmente, a situação ainda é bem crítica, então acredito que seja difícil. Eles estão acompanhando dia a dia, semana por semana, para entender o andamento da situação e ver quando a gente vai poder voltar aos treinamentos”, esclareceu.
Mensagem para os brasileiros
Por fim, o goleiro deixou uma mensagem para os brasileiros sobre o coronavírus. Mais de 651 casos e sete mortes foram confirmadas no país.
“Olha, a mensagem que eu gostaria de deixar para o povo brasileiro é que prevenir é a melhor coisa a ser feita no momento. É pensar no próximo. Infelizmente todos estão vendo a situação que a Itália está passando, que a Europa está passando, então o Brasil ainda tem essa oportunidade de estar bem no início e poder se prevenir, tomar todos os cuidados necessários para que não vire uma situação crítica, para a coisa não chegue a pontos tão lamentáveis como chegou aqui na Europa. Que cada um possa fazer sua parte, não é fácil, mas é o momento de deixar de lado o individualismo, mas pensar no próximo, pensar de forma coletiva no bem do país”, encerrou.