Ex-Corinthians, preparador do Shakhtar descreve tensão na Ucrânia e alívio por volta ao Brasil

Publicado em 1 mar 2022, às 22h05.

O preparador físico Luciano Rosa, ex-Corinthians e atualmente no Shakhtar Donetsk, era um dos brasileiros mantidos em hotel em Kiev, na capital da Ucrânia, durante a invasão russa ao país. Já no Brasil, Luciano deu entrevista ao programa Gazeta Esportiva, da TV Gazeta, e falou sobre os momentos de tensão vividos na última semana.

”Estou aliviado por estar aqui com a família e por ter conseguido sair da Ucrânia. A situação lá está muito difícil. É difícil explicar com palavras o que está acontecendo, só mesmo vivenciando. Ainda estou angustiado, porque deixamos para trás alguns brasileiros que não saíram de lá. E também os amigos ucranianos que estão lá e não podem sair”, contou.

Entre o início do conflito até sua chegada ao Brasil, Luciano e alguns outros atletas brasileiros que atuam na Ucrânia se protegeram dos ataques russos em um bunker de um hotel, no centro de Kiev. Crente de que a embaixada brasileira já tinha um plano de saída do país, o preparador físico lembrou sua frustração.

”A gente ficou no bunker do hotel que concentra o Shakhtar quando joga em Kiev. Logo quando fomos avisados que Kiev estava sendo bombardeada e a Ucrânia estava sendo invadida, o clube mandou uma mensagem pedindo para a gente pegar só coisas pequenas ir para o hotel. Nós achávamos que de lá teria um plano de saída, mas, na verdade, eles pediram para ir para esse hotel porque tem um bunker lá embaixo. A gente ficou lá esperando a embaixada tomar uma decisão. Entrávamos em contato com eles e não tinha um plano, não tinha nada. O tempo foi passando, a gente foi ficando lá e a situação foi piorando. O hotel era na região central, justamente onde eram os alvos dos ataques russos”, lembrou.

Luciano Rosa contou que, mesmo antes de a guerra começar, já se falava em deixar a Ucrânia, tendo em vista o clima de tensão que se instaurava entre o país e a Rússia. Porém, poucos acreditavam que a invasão de fato ocorreria. Por isso, acabaram ficando.

”Teve uma reunião entre jogadores e direção do clube e foram colocadas todas as possibilidades com guerra e sem guerra. Eles falaram que tinham um plano caso houvesse uma invasão. Que demoraria para chegar a Kiev e que daria tempo suficiente até a saída do país. Por outro lado, nenhum ucraniano acreditava que ia ter invasão. Para eles, se tivesse alguma invasão, seria nas regiões já ocupadas pela Rússia, e não em todo país. A embaixada brasileira sempre falava para manter a calma, que não tinha risco de invasão”, disse.

Luciano conta que ele e seus companheiros no bunker não saíram à rua durante os conflitos. Apenas ouviam os tiros e explosões de dentro do hotel, sem saber o que de fato ocorria do lado de fora.

”No tempo em que ficamos nesse bunker, foi uma situação bastante difícil para nós. Ficar muito tempo lá dentro nessa situação, escutar as bombas cada vez mais perto, os tiros. A gente mais ouviu do que viu (a guerra). A situação era tensa, não sabíamos o que estava acontecendo lá, e, ao mesmo tempo, queríamos sair dali”, contou.

Segundo Luciano, companheiros de outros países logo foram retirados da Ucrânia por suas embaixadas, mas os brasileiros não. A solução encontrada para a fuga veio do presidente da Uefa, Aleksander Ceferin.

”A gente viu a embaixada de Portugal levar os portugueses embora no mesmo dia que começou o combate. A de Israel fez a mesma coisa. E a gente acreditava que também teríamos uma solução. Ela foi dada pela Uefa. O presidente da Uefa entrou em contato com o Júnior Moraes (jogador do Shakhtar brasileiro naturalizado ucraniano) e deu essa solução. Deu o suporte de saída do hotel para a estação, deu suporte, após a estação, para a Moldávia até chagar na Romênia”, lembrou Luciano.